segunda-feira, 22 de novembro de 2021

Desplante (II)

Desengane-se quem pense que Álvaro Santos Pereira é caso único, entre os ex-ministros da maioria PSD/CDS-PP, a ter o desplante de se indignar com as consequências de medidas que o próprio defendeu e aprovou. No caso, como aqui assinalou o João Ramos de Almeida, queixando-se da situação laboral precária em que hoje se encontram muitos jovens (60% na faixa entre os 20 e os 30 anos), quando tudo fez para facilitar despedimentos e embaratecer os encargos das empresas, na senda do «empobrecimento competitivo» e da «economia do pingo» que não pinga.

Não, Santos Pereira não está só. Na área da Educação, o ex-ministro Nuno Crato, que em 2012 considerava «haver professores a mais», assegurando que a sua redução era «inevitável nos próximos anos», vem agora, com uma imensa lata e cara-de-pau, dizer que «a falta de professores é um drama anunciado há muito tempo», acrescentando que ele próprio, em 2006, alertara para o facto de «daqui a algum tempo, daqui a 10, 15, 20 anos vamos ter falta de professores, e é preciso fazer alguma coisa».


E na verdade Nuno Crato fez «alguma coisa». Enquanto foi ministro da Educação (2011-2015), reduziu o número de educadores e docentes do básico e secundário em -22% (cerca de -39 mil, num universo que rondava os 180 mil em 2010), com particular incidência no 2º e 3º ciclo do básico e ensino secundário, agravando os rácios professor/aluno (ver aqui) e tirando assim, a si próprio, o tapete dos argumentos da quebra da natalidade e do declínio demográfico, então invocados. Nada que se estranhe, contudo, do ministro da Educação de um governo liderado por Passos Coelho, o primeiro Primeiro-ministro que, em Portugal, aconselhou os professores a emigrar.

4 comentários:

Anónimo disse...

Onde estao os reportas de entao? Deviam chamar atencao esses mentirosos afrente de toda gente,para que os Portugueses que ainda usam a sua cabeca para penssar e nao para criar pulgas.
parabens pelo excelente artigo.

Jose disse...

O facto de acabarem com as escolas em associação, ou lá como isso se chama, mais as reformas, não tem nada a ver com isso?
Em 10 anos com tanta reversão e invenção, não passou nada?
Continuam a mandar gente de uma ponta para outra do país, mais horários zero, mais 22 sindicatos abastecidos de sindicalistas, mais o que não me lembra, e continuam a ser importante as 'mentiras' com DEZ anos dos quais SEIS de geringonça?

É preciso ter lata!!!

Anónimo disse...

Caro José

Há falta de professores em todos os sectores, ainda não deu conta pelos vistos. E só não há menos porque a maioria tem uma idade em que já não se pode mudar de profissão, de outro modo muitas escolas, por todo, fechariam.

Anónimo disse...

O PPD/PSD é o que sempre foi: uma federação de deserdados do fascismo e de videirinhos, sempre de olho no pote. Bem tenta o ephemero Pacheco Pereira sugerir costelas de nobreza maçónica ao partido...A realidade regressa sempre a galope!