Nem todos os economistas neoclássicos são neoliberais (Stiglitz, por exemplo) e nem todos os economistas neoliberais são neoclássicos (Hayek, por exemplo). No entanto, a economia neoclássica tem um forte viés de mercado e é responsável pela popularização do infame homo economicus.
Na sua critica aos efeitos comportamentais e morais da ortodoxia económica, Jonathan Aldred, professor da Universidade de Cambridge e estudioso da relação entre ética e economia, prefere deixar de lado o termo neoliberalismo, supostamente porque não é claro. Discordo totalmente: é tão claro como qualquer outro inevitável e contestado ismo.
Com excepção desta importante questão, que não é só conceptual, o livro de Aldred é uma excelente introdução aos custos de um certo modo, tornado convencional, de pensar a economia e a ação humana e de desenhar instituições e avaliações com base em pressupostos comportamentais irrealistas e eticamente perversos. Assim se gera desconfiança social, para a qual contribui o aumento das desigualdades económicas, ou se erodem as virtudes cívicas de que a própria economia substantiva sempre carece. Sim, uma “educação” na economia convencional torna as pessoas menos cooperativas e o seu poder deseducativo gera uma sociedade menos cooperativa.
Em 2009, quando escrevia no Jornal de Negócios, chamei a atenção para a responsabilidade de crenças económicas na crise financeira então em curso: É uma das ironias da história económica que a acção de muitos economistas académicos convencionais tenha sido parcialmente responsável pelo retorno dos padrões de instabilidade que tornaram cada vez mais pertinente a teoria económica crítica, que sobreviveu nas margens da disciplina. É por isso preciso trazê-la para o centro do ensino e do debate sobre as reformas económicas. Quem tem medo do pluralismo?
Catorze anos depois, tudo continua demasiado como dantes na formação de base do economista e também na forma como a economia é ensinada, por exemplo, a juristas. O que vale é que, cada vez mais, outros cientistas sociais se interessam pela economia substantiva e há economistas que resistem, avançando com análises realistas e propostas que dariam os toques de política com impactos estratégicos. E das desigualdades cavadas às alterações climáticas gritantes, há cada vez mais razões para dizer que os reis económicos vão nus.
Uma das modestas funções deste blogue sempre foi a de contribuir à sua maneira para que se perca o temor em relação a uma disciplina dominada por quem pretende perpetuar uma economia onde o medo está concentrado em baixo, mesmo que à custa de “fraudes inocentes” e com custos sociais crescentes.
E, sim, isto também implica combates pela história do pensamento económico, de onde a melancolia talvez não esteja ausente. É que já houve um tempo com maior pluralismo intelectual e institucional.
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