segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Segunda-feira negra?

Plano Paulson rejeitado. Pode ser o fim de um mundo. Quedas abruptas nas bolsas. Helena Garrido resume um dia de «loucura financeira». Incerteza radical. Incerteza criada por uma configuração do capitalismo que parece estar em processo de autodestruição. Tudo o que é frágil se desfaz no ar. Esperemos que a crença na bondade da financeirização do capitalismo também. O resto já é banal: nacionalizações. O único sinal positivo neste dia. Os governos europeus entraram em acção de forma surpreendentemente coordenada. Quem diria? Vai ser preciso muito mais união e coordenação de políticas. Estamos muito atrasados. O comunicado da AIG, roubado a Rui Tavares, mostra onde, em última instância, residem as fontes da confiança. O futuro terá um sector financeiro enquadrado por instituições públicas com um envolvimento muito mais directo. Não há alternativa decente.

6 comentários:

O Puma disse...

Pelos vistos

mais Estado melhor Estado

para todos

F. Penim Redondo disse...

Mesmo antes destas adiadas "nacionalizações" já é enorme o endividamento dos Estados Unidos, e do próprio governo federal.

Uma parte substancial dos credores são países produtores de petróleo e, com destaque, o Japão e a China.

Podemos por isso prever que os estrangeiros vão ser, mais uma vez, chamados a financiar os esbanjamentos e desmandos consumistas americanos.

Podemos por isso concluir que é um Estado também falido que vai salvar as empresas privadas falidas.

Em resumo, o Estado não constitui uma "salvação", apenas tenta controlar a velocidade a que ocorre a compra da América pelos seus credores.

Filipe Melo Sousa disse...

Aqui está um desfecho que os amigos não esperavam. Alguns republicanos com juízo souberam dizer não. O próximo passo será a privatização do FED, e o fim do monopólio do mesmo. Será o fim da dita "política monetária" para entrarmos numa época de livre flutuação. Desta forma deixaremos de estar a mercê de um único visionário regulador que só sabe fazer disparates.

Pedro Viana disse...

Pode ler-se no Projecto de Teses do X Congresso do PCP - Partido Capitalista Português, em 2020, sobre o período da queda do capitalismo: “Perante os complexos problemas que se manifestaram na construção do capitalismo nos EUA, assim como noutros países do Ocidente o PCP, expressou compreensão e solidariedade para com os esforços e orientações que proclamavam visar a sua superação, alertando simultaneamente para o desenvolvimento de forças socialistas e para a escalada de ingerências estatais, confiando em que existiam forças capazes de defender o poder e as conquistas dos capitalistas e promover a necessária renovação libertadora da sociedade. Mas certas medidas tomadas agravaram os problemas ao ponto de provocar uma crise geral. O abandono de posições de classe e de uma estreita ligação com os capitalistas, a claudicação diante das pressões e chantagens do Estado, a penetração em profundidade da ideologia social-democrata, a rejeição do heróico património histórico do Capitalismo, a traição de altos responsáveis do Partido e do Estado, desorientaram e desarmaram os capitalistas e as massas amestradas para a defesa do capitalismo, possibilitando o rápido desenvolvimento e triunfo da revolução com a reconstituição do socialismo.”

Adaptado deste post no Arrastão:

http://arrastao.org/sem-categoria/o-fim-do-socialismo-real-segundo-o-pcp/

Tiago disse...

Pedro: está lindo.

Os fundamentalistas do mercado são exactamente iguais aos fundamentalistas de estado: Dogmáticos, armados em donos da verdade. São mais semelhantes do que julgam, e igualmente perigosos.

João: Os estados no norte da Europa são bastante mais fortes e interventivos do que muita gente julga. Apesar de terem parcialmente caído na balela da desregulamentação ainda têm um grande leverage sobre tudo o que se passa nas próprias economias. Tenho esperança que (a menos de um meltdown total) se consiga limpar a casa sem grande estrilho.

Com sorte não vamos sofrer muito e toda esta situação vai ter o bónus adicional de mandar por terra a ideia "eficiência" do mercado desregulado.

O estado está de volta, isso é certo. Vamos ser optimistas e pensar que será na versão social-democrata (no sentido escandinavo/germânico). Se formos pessimistas então será a versão fascista... Mas uma coisa é certa: vem aí mais estado.

José Magalhães disse...

O rico neo-liberal não quer salvar estado nenhum, pois para ele não existem estados e países, mas sim mercados. O que é preciso, não é salvar o país, mas sim salvar o mercado, que é o país onde ele vive:

"O estado? uma coisa chata que nos impede de continuar a enriquecer como fazem no Dubai. Cobra-nos impostos e está à espera, se for um governo de direita, que salvemos o país, ou se for de esquerda, torna os salários incomportáveis e eis que a gente é obrigada a deslocalizar-se para países mais pobretanas. O meu tetravô também ia para angola, e era obrigado a conhecer aqueles povos para fazer negócio, mas agora não é preciso. Toda a gente quer o que dá na televisão de todo o mundo, viva a televisão"

"Digo mais! Eu sou um revolucionário! Tirem as pessoas da rua! É melhor ficar em casa a ver o mundo pela televisão! Eu vejo televisão e indigno-me com as notícias. Não digam que não participo na vida política! Juro que fico indignado com algumas coisas."

"Sim, os jornalistas são pessoas comuns, que procuram notícias comuns de pessoas comuns com um discurso comum e vidas comuns, e isso chega pois eu sou uma pessoa comum também. Irrita-me as pessoas inteligentes, com a mania de que sabem mais do que nós. Eles não sabem o que é a vida! A vida são as pessoas comuns, com vidas comuns..."

"Outro dia vi uma criança, coitadinha, estava sempre a procura de alguém para brincar! Eu quando era pequenino também não tinha computador! Estou solidário com esta criança infeliz!
As pessoas precisam é de coisas comuns, computadores magalhães e palmadinhas nas costas."