Somos nós os trabalhadores, somos nós que produzimos a riqueza, somos nós que trabalhamos todos os dias, temos de ter direito a uma habitação digna para todos.
sábado, 30 de setembro de 2023
Somos nós
Somos nós os trabalhadores, somos nós que produzimos a riqueza, somos nós que trabalhamos todos os dias, temos de ter direito a uma habitação digna para todos.
sexta-feira, 29 de setembro de 2023
Não aprendem
Portugal está mesmo próximo do pleno-emprego?
Esta semana, numa notícia do Público, discutem-se os motivos pelos quais a taxa de desemprego tem permanecido relativamente baixa na economia portuguesa após a pandemia. Embora já se tenha registado uma ligeira subida do desemprego, a verdade é que a taxa de desemprego se tem mantido à volta dos 6% nos últimos anos.
Os economistas ouvidos pelo Público - Pedro Martins, ex-secretário de Estado do governo de Passos Coelho, e João Cerejeira, que tem participado em eventos da Iniciativa Liberal - dizem que Portugal poderá estar próximo de uma situação de pleno-emprego, em que o desemprego atinge o seu nível mais baixo: a "taxa de desemprego natural", um conceito que é popular entre a maioria dos economistas. No entanto, apesar de ser sempre referido como algo autoevidente, o conceito tem muito pouca sustentação teórica e ainda menos empírica. E tem profundos impactos na nossa vida coletiva.
A teoria, originalmente desenvolvida por Milton Friedman, diz-nos que uma economia possui uma taxa de desemprego que depende das suas condições estruturais e da qual não é possível baixar sem provocar inflação. O motivo é o de que a taxa natural é o único ponto em que se compatibilizam as expetativas de trabalhadores e empresários sobre o seu rendimento real. Um desemprego mais baixo daria mais poder ao trabalho e levaria a maiores exigências salariais, levando as empresas a aumentar preços. Com a subida generalizada de preços, os trabalhadores exigiriam novos aumentos, obrigando as empresas a nova ronda de aumentos dos preços, e assim sucessivamente: o risco seria o de se gerar uma espiral inflacionista (de que temos ouvido falar bastante ultimamente).
A teoria diz-nos que, para baixar o desemprego evitando a inflação, os governos só podem remover "barreiras" no mercado de trabalho ou reduzir as expetativas salariais dos trabalhadores: ou seja, reduzir o seu poder negocial, a proteção no emprego, subsídio de desemprego, etc. É uma ideia que marcou o programa de ajustamento da Troika e que continua a estar presente nas recomendações do FMI a Portugal.
O principal problema deste raciocínio é o de olhar para os salários apenas como um custo para as empresas, sem ter em conta que estes representam, também, poder de compra e estímulo ao investimento. Como o investimento depende sobretudo da procura que as empresas esperam ter, um aumento da procura - por via de uma redução do desemprego e/ou de aumentos salariais - pode estimular o investimento e gerar ganhos de produtividade. Ou seja: a redução do desemprego e a subida dos salários não provocam necessariamente um surto inflacionista. Além disso, a teoria tem outros problemas, como o facto de assumir que as margens das empresas se mantêm naturalmente constantes, omitindo o conflito distributivo (uma crítica teórica mais exaustiva pode ser encontrada aqui). Em resumo, a teoria é tudo menos neutra.quinta-feira, 28 de setembro de 2023
O imobiliário na sua bolha
O Portugal Real Estate Summit é considerado o «o maior evento de investimento imobiliário da Península Ibérica» e realizou-se no Estoril na semana passada. Numa das sessões, foi referido que «Portugal vai continuar a ser um destino atrativo para os investidores internacionais» e que, apesar da diminuição das vendas e de o ritmo de crescimento dos preços ter abrandado, «o mercado residencial está a registar uma evolução positiva este ano, (...) com as pré-vendas a manterem-se muito fortes (acima de 50%)». Sendo ainda salientado, entre outras considerações, o «impacto extremamente positivo» no mercado português de medidas como a «criação dos Vistos Gold».
É certo que também foram sinalizados fatores críticos, tidos como impeditivos de um investimento ainda maior no mercado português, com destaque para a «inconstância nos prazos e licenciamentos», a «incerteza que existe na lei do arrendamento» ou a questão dos impostos. Matérias que, no seu conjunto, são apontadas como «os principais desafios para quem investe». Seja como for, garante-se, «os investidores estão de "olhos postos em Portugal"».
O imobiliário tem hoje no nosso país uma importância muito maior que há uma década atrás. Bastará referir, por exemplo, que se trata da atividade económica com maior aumento em termos de volume de emprego entre 2008 e 2022 (+88%), passando, segundo a Pordata, de cerca de 27 mil para 50 mil trabalhadores neste período. E é natural, portanto, que as respetivas empresas e seus profissionais encarem com bons olhos os elevados preços da habitação e o investimento estrangeiro que os impulsiona, por mais que os mesmos dificultem o acesso das famílias à habitação.
O curioso é constatar um alinhamento perfeito entre as reivindicações do setor e as propostas da Iniciativa Liberal (IL) em matéria de política de habitação. Não é por acaso, de facto, que a IL insiste, de forma particularmente enfática, na tese simplista da «falta de casas», rejeitando por completo o impacto das novas formas de procura, especulativas, na atual crise de habitação. É que enquanto puserem todas as fichas nessa tese, a especulação imobiliária internacional e os investimentos turísticos em Alojamento Local nas grandes cidades estarão a salvo.
quarta-feira, 27 de setembro de 2023
30 de setembro: Casas para Viver
Realizam-se no próximo sábado, 30 de setembro, as manifestações pela Habitação, convocadas pela Plataforma Casa Para Viver, que pretende assim, depois da manifestação de 1 de abril e da concentração de 22 de junho, «voltar a chamar a atenção» para esta questão e mostrar que as medidas do Governo são «uma mão cheia de nada».
As manifestações terão lugar em diversas localidades, de norte a sul do país, de Braga a Portimão, de Lisboa a Viseu, de Aveiro à Covilhã. do Barreiro a Faro. Para divulgar a iniciativa, a associação Chão das Lutas expôs no passado domingo vários cartazes no Largo do Intendente, em Lisboa, na sequência do pedido feito a diversos ilustradores, como forma de mobilizar mais pessoas para a causa.
O desemprego nunca é natural
Esta manchete do Público de ontem torna visível como a hegemonia neoliberal perdura. Infelizmente, aceita-se aí o conceito de “taxa natural de desemprego”, originalmente forjado por Milton Friedman. É preciso lembrar que pleno emprego é quando quem quer trabalhar tem emprego. Estamos longe do pleno emprego e logo do mais baixo que é desejável e possível.
7º Encontro Anual de Economia Política - Chamada de comunicações
"A Associação Portuguesa de Economia Política (EcPol) anuncia a chamada de comunicações para o 7º Encontro Anual de Economia Política a ter lugar no ISEG, Lisboa, nos dias 25 a 27 de janeiro de 2024, com o tema Economia Política e Democracia: Reimaginar o mundo nos 50 anos do 25 de Abril.
O Encontro visa juntar todos/as aqueles/as que, a partir das mais diversas áreas disciplinares e abordagens, entendem os fenómenos económicos como sendo eminentemente configurados por fatores de ordem social, política, jurídica, cultural, tecnológica e ecológica e devendo ser estudados nos seus contextos institucionais, históricos e geográficos."
A chamada de comunicações está aberta até 10 de outubro e estão todos/as convidados/as. Mais informações aqui.
terça-feira, 26 de setembro de 2023
Amanhã na FEUC, em Coimbra
Promovida pelo núcleo de docentes de História Económica e Social da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC) e pela Associação Portuguesa de Economia Política (EcPol), realiza-se amanhã, naquela faculdade (Sala Keynes), a partir das 9h30, a conferência «A economia portuguesa e a crise de 1973».
Historiadores, economistas e sociólogos vão assim debater «os principais aspetos do impacto da crise petrolífera internacional na economia portuguesa, o final do marcelismo e os impasses da modernização do país nas vésperas da Revolução de Abril». A entrada é livre, apareçam.
Não há lenha que detenha o FMI
No início deste ano, o Fundo Monetário Internacional (FMI) publicou um relatório em que apresentava uma conclusão surpreendente: "em média, as estratégias de consolidação orçamental não reduzem o rácio da dívida pública sobre o PIB". A conclusão não surpreende propriamente pelo conteúdo, mas sim pelo facto de ser enunciada pela instituição que foi a campeã da austeridade ao longo da última década. No relatório, o fundo reconhecia ainda que o fracasso dos programas de austeridade neste domínio se devia, em parte, ao facto de "a consolidação orçamental reduzir o crescimento" da economia.
Além de ser um entrave ao desenvolvimento económico, a austeridade tem também profundos impactos distributivos: um estudo de quatro investigadores da Universidade de Boston, publicado em 2021, avaliou o efeito dos programas de ajustamento do FMI em 79 países em desenvolvimento ao longo das últimas duas décadas e concluiu que a imposição de medidas de austeridade mais rígidas está associada ao aumento das desigualdades e da pobreza. De acordo com este estudo, os programas de austeridade tendem a concentrar o rendimento nacional nos 10% do topo, ao passo que todos os outros escalões saem a perder.
No entanto, muito pouco parece ter mudado. Uma análise da Human Rights Watch (HRW), que avaliou os empréstimos concedidos pelo FMI a 38 países desde o início da pandemia e as condições associadas aos mesmos, conclui que "apesar das suas promessas de aprender com os erros do passado, o FMI está a promover políticas que têm um longo historial de exacerbação da pobreza, de desigualdade e de enfraquecimento de direitos."
A esmagadora maioria dos empréstimos concedidos tem como condição explícita o "aperto do cinto" por parte dos Estados que os recebem. Mais de metade prevê o aumento de impostos ou a imposição de limites ou cortes aos salários dos trabalhadores da administração pública, minando também a qualidade dos serviços públicos nestes países. Segundo a HRW, as promessas feitas pelo FMI após a pandemia sobre o seu compromisso com a mitigação dos impactos perversos da austeridade "falharam ou foram ineficazes", colocando em causa os "direitos económicos, sociais e culturais" das populações.
A maioria dos programas do FMI foi dirigida a países do Sul global, que foram particularmente afetados pela pandemia. No entanto, os princípios são aplicados de forma generalizada: para Portugal, por exemplo, um dos últimos relatórios recomenda que, apesar da descida significativa do rácio da dívida pública em apenas dois anos, o país continue a restringir a despesa pública pelo menos até... 2028. Apesar da retórica de mudança, o FMI continua a insistir numa política que sabe que não resulta em reduções da dívida, mas que é bastante eficaz a transferir rendimentos da base para o topo.
domingo, 24 de setembro de 2023
Factos sólidos e rigorosos há muitos, Dr. Gonçalo Matias
Uma premissa que lhe permite afirmar, logo de seguida, que «a procura de habitação por estrangeiros tem um efeito diminuto», sugerindo que «a sua limitação não terá grande efeito do ponto de vista da redução da procura», podendo, isso sim, «prejudicar o país no plano reputacional e de atratividade de investimento estrangeiro, tão necessário ao nosso desenvolvimento económico».
Talvez valesse por isso a pena, de facto, que o presidente da FFMS tomasse boa nota de um relatório recente do Banco de Portugal, citado neste artigo de José Soeiro, que conclui que, «nos últimos 10 anos, o aumento significativo da participação de compradores não residentes marcou o mercado imobiliário residencial em Portugal». Ou seja, confirmando o que há muito se sabe mas que, por razões diversas, certos setores teimam em não reconhecer: ocorreu uma mudança profunda no mercado de habitação, indissociável do investimento imobiliário estrangeiro.
Os mais recentes dados do INE, aliás, confirmam isso mesmo. Não só a percentagem de compradores estrangeiros tem vindo a subir em número e em montante (de 8,4 para 12,3% e de 4,5 para 7,2%, entre 2021 e 2023), como o valor médio das transações por compradores estrangeiros tem igualmente evoluído em crescendo (sobretudo a partir de 2021), superando sempre, e de forma expressiva, os valores registados no caso de compradores nacionais.
Não é um exclusivo nacional. O investimento imobiliário estrangeiro tem tido uma forte incidência em países do sul da Europa (nomeadamente Espanha, Itália e Portugal), sendo que «o mercado português foi o que registou maior aumento» em 2022, segundo a Savills, considerando a consultora que «os fundamentos do mercado continuarão fortes e a atrair investidores».
Dir-se-á que, ainda assim, os valores de investimento imobiliário internacional são pouco expressivos. E esse é um segundo problema: ao desvalorizar o seu impacto na subida dos preços, ignora-se a incidência territorial deste investimento (como evidencia o caso do Algarve, onde a procura disparou em 2023). E esquece-se que o investimento imobiliário estrangeiro é apenas uma parte da atual procura especulativa de habitação, que inclui o impacto do investimento turístico (e a consequente supressão de casas para fins residenciais), bem como o redireccionamento das poupanças e rendimentos das famílias para o setor, sobretudo a partir de 2013.
Mas claro, é bem mais fácil, e sobretudo conveniente, resumir a questão à fórmula simplista da «falta de casas», ignorando que a variação do número de famílias e de alojamentos, na última década, não justifica a subida vertiginosa dos preços. Refere o Presidente da FFMS, no seu artigo, que «o importante debate sobre habitação (...) deve assentar em factos sólidos e rigorosos». E tem razão. Só que factos sólidos e rigorosos há muitos. E apenas considerando a sua diversidade, e o necessário pluralismo de perspetivas, se pode garantir um verdadeiro debate sobre a questão.
sábado, 23 de setembro de 2023
O BCE causa dor na economia
sexta-feira, 22 de setembro de 2023
É isto que passa por investigação no BCE?
quinta-feira, 21 de setembro de 2023
A exigência dos proprietários faz sentido?
Entre protestos e ameaças veladas, tem-se assistido à reação de associações representativas dos proprietários a medidas para o setor. Mais recentemente, a propósito da atualização das rendas para 2024, os senhorios defendem a simples aplicação da lei que indexa o aumento à inflação registada (6,94%, apurados pelo INE em agosto). Esta oposição à limitação da atualização das rendas não é nova. A questão colocou-se igualmente para as rendas de 2023, tendo o governo fixado um teto de 2% (em vez do valor da variação média do índice de preços do INE, de 5,43%).
Alegando estar em causa um novo «congelamento» das rendas (e não a limitação da sua atualização), a Associação Lisbonense de Proprietários (ALP) considera que o resultado da não aplicação da lei será «dramático», avisando que a maior parte deles «deixarão de colocar as casas no mercado». Por sua vez, António Frias Marques, da Associação Nacional de Proprietários (ANP), chegou mesmo a sugerir que o teto de 2% levou a que as rendas aumentassem «exponencialmente» e que muitos senhorios, «assim que puderam, se opuseram à renovação dos contratos».
A estranheza que estas posições suscitam incide, desde logo, na ideia de que os senhorios deviam ser poupados ao impacto da inflação, que recai sobre os cidadãos e a economia em geral. Esquecendo, além disso, que a subida das rendas nos últimos anos superou a dos salários, não estando por isso em causa - com a limitação do seu aumento - uma perda de rendimento que justifique retirar (ou não colocar) casas do mercado. De facto, a fazer fé na Numbeo, e deduzindo contribuições e impostos, a subida das rendas permitiu aos senhorios de Lisboa um proveito extra de 5,2 mil euros entre 2015 e 2022, tendo os salários registado um acréscimo de apenas 2,2 mil euros, no mesmo período.
Talvez o cerne da questão seja mesmo uma certa habituação à quase inexistência de mecanismos de regulação favoráveis aos inquilinos, num país onde o Estado, historicamente, nunca teve uma política pública de habitação digna desse nome, apesar do que nos querem fazer crer os jogos de ilusionismo das iniciativas liberais.
Tudo começou no cavaquismo
quarta-feira, 20 de setembro de 2023
Notas sobre a reforma da governação na UE
terça-feira, 19 de setembro de 2023
Centeno no cortejo fúnebre
Fomos ontem informados do seguinte: “Centeno diz que inflação é mais injusta do que medidas para a combater”. Como membro do cortejo fúnebre da economia portuguesa, Centeno diz o que for preciso para tentar legitimar o poder de quem manda no Banco que não é de Portugal.
segunda-feira, 18 de setembro de 2023
Para além do pacto estúpido
Após décadas de absurdo económico e de imposições injustas e contraproducentes, as regras de governação económica vão finalmente ser alteradas. O que não está claro é se as novas regras serão mais do mesmo, pior do mesmo ou alguma coisa realmente diferente. Este Sábado, estarei a organizar uma conferência sobre Governação Económica e sobre algumas das mudanças necessárias para que as regras europeias, no mínimo, não atrapalhem.
Em cima da mesa estarão a discussão sobre (1) o desenho de estratégias orçamentais que não falhem em todos os objetivos, como as que tivemos durante a troika, (2) uma verdadeira proteção do investimento público e do seu papel estratégico e (3) a necessária centralidade das instituições democráticas nacionais nas escolhas determinantes para o futuro do nosso país. E dos outros. Os painéis são plurais e qualificados. O debate é garantido.
A entrada é livre e a inscrição é aqui.
A emigração dos jovens e as políticas responsáveis
domingo, 17 de setembro de 2023
Antiliberalismo, antifascismo
Esta semana ficámos a saber que os liberais vão votar a favor da moção de censura dos fascistas do Chega. É a enésima confirmação - liberais até dizer chega:
sexta-feira, 15 de setembro de 2023
Sem tugir, nem mugir
Teoria prática
Pedalar é preciso
De acordo com os dados recentemente divulgados pelo Eurostat, Portugal continua a ser o maior produtor de bicicletas da União Europeia, com cerca de 2,7 milhões unidades fabricadas no ano passado, contribuindo para as exportações com um valor de 800M€. À escala europeia, o nosso país detém assim uma quota de produção a rondar os 18%, valor que representa um acréscimo de 8 pontos percentuais face à quota registada em 2012. De resto, a tendência na UE é de crescimento do setor desde 2017, passando-se de cerca de 10 milhões de bicicletas produzidas nesse ano para um valor próximo dos 15 milhões, em 2022 (cerca de +48%).
Face aos enormes desafios colocados pelas alterações climáticas, mas também pelo que estes dados revelam sobre as possibilidades de revitalização do nosso tecido verdadeiramente produtivo, esta é uma muito boa notícia. Como lembrava neste blogue há uns meses a Vera Ferreira, citando Iván Illich, «o socialismo exige, para a realização dos seus ideais, um certo nível de energia: não pode vir a pé, nem pode vir de carro, mas somente à velocidade da bicicleta». Pedalemos pois, que pedalar é preciso.
quinta-feira, 14 de setembro de 2023
Introdução à economia política liberal
quarta-feira, 13 de setembro de 2023
Ilusionismos das iniciativas liberais
Os resultados que estão à vista são, evidentemente - e nisso é fácil estar de acordo com o presidente da IL - uma profunda crise de habitação, que afeta não só Portugal mas também a generalidade dos países europeus. A lata suprema da IL é, contudo, achar que a crise resulta do facto de o mercado ter sido «muito condicionado» pelo Estado «nos últimos anos e nas últimas décadas».
Do que a IL e Rui Rocha convenientemente se esquecem é que, por essa Europa fora, não só a tendência nas últimas décadas foi de alienação do parque habitacional público, como o peso relativo da despesa pública na promoção direta de alojamentos é muito inferior à despesa em Saúde, Educação e Proteção Social. De facto, o Eurostat mostra que se entre 1995 e 2021 a despesa em Habitação é de apenas 2%, as percentagens de despesa na Saúde, Educação e Proteção Social rondam, respetivamente, 14%, 10% e 40% do total. Estado a mais na habitação, a sério?
Quanto a Portugal, e em linha com os países do sul europeu (com Estados Sociais tardiamente criados), não só a oferta pública de habitação é comparativamente exígua (apenas 2% do total de alojamentos), como os níveis de regulação do arrendamento (e do mercado de compra e venda, já agora), são praticamente inexistentes.
Mais: se há momento na história da política habitacional do nosso país em que a despesa pública global no setor foi mais expressiva, é justamente o período de apoios públicos massivos à aquisição de casa própria, que não são outra coisa que intervir, subsidiando, através dos privados. Nada que impeça os nossos liberais, contudo, de falar em «falta de confiança» por parte do mercado, alegadamente «muito condicionado» pelo Estado. É preciso ter lata.
De resto, as propostas da IL são apenas, portanto, mais do mesmo. A crença no mercado como mecanismo eficaz de provisão (e o Estado que apoie e não atrapalhe), com os «resultados que estão à vista». O pacote da IL é uma espécie de dose requentada das políticas essenciais seguidas nas últimas décadas e que nos trouxeram até aqui. A uma crise a que se somam os desafios colocados pelas novas procuras especulativas (de um investimento estrangeiro potencialmente insaciável à subtração de habitações para fins turísticos), e que a IL não quer enfrentar, preferindo tentar criar a ilusão de que o problema é a regulação pelo Estado e não um mercado a funcionar em roda livre.
terça-feira, 12 de setembro de 2023
As iniciativas liberais até dizer chega matam
O livro Pinochet’s Economists de Juan Gabriel Valdés é a história intelectual da formação da economia política neoliberal no Chile, do nascimento dos Chicago Boys, da formação doutoral bem financiada durante décadas no Departamento de Economia da Universidade de Chicago à transferência de homens armados com essa formação para o bem conectado Departamento de Economia da Pontifícia Universidade Católica do Chile.
segunda-feira, 11 de setembro de 2023
Vivem
domingo, 10 de setembro de 2023
sábado, 9 de setembro de 2023
Ativista ou militante?
Ouço e leio as pessoas referirem-se umas às outras como ativistas em alguns círculos. E nem as militantes mortas estão a salvo: a militante Maria Lamas, por exemplo, também foi “ativista”, isto a fazer fé na desmemoriada introdução da importante reedição de As mulheres do meu do país pelo Público.
sexta-feira, 8 de setembro de 2023
Centeno, encruzilhadas e paradoxos
Ao mesmo tempo que afirma que o “peso da despesa permanente na economia continua acima de 2019, mas deve reduzir-se”, Centeno, reconhecendo que estamos numa “encruzilhada [que] traz maior aperto financeiro a famílias e empresas”, postula que a mitigação de riscos passa pelo “reforço da poupança e a redução do endividamento.”
Neste blogue já tratámos este paradoxo vezes sem conta. Aqui, ali e acolá, por exemplo.
Numa economia monetária de produção, como é o capitalismo, as receitas de uns são as despesas dos outros; superávites e défices também, logicamente. Assim sendo, o corolário é que o somatório dos saldos financeiros dos setores privado, setor público e externo (invertido) é sempre igual a zero. Sempre.
Se a poupança financeira do setor privado cresceu significativamente em 2009, num ano em que o país manteve grande parte do enorme défice externo do ano anterior, é porque a poupança do setor público teve uma evolução simétrica e decresceu quase no mesmo valor.
Se a poupança financeira do setor privado cresceu significativamente em 2020, num ano de saldo quase nulo do setor externo, é porque a poupança do setor público teve uma evolução simétrica, de sentido contrário.
Se a poupança financeira do setor privado caiu abruptamente em 2022, num ano de saldo externo só ligeiramente negativo, é porque a poupança do setor público aumentou praticamente na mesma proporção.
Se em 2023, na ausência de um milagre exportador, o Estado voltar a diminuir a sua despesa liquida, de facto o que está a fazer é diminuir a poupança do setor privado doméstico, setor este altamente endividado e confrontado com um acréscimo muito significativo da sua despesa com juros.
Isto a menos que o setor privado se recuse a aceitar a degradação do seu saldo e, reduzindo a sua despesa não financeira, provoque uma recessão.
De facto, não parece demais repeti-lo, se um país mantiver um saldo nulo nas contas externas, como obriga uma política não mercantilista que vise, simultaneamente, salvaguardar a soberania nacional, o setor privado só terá mais receitas que despesas, ou seja, só terá superávite, se o setor público incorrer em défice.
Todo o país é composto de mudança
quarta-feira, 6 de setembro de 2023
Notas parlamentares - O poder dos “verdadeiramente social-democratas”
Ana Mendes Godinho, sobre as pensões. Será capaz de dizer o mesmo para os trabalhadores? |
“No 2º trimestre deste ano, Portugal alcançou o maior número de sempre de trabalhadores - 4,979 milhões. Para além do emprego criado, o desemprego continua a descer. Entre o 1º e 2º trimestre deste ano, temos menos 55 mil cidadãos no desemprego. A coesão social do emprego é um elemento central para um partido de esquerda. E é por isso que, desde 2015, com estas políticas, temos menos 700 mil portugueses em risco de pobreza e exclusão social. Só uma política de esquerda de um partido verdadeiramente social-democrata que tem as pessoas no centro pode prosseguir estas políticas e alcançar estes resultados.” (Brilhante Dias, líder da bancada parlamentar do Partido Socialista, declaração política hoje no Parlamento)Os tempos vão mesmo muito difíceis. Daqui a pouco, estaremos a comemorar os 50 anos do 25 de Abril, daquele dia em tudo parecia ser possível. A sociedade era tão desigual que, nessa altura, o Partido Socialista - segundo a sua Declarações de Princípios de Dezembro de 1974 - tinha opções claras:
Investimento das famílias e novas procuras de habitação
De facto, o valor de património dos agregados em imóveis tem vindo a aumentar a uma taxa média anual de 6% desde 2017, acima dos cerca de 4% de aumento no caso dos produtos financeiros. Se estabelecermos 2015 como base de referência (2015=100), esta diferença crescente torna-se mais clara, com o investimento das famílias em imóveis a atingir em 2022 um valor de 159,2, situando-se a aplicação de recursos em património financeiro em cerca de 124,1.
O aumento do valor do património em habitação não deixa de refletir, evidentemente, a exuberância dos preços nos últimos anos, que ajuda a explicar, ao mesmo tempo, a reorientação das opções de investimento para o setor, dada a sua maior atratividade, em termos comparativos, face aos investimentos financeiros. Tal como não são alheias a este processo as baixas taxas de juro registadas até há pouco tempo, que tornam estes investimentos mais apelativos.
Seja como for, o importante é considerar que, a par do investimento imobiliário estrangeiro e dos impactos da intensificação do turismo na subtração de oferta residencial, se está também aqui perante um processo indissociável das dinâmicas especulativas que marcam hoje o setor e que se encontram na génese da grave crise de habitação que o nosso país, tal como a generalidade dos países europeus, está a atravessar.