terça-feira, 30 de setembro de 2008
Visão da crise financeira II
A crise como oportunidade
Na Europa, como propôs há já algum tempo Stuart Holland, um economista de esquerda, a União Europeia deve poder emitir «euro-obrigações», como parte de uma estratégia europeia coordenada de investimento público. Se temos moeda única e mercados integrados, temos de ter um orçamento federal com peso e dívida pública europeia. Para não falar de um sistema fiscal e de mecanismos públicos de controlo dos mercados financeiros comuns. E de um banco Central com outro mandato. O tempo do Estado mínimo europeu tem de acabar. Precisamos de muito mais planeamento e de coordenação a esta escala. Do desenvolvimento de tecnologias amigas do ambiente, ao reforço das infra-estruturas de transporte ferroviário, passando pelo combate à pobreza e às cavadas assimetrias regionais, há muitos projectos de curto, médio e longo prazo para desenvolver. Políticas públicas europeias para combater a crise. É preciso pensar nisto e já agora ler João Pinto e Castro: «o que o mercado nos diz é que, neste momento, os investidores estão dispostos a financiar projectos estatais, mas não privados». Ideias não faltam.
A esquerda tem que ter iniciativa. Há muito a aprender com Milton Friedman: « Estou convencido que esta é a nossa principal função: desenvolver alternativas às políticas existentes, mantê-las vivas e disponíveis até que o politicamente impossível se torne politicamente inevitável».
Visão da crise financeira
Ideias do passado com futuro
Para uma outra Economia
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
Segunda-feira negra?
O efeito da crise financeira na Economia
Sei que a amostra é pequena, mas mesmo assim dá que pensar .
Um: “É impressionante, os meios de comunicação (portugueses e estrangeiros) continuam a pedir comentários a economistas que há 1 mês não faziam a minima ideia do que estava acontecer. Continuam a tratar este fenómeno como fosse uma catástrofe natural, que nada fazia prever, tipo tsunami.”
Dois: “BANDO DE IDIOTAS! CORJA! SEMPRE A DEFENDER O PATRÃO! SÓ CÁ FALTA O CÉSAR DAS NEVES! SÃO TÃO SÁBIOS QUE É UMA PENA ESTAREM EM PORTUGAL!”
Três: “Já basta destes economistas. Afinal, não foram estes idiotas economistas, que nos levaram a este ponto com as suas ideias económicas? onde estavam estes idiotas quando a crise principiou? Ou melhor ainda, porque não foram eles capazes de antecipar esta porcaria?”
sábado, 27 de setembro de 2008
Oração
Oh Deus, que fazias chegar a noite depois de ter provido a carteira nossa de cada dia. Coro: o que vai ser de nós?
Oh Deus, que nos acordas na incerteza, para dia sim nos fazer subir em euforias e dia não descer aos infernos da penúria. Deixas-nos sós com os nossos medos. Coro: o que vai ser de nós?
Oh Deus, que arrasas catedrais ou as entregas ao Monstro-cujo-nome-não-devemos-soletrar. Coro: o que vai ser de nós?
Porque te zangas, oh Deus? Porque os sacerdotes sucumbiram à incúria e não regularam como deveriam regular o seu rebanho? Porque a saudável ambição de sucesso que dá sentido à vida se transformou em ganância? Porque os homens enfim pecaram?
O que pedes, oh Deus? Castigo para os culpados? Sacrifícios? Quanto queres? Os setecentos mil milhões prometidos? Queres cinco milhões de milhões? Coro: o que vai ser de nós?
E pior que tudo, oh Deus (vem agora a maior de todas as ofensas) é a traição! São fariseus! Cantam-te loas nos dias felizes e abandonam-te na desventura. Entregam-se agora ao Monstro- cujo-nome-não-devemos-soletrar. Perdoa-lhes, oh Deus, se perdem a fé. Que sentido faz toda uma vida, se Tu, nos teus desígnios insondáveis, retribuis a devoção com pragas e castigos?
Sim, nós podemos?
A nova esquerda e o regresso das velhas questões
sexta-feira, 26 de setembro de 2008
Acertar no totoloto em Maio de 2007?
quinta-feira, 25 de setembro de 2008
Economia liberal: posições, artigos, livros e recensões
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
Já passou o tempo das inevitabilidades neoliberais
«Empréstimos bonificados». Reparem. Milton Friedman está vivo e de boa saúde. VM termina com esta pérola: «Trata-se de aumentar a justiça social no acesso ao ensino superior, diminuindo o actual subsídio aos ricos e aumentando a ajuda a quem precisa». O populismo mercantil ao serviço da comercialização do ensino superior.
O pior nos intelectuais do «socialismo moderno» do PS é a forma como embrulham projectos regressivos numa retórica de esquerda. A justiça social, ou seja, a progressiva eliminação das desvantagens associadas, entre outras coisas, à lotaria da classe onde se nasce e a correspondente promoção das condições para uma maior igualdade no desenvolvimento das capacidades, alcança-se através de impostos progressivos que financiam serviços públicos universais e gratuitos para o utilizador. E bolsas. Tudo o resto é recriação de divisões de classe, manutenção de barreiras à entrada e criação de um enquadramento que nutre o egoísmo e o individualismo mercantis. Com custos administrativos elevados.
Falta só referir a citação que encabeça a posta de VM: «OCDE considera inevitável subida das propinas nas universidades». As inevitabilidades organizadas pela OCDE. É quem inspira o ministério. Muito eficaz no esvaziamento do Estado Social. VM apresenta hoje, em Coimbra, um livro de Correia de Campos sobre reformas da saúde. VM é muito coerente.
O contra-movimento até pode não ser só de esquerda
«Reconstruamos em conjunto um capitalismo regulado, em que sectores inteiros da actividade não sejam deixados à mera apreciação dos operadores de mercado» (Nicolas Sarkozy).
Começar o trabalho de desmantelamento da ordem neoliberal é uma tarefa que é de toda a esquerda e da direita que redescobre os limites. O importante é isolar politicamente os fanáticos do capitalismo sem fim. Da social-democracia ao conservadorismo, estes conquistaram posições de poder em demasiados partidos. Mudar o sentido do pêndulo no campo económico. Depois será tudo menos difícil.
terça-feira, 23 de setembro de 2008
Tantas perguntas
Humanismo e comunidade
«Aos sofistas de mercado falta-lhes entender o que dizia Protágoras: 'o Homem é a medida de todas as coisas' — para si mesmo, naturalmente. Mas é de nós mesmos que estamos a falar. O maravilhoso funcionamento da teoria fez vítimas na prática. Esta é a medida última: não o mercado, não as empresas, não o sistema financeiro — mas as pessoas» (Rui Tavares).
«O problema é que, se os off-shores tiram dinheiro ao Estado em impostos que deixam de ser pagos, alguém terá de compensar essa falha. E, em regra, quem vai pagar aquilo que os outros não pagaram são bem menos ricos do que os felizardos que beneficiam dos paraísos fiscais. Por isso estes são 'infernos fiscais' para o conjunto da comunidade» (Francisco Sarsfield Cabral).
segunda-feira, 22 de setembro de 2008
É o fim do capitalismo? V
Os paradoxos multiplicam-se. Este último é muito infeliz: acho que os neoliberais podem estar mais descansados na Europa, berço da social-democracia. Da esgotada e cúmplice social-democracia. Tiago Barbosa Ribeiro menciona, e bem, a necessidade desta recuperar «parte do seu património perdido». No entanto, as boas propostas keynesianas de Vincenç Navarro ou os robustos princípios de regulação financeira, formulados por Frédéric Lordon, são uma utopia na actual UE. É que a União, como não nos cansamos de denunciar neste blogue, inscreveu o neoliberalismo nos tratados e nas instituições com responsabilidades económicas (do BCE à Comissão). A verdadeira social-democracia é uma impossibilidade ali onde muito se decide: no campo económico. Questão de blindagem institucional. Parece que a Europa suportará, mais uma vez, a maior parte do fardo da crise internacional. Os dogmas de mercado têm um preço elevado. De Bruxelas a Lisboa. Passando por Frankfurt. A Europa podia ser a solução, mas é hoje o principal problema. Escolhas. Quem foi o irresponsável que redigiu os estatutos do BCE? Quem aprovou o PEC? Quem avançou para a total liberalização financeira sem criar regras comuns e sem harmonização fiscal? Quem avançou para a moeda única sem orçamento federal digno desse nome? Quem?
É o fim do capitalismo? IV
O Financial Times reconhece, em editorial de sexta-feira, que «as loucuras de uma geração de financeiros irresponsáveis terão de ser pagas pelos contribuintes». As estruturas económicas neoliberais que nutriram a irresponsabilidade foram construídas nas três últimas décadas. Diz ainda o FT que «uma regulação mais apertada é o preço a pagar. Mas isso fica para outro dia». Claro que sim. Quando esse dia chegar, esperem toda a resistência dos «irresponsáveis» e dos seus intelectuais na imprensa e na academia.
No entanto, o cálculo pode sair furado: as medidas de emergência, que se multiplicam nos EUA, podem dar origem a uma forte corrente de opinião a favor da reintrodução de mecanismos de controlo e de regras muito mais apertadas para as operações financeiras. Isto não pode ficar pela pura socialização das perdas. Senso comum.
A crise revela que a economia também é um sistema de regras – de autorizações, de constrangimentos, de proibições – que definem quem é que pode fazer o quê com o quê e quem é que está exposto às consequências dessas acções. As operações de venda a descoberto de acções acabam de ser limitadas nos EUA e no Reino Unido. Não custou nada. Mudar as regras para controlar a especulação que desestabiliza as economias. Instrumentos não faltam: das taxas (Keynes e Tobin) à proibição pura e simples. O princípio é claro e admite muita flexibilidade: é preciso diminuir a liberdade dos agentes financeiros. Para que aumente a liberdade do resto da sociedade, sobretudo para que aumente a liberdade da maioria dos trabalhadores que hoje estão expostos às consequências socioeconómicas perversas que advêm da liberdade irrestrita de circulação do capital.
No curto prazo importa perceber sobre quem é que vai reacair o fardo do ajustamento. O economista Dean Baker oferece preciosas indicações para uma operação de salvamento justa do sistema financeiro.
domingo, 21 de setembro de 2008
A revisão do Código de Trabalho e a descredibilização da política
E, segundo consideram vários especialistas, as mudanças terão sido num sentido de fragilizar a posição do elemento mais fraco na relação laboral, isto é, os trabalhadores. Além de possibilitar uma descida dos salários através do “banco de horas”. Tudo isto apesar de algumas medidas positivas de combate à precariedade.
Mas, independentemente do sentido das mudanças de posição, o que está em jogo é o como e o porquê das mesmas. Houve algum debate interno sobre isto ou tudo se processou em resultado de uma mudança de liderança no PS? O PS explicou em devido tempo aos militantes e aos eleitores (nomeadamente vertendo a mudança de orientações no seu programa eleitoral) que iria mudar de posição e porquê? Parece que não, pelo menos ninguém deu por isso. Sendo assim, fica-se sem perceber porque é que, quando estava na oposição, o PS tinha uma posição sobre a legislação laboral e, quando passou ao poder (e mudou de líder), passou a ter outra (alegadamente muito diferente em pontos fundamentais).
Então para tomar uma posição sobre o casamento homossexual é preciso uma discussão aprofundada e uma tomada de posição vertida no programa eleitoral e sufragada eleitoralmente, mas para efectuar mudanças tão fundamentais na posição do partido face a uma questão central do conflito político nas sociedades modernas (bem no âmago da divisão entre esquerda e direita!), as relações entre capital e trabalho, nada disso parecer ser necessário? Obviamente, nada disto ajuda a credibilizar a política e os partidos. E, por isso, percebem-se os remoques de Manuel Alegre à JS (que sobre isto se remeteu ao mutismo, pelo menos no parlamento): é que a credibilização da política passa por aqui.
Sobre as confusões que grassam no PS acerca do casamento homossexual
No dia 10 de Outubro serão votados os projectos de lei (apresentados pelo BE e pelos Verdes) reconhecendo aos homossexuais o direito ao casamento. (Apesar de há muito andar a anunciar que teria algo a apresentar neste domínio, a JS parece ter deixada as suas eventuais propostas a hibernar à espera de melhores dias…)
Pela voz do líder parlamentar, Alberto Martins, a bancada socialista anunciou esta semana que, como não houve ainda suficiente debate no seio do partido (e na sociedade) sobre o tema, além que nenhuma posição do PS sobre o mesmo foi vertida no programa eleitoral de 2005 (e, por isso, não pode ser sufragada popularmente), o partido não tem ainda uma posição definida sobre o assunto. Ou seja, o partido não está em condições de votar a favor no Parlamento. Parece perfeitamente razoável e legítimo.
Mas a seguir veio a confusão: Alberto Martins anunciou que, pelo que foi dito acima, o partido (através da direcção da bancada) iria dar indicação de “voto contra” (com exigência de disciplina de voto) aos seus deputados (sobre a questão do casamento homossexual). Curioso: não podem votar a favor porque ainda não discutiram o assunto, não se posicionaram no programa eleitoral, etc., em suma, ainda não tem posição. Então, sendo assim, a indicação de voto aos deputados (com ou sem exigência de disciplina de voto) não deveria ser a “abstenção”? Se o PS não tem posição amadurecida e sufragada popularmente para votar a favor como é que já a tem para votar contra? Não se percebe, de todo!
Desigualdade e Crise Financeira
A relação entre o crescimento da desigualdade nos EUA e a recente crise financeira não é um tema que tenha surgido nos últimos dias, dominados pelas extraordinárias planos de salvamento do sistema financeiro. No entanto, não difícil perceber como os mais pobres deste país mantiveram o seu nível de vida graças ao crescente endividamento, uma vez que os seus rendimentos reais estagnaram de há trinta anos a esta parte. Por outro lado os mais ricos, com quantidades recorde de capital acumulado, conseguiram,através dos mercados financeiros, satisfazer esta procura de crédito, o agora famoso subprime, cobrando juros de agiotas. Juntou-se a fome à vontade de comer.
Barbara Ehrenreich escreveu há um ano: “Por incrível que pareça, este pode ser o primeiro caso na história em que os explorados conseguem deitar abaixo um sistema económico injusto, sem passarem pela trabalheira de uma revolução.” De facto, assim foi, quando os mais pobres deixaram de pagar as suas prestações. Contudo, parece cedo para esperar uma melhor distribuição do rendimento através de um desenho mais progressivo do sistema fiscal, de um aumento do salário mínimo e de robustos programas de acção social. Doug Henwood, autor de uma das melhores análises dos mercados financeiros, defendia que tal programa, claramente social-democrata, soa, nos dias que correm, a revolução.
sexta-feira, 19 de setembro de 2008
República Popular toma conta de Wall Street
quinta-feira, 18 de setembro de 2008
É o fim do capitalismo? II
Se queremos perceber como chegámos até aqui, temos de perceber como se gerou o processo de financeirização do capitalismo. Temos de sacudir a amnésia histórica promovida pelos economistas neoliberais com uma lata descomunal. Aproveitam-se da invisibilidade destes processos e tentam enganar os cidadãos. No entanto, muitos não têm culpa. A história económica é cada vez menos o forte dos currículos de economia...
É o fim do capitalismo? III
Desregulamentação, ou seja, abolição de muitas das restrições à acção dos agentes financeiros, que passam a dispor de uma margem margem de manobra muito maior. Tudo no quadro de sistemas de regras nacionais cada vez mais «leves» e que procuram fomentar a auto-regulação, a concorrência e a inovação financeira, ou seja, a criação de produtos financeiros cada vez mais sofisticados e complexos. É preciso ser atractivo para os investidores internacionais. Que agora podem escolher. Só os «economistas antigos» é que ainda falam de especulação.
Desintermediação com a correspondente mudança do negócio bancário que passa da monótona e mais controlada intermediação financeira para a excitante apropriação de comissões com a montagem de operações financeiras crescentemente especulativas, arriscadas e potencialmente lucrativas. Entre estas inclui-se a, até há pouco aplaudida, titularização de créditos, na origem da crise. Através desta, os instrumentos tradicionais de dívida resultantes da intermediação financeira – empréstimos e hipotecas, por exemplo – são convertidos em títulos negociáveis e até podem sair dos balanços dos bancos. Tudo legal e óptimo porque se criam novos produtos e novos fontes de lucros. Todos ganhamos. Não é?
O último D é de descompartimentação, ou seja, da abolição das fronteiras entre os vários tipos de instituições financeiras e de mercados. Muito mais concorrência entre grandes e opacos conglomerados financeiros. Tudo óptimo. Tudo construído políticamente. A política dominante diz: «os «mercados é que sabem».
A actividade das instituições bancárias foi assim profundamente modificada pelo fim do controlo governamental da generalidade das taxas de juro, pela abolição das restrições quantitativas sobre o crédito e sobre os investimentos realizados pelos bancos e pela remoção das barreiras institucionais e geográficas entre os bancos, outras instituições financeiras e os investidores institucionais. Os EUA e o Reino Unido estiveram sempre na vanguarda destes processos políticos. Estas desregulamentação e descompartimentação culminaram, nos EUA de Clinton, com o fim por decreto (sempre por decreto...) da tradicional distinção entre bancos comerciais e de investimento. Esta última medida aboliu uma das principais regras que vinha do New Deal.
Em 1998, John Williamson e Molly Mahar, dois economistas com credenciais impecavelmente liberais, fizeram um balanço histórico das políticas financeiras dominantes desde os anos 80 à escala internacional (acho que o artigo não está na rede). Sistematizaram-nas em seis dimensões essenciais: (1) eliminação dos controlos de crédito; (2) desregulamentação das taxas de juro; (3) acesso, com restrições cada menores, ao sector financeiro em geral e ao sector bancário em particular e maior concorrência; (4) muito maior autonomia bancária, apenas restringida por uma regulação e supervisão publicas de natureza prudencial; (5) propriedade privada dos bancos; (6) Liberalização dos fluxos internacionais de capitais. A Europa não escapou. Pelo contrário. A Comissão Europeia não patrocinou outra coisa.
Aqui está o problema. Chama-se neoliberalismo. E foi a engenharia dominante do nosso tempo. Os resultados estão à vista. A alternativa é a questão. É uma contra-engenharia. Contra estes «mercados». Para uma próxima posta.
É o fim do capitalismo? I
quarta-feira, 17 de setembro de 2008
Os comentadores do Financial Times estão cada vez mais parecidos com os Ladrões de Bicicletas (II)
Martin Wolf, Financial Times. Para os que não se lembram, Hyman Minsky é um dos nossos economistas de combate de eleição.
terça-feira, 16 de setembro de 2008
Economistas antigos e modernos, filosofia e hegemonia
O actual ministro das finanças, um economista «moderno», disse hoje: «Creio que há um ano atrás todos esperávamos que esta situação e a incerteza que daí decorria se pudesse desvanecer mais rapidamente» (esquerda). O «todos» ilustra bem o consenso neoliberal dos fóruns europeus que o ministro frequenta. Enfim, o que se desvanece rapidamente são mesmo as ideias económicas dominantes entre o Ministério das Finanças e o Banco de Portugal. As suas prescrições ortodoxas não servem para nada agora. Construir «mercados flexíveis» e reduzir o défice, os dois objectivos centrais do OE de 2008, foram a medida de toda a complacência governamental.
É cada vez mais claro que só uma vigorosa política económica keynesiana pode salvar a situação. Esta tem de ser acompanhada, como sempre se defendeu no melhor desta tradição económica, pelo restabelecimento de mecanismos públicos de controlo e de comando que reconfigurem os mercados financeiros e limitem o alcance do «casino». Isto é tarefa para reformas estruturais à escala nacional e internacional. Haja força política.
Entretanto, Barack Obama afirmou ontem que a crise é o resultado de «uma filosofia económica errada». Uma filosofia que contribuiu para destruir as «regulações que tínhamos e que hoje já não existem» e desta forma para gerar padrões, cada vez mais visíveis, de desigualdade e de ineficiência.
Soube que vai ser criado um instituto de investigação Milton Friedman na Universidade de Chicago, financiado por centenas de milhões de dólares de empresas e de milionários. Os que beneficiaram com as suas ideias «libertárias» não esquecem. Acreditam que a hegemonia intelectual se pode comprar. Pode ser que desta vez se enganem. Pode ser.
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
Quem é que ainda confia nos mercados financeiros liberalizados?
Arrastão
sexta-feira, 12 de setembro de 2008
Bernanke ou Trichet?
Os 'rankings' ou reino da propaganda
Os problemas envolvidos são conhecidos. Os ‘rankings’ procuram sintetizar num indicador um conjunto de realidades complexas, o que é quase por definição impossível. Se isto tem a vantagem de simplificar a mensagem (tornando a sua transmissão mais eficaz), convida a leituras simplistas da realidade. Na maioria das vezes, os resultados dependem crucialmente dos indicadores utilizados e da metodologia de agregação. Este problema é agravado pela recorrente recusa da comunicação social dominante para aprofundar qualquer tema – dois parágrafos seriam em geral suficientes para alertar para as insuficiências da análise, mas isso é pedir muito para grande parte dos jornalistas (ou dos responsáveis editoriais). Quando tudo isto se junta à tendência maniqueísta daqueles com poder para influenciar o discurso dominante – como é o caso de JMF – começamos a pensar se não seria melhor viver sem ‘rankings’.
O editorial do Público de hoje é dedicado ao relatório «Doing Business» de 2009, publicado pelo Banco Mundial. O ‘ranking’ aí publicado é construído com base em inquéritos a alguns entrevistados escolhidos a dedo - gabinetes de advogados, empresas de consultoria, associações empresariais, etc. – sobre a sua percepção acerca das condições (tempo e custos) para o registo de propriedade, a criação e fecho de empresas, o despedimento de trabalhadores, a resolução de disputas comerciais ou as transacções internacionais (em alguns casos, os resultados obtidos são complementados com estatísticas mais ou menos oficiais).
JMF diz tratar-se de um ‘ranking’ sobre «a capacidade dos diferentes países de atraírem negócios», o que é errado. Trata-se de uma análise selectiva sobre as «condições para realizar negócios». JMF pode achar que é a mesma coisa, mas não é. Para dar alguns exemplos, a atracção de investimentos depende de factores como a proximidade a mercados de grandes dimensões ou em crescimento, a qualidade das infra-estruturas, as habilitações e qualificações e dos dirigentes das empresas e dos trabalhadores, ou os incentivos públicos ao investimento. Nenhum destes aspectos é coberto pelo «Doing Business».
Para além disso, as respostas dependem muito da percepção de quem responde aos inquéritos. Por exemplo, se existe uma expectativa de que os responsáveis políticos são vulneráveis à pressão dos interesses empresariais, estes mais facilmente irão enfatizar a necessidade de alguns tipos de ‘reformas’ que estão em cima da mesa (pois sabem que haverá JMFs para difundir a mensagem da melhor forma).
Como é costume nestas coisas, tentam fazer-nos crer que essas reformas são as necessárias à atracção do investimento e ao crescimento económico. Nós até ficaríamos convencidos disso, não fora o facto de (i) diferentes estudos sobre «a capacidade de atrair negócios», usando indicadores e métodos diferentes, darem origem a ‘rankings’ muito distintos (por exemplo, dos 10 países que aparecem à frente no «Doing Business» só 3 estão entre os 10 primeiros no World Investment Report de 2007, da UNCTAD - ver figura ao lado) e (ii) não haver estudos que permitam estabelecer uma relação estatisticamente robusta entre muitas das condições consideradas relevantes para a atracção do investimento e o desempenho dos países nessa frente.
Ou seja, num tom sério de quem discute o futuro do país, acabamos quase sempre por nos encontrar no domínio da propaganda.
quinta-feira, 11 de setembro de 2008
Escutem bem os desmentidos!
Paulo Pedroso disse ontem em entrevista: "Não tenho nada contra o Bloco Central" em caso de maioria relativa do PS. A declaração de Pedroso é, no entanto, menos reveladora do que a formulação dos desmentidos que se seguiram:
José Lello considerou especulativas estas declarações. Mas o que é especulativo é a ideia de que o PS poderá não ter maioria absoluta. Sobre a disponibilidade para um Bloco Central, José Lello não diz nada.
Mas bem mais claro foi Vital Moreira:
"A fórmula de governo deve ser uma questão pós-eleitoral, não pré-eleitoral". Ou seja, primeiro conta-se os votos, depois conta-se o plano. Vital Moreira acha que os eleitores socialistas não precisam de saber se o PS se vai aliar à direita depois das eleições, em caso de maioria relativa.
Aliás, Vital Moreira vai mais longe quando afirma que "admitir nesta fase do campeonato um governo de "bloco central" constitui uma inestimável ajuda à ofensiva do PCP e do BE contra o PS." (bold de VM)
Portanto, nesta fase do campeonato, o que é preciso é não ajudar a ofensiva do PCP e do BE. Para outras jornadas ficará uma decisão efectiva sobre o assunto.
Aliás, o post de Vital Moreira chama-se "especulação prematura". Interroga-se o leitor: Quando é que as especulações não são prematuras? Quando se tornam factos.
Ficamos à espera dos desmentidos. Daqueles que se percebem.
Res Privata: chegou a vez das matas nacionais
quarta-feira, 10 de setembro de 2008
A injustiça social faz muito mal à saúde
terça-feira, 9 de setembro de 2008
A Tragédia dos Comuns II
Mas, não haverá mesmo?
Vinte e anos depois a história de Demsetz e Hardin resurgiu no trabalho de Robert Wade só que agora sem tragédia («The management of common property resources: collective action as an alternative to privatisation or state regulation», Cambridge Journal of Economics, nº11, pp. 95-106, 1987). Wade estudou comunidades do Sul da Índia em que recursos como a água eram propriedade comum e descobriu que, em muitos casos, o recurso era utilizado de forma sustentável sem que existisse intervenção coerciva de qualquer agente externo, nem privatização. Concluía Wade:
«Uma longa linha de teóricos dos direitos de propriedade defendeu que os recursos em regime de propriedade comum acabaram necessariamente por ser sobre-explorados à medida que a procura aumenta. Para alguns autores, a única solução é a delimitação da propriedade, para outros a regulação estatal. (…) Os resultados da minha investigação são difíceis de reconciliar com estes argumentos.»
O que Wade efectivamente encontrara é que em muitos casos as comunidades geriam o recurso com sucesso em regime de propriedade comum. Em comunidade, agindo em colectivo, os indivíduos eram capazes de estabelecer uma regra de acesso individual ao recurso comum que tendiam habitualmente a respeitar e empenhavam-se na monitorização do seu cumprimento por parte dos outros.
Para Wade os estudos de caso mostravam que além da privatização e da regulação estatal existiam outras formas de conjurar a tragédia. No entanto, Wade também verificara que, a par dos casos de sucesso, existiam outros em que a tragédia dos comuns se manifestava efectivamente.
Daqui emergiam novas perguntas: Em que circunstâncias as pessoas que enfrentam uma potencial tragédia dos comuns são capazes de organizar um sistema de regras que permite evitar a tragédia? Quais são essas circunstancias? Quais são essas regras?
As descobertas de Wade têm sido confirmadas e as suas perguntas retomadas por muitos outros.
Parece-me que vale a pena olhar com mais atenção para os resultados de toda essa investigação de que Elinor Ostrom é outro nome de referência.
Res Privata
O Tanque
"Estavam lá todos. Quase o pleno dos membros do Governo, muitos deputados, alguns históricos socialistas. Ninguém quis faltar ao acto oficial de apresentação da Fundação Res Publica, o grupo de reflexão que é uma espécie de "think tank" (instituição de debate e reflexão) socialista. Na nova instituição, caberão todas as esquerdas." Público
"Eu não tenho dúvidas. São atitudes como estas dos partidos políticos, e esforços como estes, que credibilizam a política em Portugal. É o esforço de tanta gente, que quer dar o seu melhor para procurar novas ideias e novos projectos, que credibiliza e dá confiança à política no nosso país. Do que eu não tenho dúvidas é que o que não dá credibilidade à politica é o discurso do negativismo, é o discurso da maledicência, é o discurso do pessimismo, é o discurso do bota-abaixo, é o discurso de que “nada é possível fazer no nosso país”. Não. Esse é um discurso medíocre, que nada tem a oferecer ao país, e que só convida à desistência e ao conformismo". José Sócrates, 8 Setembro 2008, no lançamento da fundação Respública.
Na apresentação de um Grupo de Reflexão à Esquerda, o PS apresenta os porta-vozes do costume, Sócrates atira-se à oposição (Externa e Interna). Lavagem de roupa suja, portanto. Quanto às ideias sobre o que deve ser uma governação à esquerda, ao balanço crítico da políticas, ao debate com cépticos e opositores do Governo, vão ter de esperar, que agora é tempo de propaganda.
Este discurso do "Abaixo o bota-abaixo", aliás, tem muita história nos governos portugueses. Todos, mais tarde ou mais cedo, acabam a resmungá-lo em diferentes versões, desde as forças de bloqueio até aos profetas da desgraça. Bem dizia há uns anos António Guterres, sobre o executivo de Cavaco Silva: "Nós não temos um Governo, temos uma oposição à oposição."
segunda-feira, 8 de setembro de 2008
Menos Estado, tanta ou mais despesa
O Publico (8 Set. 2008, p7) explica: «Vários hospitais públicos recorrem a empresas privadas que cobram valores muito altos por hora. Há médicos que ganham 2500 euros numa urgência de 24 horas num hospital público quando contratados por empresas privadas, e alguns deles pertencem mesmo ao quadro do estabelecimento onde fazem o 'banco'».
Se calhar, se formos a ver, na realidade o que há é empresas que cobram isso ao hospital contratante sem que o médico contratado sonhe sequer com o montante que o intermediário obteve com a venda dos seus serviços.
Mas neste caso o Ministério responsável vê nisto um problema a resolver e «quer limitar contratações caras de médicos». E que tal reconhecer que o problema existe em todo o Estado fazendo da vontade do Ministério da Saúde exemplo?
O mito do mercado livre implode
sábado, 6 de setembro de 2008
A Tragédia dos Comuns
Para chegarmos à resposta de Hardin teremos de pressupor que todos os criadores de gado usam a pastagem com o objectivo de maximizar o seu ganho pessoal e que os animais, contrariamente à pastagem, são propriedade individual dos seus criadores.
Se assim for, para cada um dos utilizadores do prado comum, a decisão de criar um novo animal deve basear-se, de acordo com os pressupostos que Hardin aqui adoptava, numa análise de custo-benefício. Tomemos x como o benefício de criar um novo animal e y como o custo de fazer. O benefício, x, é o valor de mercado do animal no momento de ser vendido. O custo, y, consequência do sobre-pasto, é a perda de peso de todos os animais que se alimentam da pastagem comum decorrente da presença de mais um animal. Para o conjunto dos criadores o custo de um novo animal é pois y, mas do ponto de vista de quem decide se deve ou não criá-lo é apenas uma parte de y, chamemos-lhe z. É fácil verificar que mesmo quando x é menor do y é possível que x seja maior do que z. Isto é, mesmo que a análise custo-benefício social desaconselhe a criação do novo animal, a mesma análise, agora individual, pode recomendar o contrário. O indivíduo supostamente movido pela maximização do ganho pessoal adoptará o ponto de vista individual. Conclui Hardin: mesmo quando a capacidade da pastagem foi ultrapassada e cada novo animal origina perdas colectivas que ultrapassam os benefícios, os criadores individuais insistirão em sobrecarrega-la mais e mais. E acrescenta:
«Aqui reside a tragédia. Cada homem é presa de um sistema que o obriga a aumentar a sua manada sem limite – num mundo que é limitado. A ruína é o destino para o qual todos se precipitam, cada um em persecução do seu melhor interesse numa sociedade que acredita na liberdade dos bens comuns».
Hardin era um ecologista. Ele não discutia a sustentabilidade de prados comunitários em face do crescimento do número de cabeças de gado, mas a sustentabilidade do planeta em face do crescimento demográfico. Para ele a lógica era a mesma nos «comuns» ou na «casa comum» e essa lógica encerrava consequências trágicas. A Tragédia dos Comuns podia ser evitada, mas não com apelos à consciência e à responsabilidade. O remédio era a coerção – «coerção mútua, mutuamente acordada pela maioria das pessoas afectadas» – isto é, a intervenção de um agente «externo» a quem fosse atribuída a prerrogativa de monitorizar o cumprimento de uma regra de restrição de acesso por parte dos indivíduos e administrar sanções em caso de incumprimento.
Um ano antes de Hardin, um outro autor, desta vez um economista, Harold Demsetz, evocara uma história semelhante para discutir não questões ambientais, mas um problema da teoria económica. Os índios da Península do Labrador partilhavam tradicionalmente um mesmo território de caça onde obtinham alimento e peles. Como é natural, o que cada um fazia no território comum, o número de animais que caçava, tinha repercussão no povoamento animal do território e portanto consequências para os outros caçadores. Mas num mundo de abundância, próximo de idílios originais, estes efeitos cruzados, ou externalidades, eram, segundo Demsetz, negligenciáveis.
Mas, com a chegada dos comerciantes de peles ocidentais o contexto alterou-se. Para os caçadores índios as peles tornaram-se então moeda de troca para bens incrivelmente tentadores. Em consequência, a caça no território comum intensificou-se, as populações animais decresceram e as externalidades deixaram de ser negligenciáveis. Como na história de Hardin os índios de Demsetz estão agora numa situação trágica. Eles são racionais, mas, como os benefícios das suas acções são superiores à parcela dos custos que incumbe a cada um, insistem em caçar para além dos limites dentro dos quais a actividade é sustentável.
Dizia-nos Demsetz que, de acordo com o registo antropológico, foi por esta altura que nesta sociedade de caçadores emergiu a propriedade privada. O território de caça, anteriormente usufruído em comunidade, foi retalhado e atribuído em parcelas às diferentes famílias. Demsetz explicava: confinados a territórios relativamente bem delimitados os caçadores tornavam-se mais prudentes. Agora as consequências da sobre-caça iriam recair em primeiro lugar sobre eles próprios, ou na linguagem técnica de Demsetz, as externalidades eram parcialmente internalizadas.
Sobre a propriedade isto é o que se ensina na generalidade dos actuais cursos de Economia. O mesmo em todos eles, sem direito a contraditório. Discutir se a propriedade privada é ou não legítima, ou quando é que é legítima, já não interessa nada. Agora o que importa é mostrar que é o único arranjo social eficiente, o único que não conduz ao desastre. E para isso a Tragédia dos Comuns e Demsetz servem muito bem.
Tudo isto é, no mínimo, discutível. Ao longo deste mês tentarei mostrar porquê.
sexta-feira, 5 de setembro de 2008
Populismo repressivo?
A expansão politicamente suportada das forças de mercado e o aumento das desigualdades e da desestruturação social que esta expansão sempre gera, conjugada com o esvaziamento progressivo do Estado Social assente na provisão pública universal, têm levado, nos países desenvolvidos onde estes processos foram mais longe, a um reforço das áreas de actuação do Estado associadas à repressão e à punição, ou seja, à emergência e reforço de um Estado Penal, que é tanto mais importante quanto mais neoliberal é o modelo de desenvolvimento socioeconómico em causa.
Sendo Portugal uma das mais desiguais sociedade da Europa e tendo um Estado Social frágil e em processo de reconfiguração neoliberal, não é de admirar que o governo pareça apostar no reforço selectivo da provisão pública e privada na área da segurança. Portugal tem um polícia para cada 227 habitantes, quando a média europeia é de um para 350. E o governo, num contexto de suposta contenção orçamental, prometeu formar mais dois mil polícias nos próximos tempos, assinalando assim a sua aposta num reforço muito selectivo da provisão pública. A segurança privada, por sua vez, é um dos poucos sectores económicos a registar um crescimento assinalável nos últimos anos de estagnação económica, expandindo-se com apoio do Estado, já que o sector público tem um peso de 30% na facturação do sector.
quinta-feira, 4 de setembro de 2008
Segurança paga: afinal pouco de novo
Não há grande novidade portanto. Apenas mais subcontratação de serviços privados por parte do Estado e outro episódio na história do Estado mais pequeno que nos custa o mesmo ou ainda mais; só que desta vez numa área particularmente sensível: a segurança interna.
quarta-feira, 3 de setembro de 2008
O fardo da desigualdade extrema
Nota. Uma informativa recensão de Renato Carmo inaugurou, no passado mês de Agosto, uma rúbrica sobre desigualdades em Portugal no Le Monde Diplomatique -Edição Portuguesa. Todos os meses sairá um artigo sobre o tema. A acompanhar.
Quem quer segurança paga-a!
Não sei qual foi a resposta. Só sei que mesmo assim o responsável da associação de proprietários lá foi dizendo dos serviços dos seguranças privados: “Quando até os polícias nas esquadras são agredidos, para que servem seguranças desarmados. Se pudessem estar armados, ainda vá ...”
A privatização levada ao absurdo. Quem quer segurança paga-a e a segurança privada tem de estar armada. O monopólio do uso da força é uma coisa pouco competitiva. Que tal uma milícia armada por sector de actividade económica?
terça-feira, 2 de setembro de 2008
Onde está o novo príncipe?
Na Europa, a esquerda tem um problema particular: os mecanismos de governo económico europeu em que a social-democracia se deixou enredar e esgotar e que corroem as bases de qualquer alternativa. Na realidade, isto faz parte de um problema bem mais grave: à esquerda há quem não veja «os buracos na narrativa liberal-financeira» e quem aceite que esta continue a definir as opções de governo e os termos do possível. A esquerda que vê o total fracasso da actual trajectória só tem que ter confiança nas suas ideias. Joseph Stiglitz afirma que «a esquerda tem uma agenda coerente que conjuga crescimento e justiça social». Acho que sim. O problema é mesmo de poder. Nas diferentes escalas.