Confirmando que os patrões do turismo, tal como os da agricultura, são do piorio, Raul Martins, presidente da Associação da Hotelaria de Portugal, informou-nos ontem que estão “em contacto com o Governo” para que se criem “fluxos de importação de mão-de-obra com países específicos”, das Filipinas a Cabo Verde. Maravilhas da globalização realmente existente: chama-se arbitragem laboral global a este tipo de práticas na economia política internacional.
Vale tudo para não terem de aumentar os salários, em face da suposta “falta de mão-de-obra”. O ideal nestes sectores é que exista uma fila de gente disposta a trabalhar pelo salário baixo que estão dispostos a pagar. Não é defeito, é feitio de classe, dadas as características estruturais destes sectores, na ausência de freios e contrapesos regulatórios adequados.
Como sempre acontece no capitalismo, tudo passa pelos poderes públicos, padrão que a pandemia tornou absolutamente visível. De resto, para lá das moratórias, da capitalização das empresas, de uma série de infra-estruturas variadas, da força de trabalho barata e culturalmente adequada, da vacinação, do lay-off, de alterações regulatórias, para permitir que estudantes trabalhem mais horas, por exemplo, Raul Martins, como bom liberal-conservador que dá sinais de ser, só quer que o Estado os deixe em paz...
4 comentários:
Raul Martins falou com os representantes da Comissão Europeia vulgo “Governo de Portugal” para informar o “socialista” Costa de que desta vez os contentores já vêm equipados com WiFi…
Era o que faltava nos contentores onde os trabalhadores asiáticos da agricultura intensiva em Odemira habitam…
Uber, Odemira, hotelaria, crise da habitação… Isto está tudo ligado, é o Capitalismo em declínio, e a História nos conta quando um sistema entra em declínio a pilhagem da sociedade intensifica-se até não restar grande coisa.
Mas sejamos pacientes, se conseguimos aguentar uma recessão profunda resultante daquilo que se passou em 2007/ 08, para depois ser deliberadamente transformada numa depressão em partes da Europa, se estamos a conseguir aguentar outra depressão resultante de uma crise de saúde pública tenho a certeza que vamos sobreviver ao apocalipse ecológico…
Não adoram quando os nossos “líderes” nos mentem descaradamente quando dizem que isto está cada vez melhor?!
Para lembrar os esquecidos ou aqueles que nunca souberam, não era suposto ser assim, era suposto que a Social Democracia evolui-se para algo superior.
Às vezes, vale a pena viajar um pouco no tempo, para perceber o estado a que isto chegou e a quem devemos atribuir responsabilidades...
Quais eram os Grandes Objectivos Estratégicos do Bloco Central durante a interregno de 1983-1985, quando vivíamos a crise inerente à aplicação de um "plano de estabilização" do FMI, fortemente restritivo nos planos social e financeiro? Eram pelo menos dois, sem dúvida indissociáveis um do outro: a "Entrada de Portugal na Europa", através da adesão à CEE, e a "Paz Social em Portugal", através do chamado "Diálogo Social". E, logo em 1984, o PS e o PSD entenderam-se para criar o chamado "Conselho Permanente de Concertação Social", envolvendo o Governo, as confederações patronais - CIP, CAP e CCP (a confederação patronal ligada ao turismo chegou mais tarde)- e a "central sindical" que era correia de transmissão de ambos, a chamada UGT.
Depois da entrada na CEE em 1986, com uma disfuncional Geringonça Soares-Cavaco à frente disto tudo, vivemos a entrada na chamada "União Europeia", com o tratado de Maastricht; e, anos mais tarde, vivemos a entrada - no pelotão da frente, graças a uma Geringonça Guterres-Marcelo (!) - na famigerada "Moeda Única", uma moeda do eixo germano-francês que, mesmo depois do Brexit, ainda não é a única moeda no âmbito da dita União Europeia. Uma "moeda" que traz no bojo um sistema de dominação da periferia pelo centro da chamada Eurozona, desenhado para aproveitar essencialmente aos dominantes e de que os dominados, uma vez "agarrados", tenham cada vez mais dificuldade em libertar-se.
No quadro desta "Moeda Única" e desfeito o mito de um desenvolvimento do País com base na sempre adiada "solidariedade europeia" - mais bazuca, menos bazuca -, resta-nos "apostar no Turismo" (o Plano B de PS e PSD).
Só o Turismo? OK, "O turismo, o jogo, a prostituição"...
A. Correia
Este é um ponto onde a esquerda pode perder muitos votos. Penso que nenhum partido de esquerda é contra a imigração.
Tu dizes "imigração", eu digo tráfico humano...
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