quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Possível guia para eleitores de esquerda que ainda não sabem em quem vão votar

Hoje, que ficamos a saber a data das eleições legislativas, deixo aqui um guia em 10 pontos para eleitores de esquerda que ainda não sabem em quem vão votar.

1. Não deixem de votar (faça chuva ou faça sol).

2. Não votem em partidos que defendem o desinvestimento nos serviços públicos de saúde, educação e protecção social - seja em nome da "maior eficência", da "liberdade de escolha", ou de outra desculpa do género.

3. Não votem em partidos que admitam viabilizar governos cujo programa inclui o descrito em 2.

4. Não votem branco nem nulo (o efeito prático seria o mesmo que o dos três pontos anteriores).

5. Votem no PS apenas se este se comprometer com avanços concretos nas áreas em que mais deveria ter avançado desde 2015, em particular: na contratação colectiva (para reequilibrar o poder negocial entre sindicatos e associações patronais), na exclusividade dos profissionais do SNS (o que exige uma melhoria das condições remuneratórias e de carreira para quem aderir a este regime), no investimento público (que atingiu os níveis mais baixos da democracia nas anteriores legislaturas) e nas regras de evolução dos salários dos trabalhadores em funções públicas (que perdem poder de compra há duas décadas, afastando cada vez mais jovens de funções essenciais para o nosso futuro comum).

6. Votem no PCP apenas se não apresentar condições mais exigentes para viabilizar uma nova proposta de orçamento que venha a ser apresentada pelo PS (caso este venha a formar governo) das que apresentou na negociação do orçamento que foi chumbado (por exemplo, no que diz respeito à evolução do salário mínimo, dos salários da função pública e das contas públicas) - e, de preferência, se der sinais de disponibilidade para se aproximar das posições do PS.

7. Votem no BE apenas se não apresentar condições mais exigentes para viabilizar uma nova proposta de orçamento que venha a ser apresentada pelo PS (caso este venha a formar governo) das que apresentou na negociação do orçamento que foi chumbado (por exemplo, no que diz respeito às alterações à lei laboral, às regras da segurança social e às contas públicas) - e, de preferência, se der sinais de disponibilidade para se aproximar das posições do PS.

8. Caso as condições referidas em 5, 6 e 7 (ou duas delas) se verificarem em simultâneo e/ou houver outros partidos que não violem as condições 2 e 3, votem em quem mais confiam.

9. Se não estiverem seguros quanto à confiança que têm em cada partido, façam pim-pam-pum entre aqueles que passaram os testes anteriores.

10. Se não gostarem deste guia, façam o vosso. De preferência, que inclua pelo menos os pontos 1 a 4.

10 comentários:

Anónimo disse...

PSOE e Unidas Podemos anunciam acordo para revogar reforma laboral da direita,este acordo só foi possível porque as esquerdas (a esquerda do Psoe) convergiram e concorreram em listas conjuntas.

Anónimo disse...

Entretanto, foi divulgada hoje uma sondagem da Aximage sobre a crise em curso em Portugal, neste Outono quente (e trata-se mesmo de um "aquecimento global" na vida política deste país):

https://www.dn.pt/politica/maioria-dos-portugueses-concorda-com-eleicoes-antecipadas-14285742.html

- Quem é o maior culpado da crise? Portugueses dizem que é o PS (!): PS em primeiro lugar (28%), BE (21%) e PCP (18%) depois, são, na perspectiva dos portugueses, os principais responsáveis pelo chumbo do Orçamento do Estado para 2022 e pela crise política aberta.

- A actuação do Presidente da República, nesta crise, associada à antecipação das eleições, só é aprovada por 42% dos portugueses.

- 54% dos potugueses consideram que a antecipação das eleições será negativa para o país; no caso particular dos eleitores do PS de há dois anos, a percenttagem sobe para 75%.


Estes resultados, obtidos nos dias logo a seguir ao chumbo da proposta de OE2022, mostram claramente que a opinião pública em Portugal difere bastante da opinião publicada, sendo mesmo quase diametralmente oposta ao que é propagandeado pelo grosso do comentariado portuga nos canais de TV. Prevejo que a persistente tentativa de lavagem ao cérebro dos cidadãos eleitores se vai intensificar até ao dia das eleições...

A. Correia

Paulo Guerra disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Jaime Santos disse...

Ricardo Paes Mamede, este post permite concluir algumas coisa acerca das suas posições e gostos. Primeiro, gosta da ironia, o que não é sempre trivial à Esquerda, segundo teria preferido que o OE passasse graças a mais cedências do PS.

Mas o que acontece se cada um dos Partidos violar as condições que lhes coloca, o que não é assim tão improvável?

Deveria pois haver uma regra como aquela dada por Orwell sobre como escrever bem em Inglês: viole estas regras se ao segui-las estiver a facilitar o trabalho à Direita...

Ao Anónimo das 14h33 - É exactamente esse o meu ponto. Se as Esquerdas estão a falar a sério, coliguem-se e ponham as cartas na mesa...

Ao A. Correia - Por acaso, eu já tinha dito que o PS seria provavelmente o Partido mais penalizado pela crise. Isso por si não segue necessariamente da sondagem, mas as pessoas consideram sempre que quem governa em minoria é que tem que fazer maiores esforços para fazer passar os seus diplomas e podem fazer reflectir essa opinião nas urnas. c

E depois, elas não vivem na bolha do comentariado, e a maioria prefere provavelmente a novela aos dislates do Louçã ou do Marques Mendes. E como António Costa também não vive seguramente nessa bolha, ele sabia isso muito bem. A tese da conspiração de Louçã (e que algumas pessoas de Esquerda parecem secundar) não faz pois qualquer sentido...

Já agora, a soma dos que acreditam que BE ou PCP-PEV são os principais responsáveis, um ou outro, é 39%!

Nenhuma das Esquerdas deve sentir-se contente com esta sondagem... Era previsível que um chumbo do OE redundaria nisto...

Depois queixem-se quando Rangel liquidar a TAP, como disse que faria no programa do RAP...

José M. Sousa disse...

Basicamente, o Ricardo Paes Mamede apela, com este guia, ao voto no PS!

TINA's Nemesis disse...

Para o eleitorado que está farto de ser ludibriado.

- Não votem em partidos europeístas pois o europeísmo é sinónimo de ataque às funções sociais do Estado, ataque aos interesses do trabalhador e com "Mais Europa" Portugal nunca mais sai do pântano em que se encontra há já tanto tempo.

- Não votem em partidos que dizem ter planos para acabar com a austeridade, a precariedade, resolver o grave problema da habitação, etc. mas depois vão ao beija-mão em Bruxelas.
Podem ter os melhores planos de todos, e até concordo com tanto com o que defendem, mas se não estão dispostos a tirar o poder a quem anda a impor a ideologia da austeridade aos povos então não vale a pena, só estão a criar frustração na população.

Carlo Marques disse...

Discordo do Ricardo Paes Mamede (RPM) quando diz que NÃO devemos votar à Esquerda (PCP ou BE) caso estes partidos sejam mais exigentes e coloquem mais condições.
Então o que o RPM está a dizer é que acha que estes partidos devem continuar a enganar os eleitorados como desde 2019 até aqui, onde finalmente disseram a verdade (que o PS não merecia continuar a desgovernar com tão maus orçamentos, e cativando a maioria do pouco que ia negociando com a Esquerda).

O RPM está dizer que, se o PS fizer a promessa pela 7ª vez seguida de 30% ou 40% de aumento de investimento público, que como sabemos fica cativado e faz de Portugal o país da UE que menos investe, resulta em investimento líquido negativo (ou seja o que se investe não chega sequer para compensar o que naturalmente se perde), e faz de Portugal uma das economias da OCDE que menos vai recuperar e mais tempo precisará para o fazer, então a Esquerda deve continuar a assinar de cruz em nome dessa mentira propagandística do PS, em vez de aumentar a exigência na fiscalização de tal orçamento?!
Não, meu caro RPM, é exatamente ao contrário, quer neste, quer em muitos outros exemplos: carreiras cuja definição é prometida mas depois adiada com a barriga, outras rúbricas também cativadas, como a dos cuidadores informais, que já vão no 3º orçamento em que o PS lá promete colocar 30M€ (portanto 90M€em 3 anos) e na realidade nesses 3 anos só executou 1M€, mesmo sabendo que isto era uma coisa importante, para essas pessoas, e porque negociada com um parceiro (BE) que garantia a continuidade do governo.

Agora que a farsa já não cola mais, agora que as CONTAS ERRADAS do governo estão à vista de todos, havendo nesta crítica das cativações UNANIMIDADE na sociedade portuguesa da Esquerda à Direita (exceto nos sectários do PS), agora é hora de exigir mais, de exigir um mecanismo que permite que o Ministro das Finanças seja fiscalizado por uma comissão feita com deputados da Esquerda que seguram o governo. Se o orçamento for cumprido, eles continuam a negociar, se o Leão continuar a vigarice de Centeno, o governo cai, com toda a justificação, tal como caiu agora.

E depois temos a questão de quem é que governa e com o programa de quem. É inadmissível, e até anti-democrático, que pessoas do PS digam "isto é o que aceitamos, o nosso programa, os nossos ideais, e vocês só podem negociar o modo e o ritmo daquilo com que concordamos".
Não! O BE e o PCP têm toda a legitimidade de exigir sair da NATO, de exigir que se cumpra a Constituição da DEMOCRACIA soberana portuguesa em vez das regras do € que NÃO foram escrutidadas por qualquer eleitor. E aos que dizem "isso é a Extrema-Esquerda, não se pode sequer discutir", eu respondo com a pergunta: então qual é o governo da tal "extrema" Esquerda que mantém fora da NATO a Suíça, a Áustria, a Suécia, a Finlândia, e a Irlanda? Qual é o governo da "extrema" Esquerda que mantém fora do € a Dinamarca, a SUécia, a Chéquia? Qual o governo da "extrema" Esquerda que recusou aderir à União Europeia na Suíça, Noruega, Islândia, ou efectuou o Brexit no Reino Unido?

Não, meu caro RPM, o seu discurso é que não é aceitável. A Democracia distingue-se dos outros regimes porque aqui não há tabus, e a opinião não é um delito! Tenho pena de o ver cair do lado escuro da força, com esse paleio do "a Esquerda não pode pedir mais" - quando é óbvio que o problema foi a Esquerda ter pedido de menos, algo que é ainda mais óbvio quando nos comparamos com outros países na Europa, em especial os Nórdicos, mas agora também com Espanha, onde o "BE" lá da zona (o Podemos) entrou no governo e em troca das suas cedências (menos do que as que o BE e PCP fizeram), conseguiu mais cedências do "PS" lá da zona (o PSOE), como por exemplo na reversão das malfeitorias NeoLiberais feitas às leis do trabalho.

(continua)

Carlo Marques disse...

(continuação)

A Esquerda Portuguesa (BE e PCP) tem é de ir mais longe, e mostrar os exemplos daquilo que defende nos outros países civilizados. A taxa de sindicalismo nos nórdicos, a carga fiscal elevada que não deixa ninguém descontente (nem os nórdicos de Direita), pois sabem os bons serviços que têm em troca, a intervenção do Estado na economia (onde a Noruega é o exemplo dos exemplos), ou a recusa em usar dinheiro dos contribuintes para salvar bancos privados (como a Islândia só pôde fazer porque estava FORA do €) e aplicar controlo de capitais durante a crise, para que os ricos não fugissem com o rabo à seringa que apanha sempre os menos ricos.

A Esquerda tem de ir muito mais longe, especificamente exigindo a re-nacionalização dos CTT (onde é acompanhada com o voto a favor do PAN), na re-nacionalização da ANA e da REN, etc. Coisas que, como se tem visto, ficam bem mais baratas a médio/longo prazo, do que andar a privatizar tudo o que é lucrativo só para ter um dinheirito no curto prazo, mas depois ficar para sempre sem os dividendos, sem os impostos, e sem instrumentos de política económica. Algo que PS e Direita, no seu fanatismo NeoLiberal e Eurocorno, quer agora fazer também na segurança social (ex: plafonamento) e no SNS. Só assim se explica como o PS recusou proposta do BE que era baseada nas ideias de Arnaut (o pai do SNS) no livro que escreveu com Semedo a explicar o que era preciso fazer para manter viva a maior conquista da Democracia, obtida em 1979 com os votos do PS, UDP (BE) e PCP, a Geringonça inicial, democrática, e reformista progressista, de que muitos se querem esquecer...

Dito isto, se o PS voltar a recusar acordos escritos, a Esquerda deve ser clara e apresentar moção de censura, obrigando o PS a mostrar que quer governar com o PSD. E se o PS aceitar, mas o fizer com uma Esquerda de mínimos (ex: 9 propostas do BE baseadas em ideias do PS) e a não exigir uma ampliação do âmbito desses acordos, então sou eu que passo a votar à Direita, só para que o PS não continue a governar com os actuais vigaristas que se dizem "de Esquerda" ou campeões do "aumento do investimento", mas na realidade passam o tempo todo a votar ao lado do PSD e a cativar o que o país mais precisava. A continuidade desse pântano é que eu não aceito!

Ah, e quero também medidas efectivas para aumentar todos os salários, em vez de ser só o mínimo, e quero viver num país entre iguais, e não num país de privilegiados que trabalham 35h/semana, enquanto outros têm de fazer 40h/semana e ainda fazer horas extraordinárias pagas pela metade graças aos cortes da troika que o PS quer manter. Isto deve ficar tudo esclarecido nesta campanha e debates, e se o PS continuar a não ceder (aka negociar) como o PSOE tem feito, então eu tudo farei para deitar esse governo abaixo, nem que depois vá para lá o PSD com os fascistas. Chama-se a isso #karma. A alternativa é emigrar de vez...

Anónimo disse...

Óh Jaime Santos, por amor da Santa Morrunhanha, esse comentário (4 de Novembro de 2021 às 20:39) é o cúmulo da falta de lógica. Com que então:

«Já agora, a soma dos que acreditam que BE ou PCP-PEV são os principais responsáveis, um ou outro, é 39%!»

- então porque não soma os que condenam o PS+BE, ou soma PS+CDU, ou PS+PSD?
- ou porque ignora que o PS é o mais responsabilizado de todos, quando medidos individualmente?
- ou já agora, como não percebe que esses 39% dessa sondagem são exatamente iguais aos 39% de intenção de voto no PS, ou seja, os que condenam BE+PCP são o eleitorado do PS que tem andado a ser enganado pela propaganda do seu próprio partido.

Quanto à bolha, eu diria que não há bolha maior do que achar que este orçamento (mau se fosse executado a 100%, péssimo se fosse cativado como de costume) devia ter sido viabilizado.
Portugal tem investimento de tal forma baixo, que é o país da Europa que menos o fez nestes 2 anos, aliás nem se pode chamar a isto de política contra-cíclica, quanto mais o "orçamento mais à Esquerda de sempre".

E a questão vai muito além de ser de Esquerda ou de Direita. O orçamento é mesmo mau. E incompatível com qualquer negociação, quando medidas anteriormente negociadas com o BE ficam 3 anos seguidos só com 3% de execução, ou seja, 97% cativadas! Como é o caso dos 30 milhões (de ilusões) para os cuidadores informais.

E depois vamos ver as actualizações salariais e este ano o salário mínimo (mesmo só nos 705€) iria atingir o início da carreira dos técnicos da administração pública, que há uns 10 anos era 300€ superior ao salário mínimo!

E quanto ao salário mínimo, se em Espanha já vai para 1000€, se na Alemanha tem aumento de 400€ num só ano, em Portugal ia "aumentar" numa percentagem igual à inflação esperada (+4%) para 2022. Ou seja, os que mais sofrem com a inflação iriam ter um "aumento" que lhes acrescenta ZERO no poder de compra. Ilusões à lá PS e patronato facho...

E vamos a mais conteúdos: qual a justificação do PS para recusar ideias de Arnaut (pai do SNS) que o BE apresentou, para salvar o SNS numa altura em que faltam médicos e fecham serviços?!
Qual a justificação do PS para recusar uma medida nas pensões que acaba com uma DUPLA penalização, e que foi proposta pelo próprio Vieira da Silva (o Ministro do PS cujas ideias garantiram a sustentabilidade da segurança social)?
Qual a justificação do PS para defender a continuação da troika na lei laboral, como tão bem formula o BE? O corte nas indemnizações, o corte na contratação colectiva (e como tal um corte indirecto nos salários médios), e o corte abusador na remuneração paga pelas horas extraordinárias? (isto num país onde se viola o seu limite sistematicamente, e que graças ao PS ainda tem o retrógrado sistema das 40h semanais no sector Privado)?

Anónimo disse...

Maior desinvestimento no sector público do que aquele feito por ps/pcp/ be e tutti quantti, nestes 6 orçamentos? Outro que acha que a troika apareceu do nada. Vai ser bonito ouvir estas tretas de partidos de esquerda, na campanha que se avizinha, com a ladaínha do "social", mas foram os piores inimigos. Mentiram, mantendo a austeridade encapotada, que se manifesta agora entre outros, no sns. Levaram 6 anos a "perceber" o que se passava. Ainda por cima, acham que os portugueses são burros. Em 6 anos, cativaram e obedeceram a Bruxelas. Nada mais. Conversas de tretas de esquerda são isso mesmo, conversas da treta.