segunda-feira, 15 de novembro de 2021

Como é que se diz irresponsável em japonês?

Com uma dívida pública de 266% do PIB, o Japão anunciou mais um pacote de estímulos à economia de mais de 300 mil milhões de euros. Como terão reagido os “mercados” a tamanha irresponsabilidade, se nos guiarmos pela ideologia das finanças ditas sãs? E o que é que isso importa naquele contexto? 

O Estado japonês está endividado na moeda por si controlada, o que significa que o Banco do Japão determina as condições de financiamento em função da estratégia estatal. Metade da dívida do Japão é detida pelo Banco Central e o resto basicamente por outros japoneses: o Japão deve ao Japão. Para que os cidadãos possam poupar, o Estado tem de gastar. A despesa que é rendimento tem de vir de algum lado. E quanto mais a dívida cresce, mais a taxa de juro desce, vejam lá. 

Num certo sentido, a abordagem monetária aí seguida na prática é tão simples que a mente bloqueia. Grande parte da abordagem económica convencional, seguida nos conselhos de finanças públicas e nas Sedes de poder desta desgraçada e medíocre vida, destina-se a fazer com que a mente bloqueie e a pensar nos arranjos institucionais para que ao bloqueio intelectual corresponda um bloqueio político cada vez mais forte. Para salvar a situação, os bancos centrais têm hoje de superar estes bloqueios, ao mesmo tempo que garantem não o estar a fazer. 

É que não convém que os cidadãos compreendam que os constrangimentos não são financeiros, mas sim reais: tudo o que os japoneses conseguirem fazer para lidar com os problemas reais, os japoneses conseguem pagar. Devem sentir-se mais livres por isso a oriente, com uma abordagem funcional às finanças públicas. Não há que ter medo, mas sim segurança social e confiança nacional.

2 comentários:

Jose disse...

Isto de ter um povo disciplinado, instruído, trabalhador, que transforma a poupança em empréstimos ao Estado (diria até patriótico, não fora o desuso da expressão), é uma comodidade para os governos favorecerem as empresas e a economia do país.

Inês Meneses disse...

mais fácil poupar quando se recebe salários que não são de mera sobrevivência