Um dos raros cartazes do PS pós legalidade em 1974 |
Tente recuar ao tempo em que o Partido Socialista - criado na década de 70 por umas dezenas de intelectuais na República Federal da Alemanha - se apresentava em 1974 e queria ser um verdadeiro partido operário, de massas, como eram os partidos sociais-democratas e socialistas europeus que, por acaso, desconfiavam - como acontecia com Willy Brandt - precisamente da ausência desse elemento operário no PS.
Apesar de tudo, pense que querer ser já é meio caminho andado para o ser. E tente imaginar que medidas tomaria um partido socialista operário nesta época de pandemia e de pré-recessão. Pense nos contornos do Lay-off aprovado e rectificado.
E depois de pensar, já lá iremos.
[a fotografia do cartaz foi enviado hoje pela Associação Ephemera com o seguinte texto: "Este é um dos cartazes mais raros dos primeiros anos do PS na legalidade. O PS, saído da clandestinidade depois do 25 de Abril, tinha uma linguagem mais “esquerdista” do que o próprio PCP. Era o tempo do “PS Partido Marxista” (também há um cartaz), da Internacional hino do PS (há um disco), e do acordo de Frente Popular que tinha assinado no exílio com o PCP, e só começou a mudar em 1975, com o conflito sobre a unicidade sindical e com o PREC. Esta representação do trabalho é puramente simbólica usando uma imagem já completamente anacrónica, com origem na iconografia laboral dos anos 30 e 40."]
Anacrónica, mas ainda assim poderosa.
5 comentários:
Antes de ler o final do texto pensei:
"Qual teria sido a gaveta onde o João Ramos de Almeida encontrou este cartaz."
Este cartaz é uma relíquia, quem o encontrou teve que passar os desafios da catacumba que se encontra debaixo da sede do Partido Socialista, tal como nas aventuras do Indiana Jones!
O valor da imagem é intemporal e mantém-se poderosa.
No momento em que o PS a usou ficou deslocada (a posição do PS).
Agora mais deslocada está, a posição do PS. A escolha de P.S. Vieira não foi por acaso. A deslocação é a contingência de uma escolha, da atracção que o PS tem por uma certa economia política que desgraça a maioria das pessoas.
Alguns poucos preferem a imagem dos colarinhos gomados a perfumar os ministérios mas, esta imagem é antepassada das imagens da actualidade da maioria que tem de vender o seu trabalho para financiar a existência, a sua, e terrivelmente a dos engomados.
Se o PS não fosse um Partido inter-classista, João Ramos de Almeida, nunca teria ganho uma eleição em Portugal. É o que acontece aos Partidos Populares, não se constroem Maiorias de Governo com uma minoria de votos. O único Partido de classe em Portugal é o PCP e anda pelas ruas da amargura (mesmo o BE é um Partido inter-classista).
Os Partidos inter-classistas são coligações de votantes e por isso os seus programas refletem as aspirações dessas pessoas todas. Não, o PS não anda a enganar os seus votantes, porque se andasse já teriam há muito ido votar noutros (a não ser que pense que somos todos estúpidos, o que não me espantaria)...
Não sonhem com uma Frente Popular, porque se o PS nisso alinhasse, a Esquerda nunca mais ganharia uma eleição que fosse em Portugal (olhe-se para o triste estado do Labour e sabe, as sondagens mostram que à frente do Brexit o principal problema era mesmo o seu líder e a viabilidade das suas políticas).
Por isso, a imagem não é nada poderosa. Além de anacrónica, é uma tolice.
Voltamos sempre ao mesmo!
Façam a vossa Revolução e acabem com o capitalismo, mas poupem-me à choradeira de quererem um capitalismo com emprego e sem empresas e sem patrões e sem capitalistas.
Agonia-me essa cena patética!
O Jaime Santos perdoar-me-á a franqueza, mas não sendo estúpido, como seguramente não é, então devia ser mais crítico com os seus próprios pontos de vista. Não vou debruçar-me sobre essa história dos partidos inter-classistas, porque isso é matéria para várias tese de doutoramento. Vou ficar por uma coisa bem mais simples que é o voto enquanto expressão lúcida de vontade popular, desconsiderados todos os mecanismo de produção político-ideológica que lhe estão subjacentes. É que se ainda não foram escritas as tais teses sobre os partidos inter-classistas, sobre eleições e democracia já há bibliotecas inteiras. Há várias formas de demonstrar o absurdo e a falta de fundamentos da sua argumentação, mas para simplificar razões socorrer-me-ia talvez de uma explicação empírica, recente e nacional. Em 2015, Cavaco Silva fez piruetas e acrobacias para negar a posse a um governo liderado pelo PS mas suportado em apoios parlamentares do BE e do PCP (partido este que, de resto e como é facto incontestável, promoveu, primeiro isolado e depois timidamente seguido pelo BE e pelo PS, esse processo político). Cavaco recusava a posse porque na sua mesquinha concepção e exercício do poder o PSD tinha "ganho as eleições". Apenas algumas semanas depois, já com o novo governo em funções e de acordo com todas as sucessivas sondagens publicadas (e foram muitas!) à medida que a guerrilha político-institucional dos primeiros dias era desfeita (nomeadamente na comunicação social) o apoio à solução que ficará para a história como da geringonça, colhia um incontestável apoio popular, bem superior ao do putativo vencedor das eleições anteriores. Foi de resto o caminho aí aplainado que deu depois a vitória ao PS em autárquicas e europeias, do mesmo modo que a promoção do BE o guindou aos resultados que são conhecidos. Se não consegue ver nisto qualquer relação entre as condições materiais de produção numa determinada sociedade e o resultados em eleições nas chamadas democracias liberais, então, meu caro, tem mesmo que se esforçar um bocadinho mais.
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