domingo, 21 de novembro de 2021

Passagens


No seu clássico A Era das Revoluções (1789-1848), Eric Hobsbawm indica que um intelectual, considerado, nos anos noventa do século XVIII, um perigoso radical jacobino em Inglaterra, quando se deslocava para França descobria-se um moderado girondino. Os contextos contam. Cuidado com as passagens.

Para lá de sermos uma pequena e muitas vezes desconsiderada periferia, lembro-me sempre daquela indicação do meu historiador favorito quando conhecidos intelectuais de esquerda, sobretudo norte-americanos, se deslocam a Portugal e falam sobre nós. Nos EUA até parecem radicais, mas cá as suas prescrições são basicamente as do extremo-centro: é comer e calar, dado que tudo se decide em Bruxelas-Frankfurt. O último foi o historiador Adam Tooze.

Felizmente, apesar de todos os grandes recuos, os termos das nossas instituições e dos nossos conflitos ainda conservam aqui e ali marcas da última grande revolução na Europa: basta pensar que a proposta de saúde de Bernie Sanders é por cá a das direitas. O ponto de partida conta, incluindo para socialistas apostados em iniciar uma reforma verdadeiramente estrutural. Já agora: aqueles que depositam todas as esperanças na política dita global, ou seja, as mais das vezes inspirada pelos termos dos EUA, estão muitas vezes a depositar esperanças em mínimos denominadores comuns regressivos para muitos.

Fico alarmado quando vejo gente de esquerda demasiado enlevada com os EUA, embora ninguém possa dizer que escapa em algum momento ao poder de sedução do império em declínio e sobretudo ao dos bravos socialistas que por lá agem, e são cada vez mais, mas num quadro mais desfavorável, quando olhamos com realismo para as relações de força e suas traduções institucionais: da saúde pública à liberdade conquistada pelo número de dias de férias.

4 comentários:

Jose disse...

O número de dias de férias como padrão de socialismo, diz o quanto a nossa originalidade se traduz no culto do ócio.

TINA's Nemesis disse...

A brava Alenxandria Ocasio-Cortez é tão mas tão valente ao ponto de alterar o voto "não" contra o financiamento de mais um empreendimento militar israelita (Iron Dome) para "presente", e alterou o voto porque a Pelosi a mandou alterar.
AOC é tão rebelde, tão mas tão anti-Status Quo!
Como é que ela consegue ser tão rebelde?

AOC Appears To Cry After Switching Israel Iron Dome Vote From 'Nay' To 'Present'

https://www.youtube.com/watch?v=Q1xlApcXEcs

Tenho a certeza que os palestinianos estão muito agradecidos à rebelde "socialista" que vai a festas de super-ricos com "Tax The Rich" escrito no vestido...

Bernie Sanders e AOC são tal e qual como os "socialistas" daqui do burgo, odoram usar a retórica social-inclusiva mas é apenas para o espetáculo, carreiras e egos.

As coisas mudam quando os povos se fartam de ser abusados pela classe dominante, espero que haja verdadeiros lideres que respondam aos anseios das populações, Sanders, AOC e outros "progressistas" revelaram ser não mais que um esquema de captação de votos para o Partido "Democrata".

A minha atitude em relação a políticos é a seguinte:
Os políticos existem para servir o povo, se não estão nas posições em que se encontram para o servir não estão a fazer o trabalho que lhes é devido!
Eu dou atenção aqueles que se apresentam como tendo vontade para alterar as coisas para melhor, a partir do momento que eu percebo que não são sérios deixo de os levar a sério.

Jose disse...

Isto de a AOC concordar que os israelitas possam organizar-se para não levar com uns rockets é verdadeiramente 'não socialista'!

TINA's Nemesis disse...

Isto do Estado Norte-Americano dar todos os anos biliões de dólares ao Estado israelita para assassinar palestinianos é o tipo de "socialismo" que o "Jose" gosta!

Outro tipo de "socialismo" que o "Jose" gosta é o Estado português sustentar o negócio da doença privado e todas as outras negociatas privadas.
Este "socialismo" tem o aval do "Jose", Saraiva da Silva, Ferraz da Costa, João Cotrim de Figueiredo, Passos Coelho, Paulo Rangel, Acabado Silva... estes adoram um certo tipo de "socialismo", adoram o dito "socialismo do pote"!