Nada como aumentar o preço das consultas públicas e reduzir as isenções para tornar "competitivas" as consultas do sector privado da Saúde...
Nada como aumentar o preço das consultas públicas e reduzir as isenções para tornar "competitivas" as consultas do sector privado da Saúde...
Fonte: Autoridade Tributária |
Ora, verifica-se que as 100 empresas que facturam mais de 250 milhões de euros anuais pagam 28,2% da receita total de IRC (1,396 mil milhões num total de 4,954 mil milhões de euros). As 325 empresas com facturações entre 75 e 250 milhões de euros pagaram 12,8% do total de receita. Já vamos em 41% da receita de IRC. Se juntarmos as 822 empresas com facturações entre 25 e 75 milhões, atinge-se mais de metade da receita de IRC (51,7%), paga por 1200 empresas!
No outro extremo, as 165 mil empresas com facturação até 500 mil euros pagaram em 2019 cerca de 12,2% da receita de IRC.
"O fim de semana de Portugal ficou ainda marcado por uma surpresa que apanhou desprevenidos barões, caciques, comentadores e jornalistas em geral: Rui Rio venceu com relativa facilidade as diretas para presidente do PSD, derrotando o aparentemente favorito Paulo Rangel que vai regressar a Bruxelas e ao Parlamento Europeu depois de um aventura mal sucedida. Apesar dos apoios mais ou menos envergonhados de Marcelo Rebelo de Sousa e de Carlos Moedas e de praticamente todos os notáveis sociais-democratas, Rangel ficou-se pelos 47 por cento dos votos dos militantes sociais democratas."
(Newsletter do jornal Expresso, de 29/11/2021)
E depois queixem-se das sondagens...
"Em anteriores eleições, os barões sempre se inclinaram mais para um ou outro candidato, mobilizando as suas hostes e determinando à partida o vencedor. Desta vez, o partido fracturou-se de uma forma espectacular: a maioria esmagadora dos líderes concelhios ou distritais, as guras históricas (salvo excepções raras) do partido, os nomes fortes do último Governo do PSD estiveram ao lado de Paulo Rangel. Ganhando-lhes, Rui Rio mostrou a sua vulnerabilidade, mas ao consegui-lo expôs também a vulnerabilidade do PSD.
Ganho o partido, Rio precisa mais do que operários de base para colar cartazes. Para ganhar o país, não pode continuar a aparecer apenas ao lado de Salvador Malheiro ou de José
Silvano, com uma ou outra aparição de David Justino. Vai precisar de uma equipa forte, credível e com conhecimento e provas dadas em matérias sensíveis como a política scal, de Justiça ou dos Negócios Estrangeiros. Vai precisar de reunir os melhores, extrair-lhes as suas experiências prossionais e mostrar aos portugueses que é capaz de construir uma alternativa. Felizmente, há no país muita gente qualicada, mas a maior parte dos melhores do PSD aliou-se a Paulo Rangel.
Tendo tão pouca massa crítica do seu lado, Rui Rio precisa de pontes para o PSD que derrotou este sábado. Se tiver sucesso, ser-lhe-á mais fácil dispor de trunfos para as Legislativas. Com o seu actual séquito, será difícil ir para lá dos militantes. O eleitorado vai pedir provas para se convencer que, para lá dos programas, há gente capaz de os executar."
(Manuel Carvalho, Público, 29/11/2021)
Ei-los que voltam, novos e velhos...
Trata-se de um livro de divulgação e de fácil leitura. Aborda um dos temas mais centrais das economias políticas contemporâneas: a propriedade imobiliária e o seu papel na reprodução de desigualdades sociais. Apresenta-se como uma crítica ao Capital no século XXI de Piketty, por este ter negligenciado esta relevante dimensão das desigualdades na sua análise e propõe uma nova abordagem à análise das classes sociais que leve em conta o património imobiliário.
Esta forma de economia resulta de um conjunto de políticas de pendor neoliberal altamente favorável para os proprietários. Destaca-se a política monetária centrada no controlo da inflação, isto é, dos preços dos bens de consumo, ao mesmo tempo que se tolera o crescimento exponencial dos preços dos ativos e os seus efeitos desestabilizadores. A habitação tem sido central nestes desenvolvimentos já que é o principal ativo detido pelas famílias, sendo crescentemente cobiçado por investidores institucionais, devido à sua tendência de valorização (aspeto não abordado pelos autores).
A habitação está no centro do agravamento das desigualdades por diversas vias. A compra de casa própria a crédito tem sido feita à custa de modos de provisão coletivos. O resultado tem sido o crescimento da propriedade privada entre os segmentos que puderam beneficiar de linhas de crédito bonificado e aliciantes incentivos fiscais, o que desencadeou o aumento continuado dos seus preços ainda que com oscilações. Os excluídos do mercado imobiliário viram-se ainda excluídos da provisão pública, com a privatização da habitação pública (sobretudo nos países anglo-saxónicos entre outros) ou na ausência de outras políticas (o nosso caso).
O agudizar das desigualdades habitacionais significa que o custo das crises do capitalismo – económicas, financeiras, de saúde pública ou ambientais – são crescentemente suportados pelos que ficaram excluídos do acesso à propriedade imobiliária em valorização. Ao contrário dos proprietários, com e sem hipoteca, a sua dependência dos rendimentos do trabalho cada vez mais precário não os protege da inflação das rendas dos mercados liberalizados (a parte do rendimento salarial transferida para os proprietários com o pagamento das rendas é maior do que a que é transferida para os bancos com o pagamento das hipotecas), não dispõem de rendimentos prediais, nem de colateral para aceder a crédito em condições mais favoráveis.
Ainda que os autores não o explicitem, a implicação desta análise é profundamente radical. Se o Estado Providência está a dar lugar a uma espécie de economia de bem-estar patrimonial (asset-based welfare), assente na acumulação privada de ativos com vista à extração de rendimento durante e após a vida ativa, então as relações de propriedade têm de voltar estar no centro das preocupações, dado o seu papel na ampliação das desigualdades sociais.
"O aviso é claro: o PS tem de “optar entre ter aumento de impostos e reduzir a despesa pública”. Para o PSD, o partido de António José Seguro tem hoje três opções: ou aceita discutir a redução de quatro mil milhões de euros na despesa e evita novos aumentos de impostos; ou recusa reduzir e então tem de assumir que admite mais impostos; ou nenhuma destas e então tem de explicar aos portugueses como se cumprem as metas orçamentais e o memorando a que o próprio se comprometeu com a troika." (Jornal Público de há 9 anos)Mais criminoso ainda, quando - face a esse falso dilema - a estratégia do PSD/CDS foi cortar na despesa pública. E, por estranho que parecesse nas suas cabeças, os recursos públicos libertados não serviram para dinamizar a economia - como hoje defendem as mentes envelhecidas e desmemoriadas dos dirigentes da IL que macaqueiam aquilo que foi martelado em 2012.
Eis o gráfico do valor das remunerações praticadas no sector de alojamento e restauração, de acordo com os dados estimados pelo Instituto Nacional de Estatística, a partir das contribuições para a Segurança Social, actualizados com o IPC aos preços de Setembro de 2021.
Bem pode a secretária-geral da associação do patronato do sector hoteleiro querer comparar a actividade do sector com a das hospedeiras, possivelmente com a ideia subliminar de querer para o seu sector um apoio tão significativo como o concedido à TAP. Na verdade, o sector hoteleiro é dos que praticam remunerações médias mensais mais baixas em Portugal, rondando o salário mínimo nacional, associadas a condições contratuais precárias, e que assim se têm mantido estagnadas ao longo destes anos.
E por essa razão, não é de estranhar que - à semelhança de outros sectores - não consiga encontrar pessoas e jovens para trabalhar nele. E possivelmente - como noutros sectores - vai acabar por recorrer à solução mais troglodita e fácil que é de contratar trabalhadores imigrantes em condições salariais ainda mais recuadas - quais Vinhas da Ira de Steinbeck no século21 -, que, por certo, não ajudarão a elevar o nível salarial francamente baixo praticado actualmente em Portugal.
Ao contrário do que parece fazer crer, o problema não está na preguiça dos trabalhadores. A pergunta que se tem de fazer é: por que razão os salários do sector - e da maioria dos sectores - são tão baixos?
Se descobrirmos a causa desta estagnação, que é profunda, talvez descubramos caminhos para ultrapassar esta explosiva situação.
É um clássico. Tem sido um clássico.
A direita vai a votos gritando por urgentes reformas e culpam a esquerda da estagnação em que Portugal vive há duas décadas. A direita liberal culpa também PS e PSD, a quem apelidam de centro-esquerda...Mas todo o espectro da direita tem a mesma táctica.
Primeiro, omite o diagnóstico sobre as causas da estagnação. Às vezes, atribui-a levianamente à dita elevada despesa pública ou à excessiva carga fiscal ou ao elevado número de ministérios ou, mais à direita, ao estatismo que confunde com socialismo. Mas não há um diagnóstico consistente. Segundo, essa ausência de diagnóstico permite-lhe omitir a sua própria responsabilidade nessa estagnação. Terceiro, e na falta de diagnóstico, omite quais as reformas que defende para o ultrapassar.
Sempre foi assim. Talvez Cavaco Silva tenha escapado a esta regra. Mas antes de ser governo em 2002, Durão Barroso gritou que "o país está de tanga" e, em Julho de 2002, disse que o país (!) "viveu acima das suas possibilidades, que gastou o que tinha e sobretudo o que não tinha, porque o Governo [Guterres] prometeu tudo a todos"...
Durão Barroso: - Herdámos, assim, uma situação particularmente difícil, com um défice orçamental galopante, desequilíbrios externos incomportáveis, ausência de investimento, um Estado que se transformou num peso morto para a economia e num factor de asfixia para a livre iniciativa dos portugueses"...E nada fez, porque aqui estamos, com o mesmo discurso. Ou melhor fez: o Código do Trabalho de 2003 que embarateceu o factor Trabalho e fragilizou os sindicatos para aumentar a produtividade, mas - que estranho! - não resolveu o problema. José Socrates prometeu o mesmo, e nada fez. Ou melhor fez: novo Código do Trabalho de 2009. E - que estranho! - nada resolveu. Em 2011, Passos Coelho e Paulo Portas enganaram o povo, assustando-o com a bancarrota de José Sócrates que nunca existiu, mas garantindo a todos que não despediria ninguém nem cortaria salários e vencimentos... E nada fez. Ou melhor, fez: despediu, cortou e fez um novo Código do Trabalho de 2012. E - que estranho! - nada resolveu. E agora, mais uma vez, tudo volta ao mesmo de sempre.
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Muito bem!
O Orador: — Governar é decidir. E não perdemos tempo a decidir. A decidir, desde logo, uma estratégia capaz de fazer frente à difícil situação do País.
O Sr. Guilherme Silva (PSD): — Muito bem!
O Orador: — Essa estratégia assentou, e assenta, em três eixos essenciais: primeiro, rigor orçamental e saneamento das finanças públicas; segundo, incentivo à produtividade e ao crescimento da economia; terceiro, realização de reformas de fundo há muito reclamadas mas sempre adiadas. Esta era, e é, a estratégia. Cumprimo-la com rigor, vamos continuar a fazê-lo com firmeza, com coragem, sempre, e, cada vez mais, com coragem e com determinação.
A direita queixa-se da subsidio-dependência, mas esquece-se de que os salários são demasiado baixos para serem "competitivos" com os apoios sociais. Queixa-se da falta de mão-de-obra, mas esquece-se de defender um aumento de salários para tornar os empregos mais interessantes, de forma a impedir a emigração. Queixa-se dos salários baixos, mas esquece-se de que defendem o corte nas compensações por despedimento ou do subsídio de desemprego, cortes esses que facilitam que desempregados aceitem salários baixos (FMI dixit). E esquece-se de criticar quem contrata imigrantes a preços miseráveis. Queixa-se de que os aumentos salariais estão acima da produtividade (o que nem tem sido verdade), mas nada dizem sobre como se faz subir a produtividade nacional, se não for cortando salários ou pedindo mais dinheiro... ao Estado. Queixa-se dos impostos (veja-se o texto anterior do José Gusmão), mas esquece-se de dizer quem gostaria de beneficiar no seu "choque fiscal" e como é que isso seria eficaz para aumentar a produtividade. Queixa-se da elevada despesa pública, mas esquece-se de dizer que prestações sociais ou quantos funcionários gostaria de cortar e, sobretudo, esquece-se de dizer qual o efeito a prazo da desalavancagem dos gastos públicos na economia (será que é uma forma de tornar os baixos salários "mais competitivos" com os apoios sociais?). Queixa-se da dita rigidez das leis laborais, mas não diz o que quer fazer para a tornar ainda mais mole do que é e se isso não baixará ainda mais os salários. Queixa-se da elevada dívida pública ou externa, do estatismo, mas não diz o que fazer para a reduzir, se não cortar nos défices orçamentais e, mesmo assim, sem nada dizer sobre como o fazer. Queixa-se da subsidio-dependência...
E entra-se em loop.
Corolário: a direita em Portugal sempre agravou a situação nacional e nada diz sobre o que fará de diferente do que foi feito, nomeadamente face às políticas enquadradas no Menu euro-liberal. E isso por duas séries de razões: a primeira, porque foram as políticas euro-liberais que nos trouxeram aqui, porque as ideias euro-liberais são um instrumento de poder social e político e não de eficácia económica; a segunda porque todos eles sabem que, no momento em que especificarem o seu programa, perderão votos, muitos votos.
As ideias da direita são, pois, um logro.
Ainda hoje, o jornal online Observador promove uma crónica (de André Serpa Soares) que, perante o desastre em que vivemos - "quem é que vive com 581,85 euros por mês?"
- critica PS e PSD e, em linha com o IL, acha que é com mais liberdade e menos Estado
que se resolve o problema. Mas mais uma vez, nada diz sobre o que fazer! A
sua proposta é propor que alguém proponha ideias...
"São precisas e urgentes novas ideias, novas políticas, novos atores" (!!)
Embora sem ideias claras, há uma coisa que todo o espectro de direita sabe e quer. É que há uma reforma que os pode ajudar: uma reforma eleitoral que faça com que os seus partidos partilhem demoradamente o poder, sem instabilidades maiores.
De repente, não se fala de outra coisa senão de "bloco central" ou "diálogo PS/PSD" ou "acordo PS/PSD" ou coligações PSD/CDS/IL. A RTP muda o formato do programa 360 e os dois primeiros convidados - Francisco Assis e e o ministro Augusto Santos Silva - acham que é necessário continuar o entendimento que já existe entre partidos "moderados". Diz Santos Silva:
Rosa Maria Brito, operária têxtil
Se é verdade que não convém esquecer a questão - afinal de contas, quem cozinhava as refeições a Adam Smith? - também é verdade que este economista político não deixou de assinalar que a tendência para idolatrar os ricos e para desprezar os pobres é uma causa da corrosão dos sentimentos morais. Entre estes sentimentos encontra-se a capacidade de nos colocarmos no lugar da outra e de tentar ver o mundo pelo seu prisma. Uma certa economia ajuda a cultivar a antipatia, como se viu quando se começou a discutir a sério a questão do aumento do poder de compra do salário mínimo há uns anos atrás.
Lembrei-me disto a propósito de uma reportagem de Natália Faria no Público, infelizmente rara em sociedades tão desiguais e tão corroídas: “Metemo-nos na pele de uma operária têxtil, de uma funcionária num hospital e de uma assistente operacional num centro de acolhimento de jovens em risco, para perceber como é possível viver com os 665 euros ilíquidos do salário mínimo. As vidas de Rosa, Isabel e Ana Cristina mostram que não é: sobrevive-se.”
No centro das preocupações políticas devem estar estas vidas, as que criam tudo o que tem valor na produção económica e na reprodução social: quase um terço das mulheres trabalhadoras está submetida por cá a este mau viver.
Álvaro Santos Pereira colocou ontem um post no Facebook em que se mostra escandalizado com a penetração dos contratos a prazo entre os jovens. Citando um estudo da autoria do seu ex-secretário de Estado do Emprego Pedro Martins, encomendado pela Fundação Calouste Gulbenkian, conclui-se que três em cada cinco trabalhadores com idades ente 20 e 30 anos têm um contrato a prazo.
Mais: queixa-se de que, apesar das suas mais elevadas qualificações, os jovens têm contratos mais precários e pior remunerados!
Conclui ele: "É caso para dizer: este País não é para jovens...".
As afirmações de Álvaro Santos Pereira caem que nem ginjas na tónica presentemente passada pela direita de que tudo o que se passa de mal hoje em Portugal se deve ao ... socialismo. Perigosa cegueira ideológica, já que Álvaro Santos Pereira e Pedro Martins foram precisamente os responsáveis por uma das mais profundas reformas laborais introduzidas em Portugal, que contribuiu para um maior desequilíbrio da relação laboral a favor do patronato, de que são vítimas sobretudo os trabalhadores jovens.
Foi em Agosto de 2012. Aliás, conviria começar mais cedo. Até essa data, já se tinha verificado um longo percurso de abastardamento da legislação laboral que culminou com a criação do Código do Trabalho em 2003 - era Durão Barroso primeiro-ministro e Bagão Félix ministro do Trabalho - e da sua revisão em 2008/09 - era José Sócrates primeiro-ministro e José António Vieira da Silva ministro do Trabalho. Quando o Governo Passos Coelho/Paulo Portas tomou posse em Junho de 2011, já se sentiam os seus efeitos. Essas mexidas na lei tinham furado os limites mínimos impostos pela lei e previsto a caducidade das convenções colectivas, colocando os sindicatos a negociar de joelhos, contribuindo para a isolamento de cada trabalhador e, assim, para a sua fragilização laboral e empobrecimento.Mas seria no mandato de Álvaro Santos Pereira que iria ser dada mais uma forte machada. Baseando-se num acordo na concertação social fechado em Março de 2011 sob forte chantagem da Comissão Europeia, ainda pelo Governo Sócrates - a Comissão Permanente da Concertação Social serve para estas coisas, mesmo quando o patronato queria antes redução nos custos de contexto e não nos salários! -, foi aprovado um pacote laboral que redundou numa transferência de rendimento dos trabalhadores para os donos das empresas de mais de 3 mil mihões de euros anuais.
Desprotegeu-se o emprego ao facilitar-se o desemprego (por inadaptação), ao reduzir-as as obrigações do patronato por despedimento com extinção do posto de trabalho e ao embatatecer-se o despedimento: cortou-se as compensações por despedimento primeiro de 30 para 20 dias por ano de antiguidade (depois, para 12 dias) e limitou-se o seu montante até 12 salários mínimos. Embarateceu-se o trabalho ao cortar a metade o preço das horas extraordinárias em dias úteis, tornando quase gratuito o trabalho aos domingos e dias feriados, e acabando com o descanso suplementar por trabalho suplementar, passando a lei a um constituir um verdadeiro incentivo ao uso de trabalho suplementar. Além disso, criou-se o banco de horas que resultou num torpedeamento aos horários de trabalho limitados por lei, aumentando em duas horas de trabalho por dia, não pagas. Transformou-se 4 feriados em dias de trabalho. Retirou-se aos trabalhadores os 3 dias de férias dados por assiduidade. Penalizou-se faltas coladas aos feriados ou fim de semana cortando-se no salário não só no dia em falta como nos dias de descanso. Permitiu-se às empresas decidir transformar pontes em período dde férias, descontando esses dias nas férias dos trabalhadores. Faciolitou-se o lay off.
E para quê?
As medidas adoptadas em Agosto de 2012 visavam reduzir os custos salariais das empresas como forma de dar uma maior margem às empresas, para se tornarem mais produtivas e competitivas. Era uma política de promoção de baixos salários que, aliás, ainda vigora. E que nos tem conduzido à consolidação de uma estrutura da economia assente em baixos salários que a suga para a estagnação em espiral.
Mas na altura a equipa de Santos
Pereira - onde lá estava Pedro Martins - estimava um impacto positivo com um crescimento do emprego de "2,5% no curto prazo e 10,5% no
longo prazo". Vejam-se os dados facultados então pelo Governo, publicado no jornal Público a 1/8/2012:
Mas não foi isso que se passou.
O conjunto das medidas aprovadas pelo Governo a que se juntaram estas iriam, na realidade, provocar uma recessão
de tal ordem que o desemprego oficial subiu a 17% e a "subutilização
do trabalho" - vulgo desemprego em sentido lato - chegou a 25% da
população activa! Mas na verdade esse efeito na subida do desemprego
fazia parte do plano, como forma de quebrar a resistência dos
trabalhadores à descida dos salários nominais. O voluntarismo dos fanáticos aprendizes de feiticeiro levou todavia à explosão descontrolada do desemprego.
Veja-se o progressivo embaraço na evolução das citações de Álvaro Santos Pereira recolhidas pela comunicação social: