Berlim, 30 de abril de 1945; Saigão, hoje Ho Chi Minh, 30 de abril de 1975. As forças da vida, com as suas bandeiras, derrotam o nazifascismo, com o suicídio de Hitler, e o imperialismo norte-americano, com a libertação de Saigão.
quarta-feira, 30 de abril de 2025
Não acabou
Berlim, 30 de abril de 1945; Saigão, hoje Ho Chi Minh, 30 de abril de 1975. As forças da vida, com as suas bandeiras, derrotam o nazifascismo, com o suicídio de Hitler, e o imperialismo norte-americano, com a libertação de Saigão.
E o «-Liberdade», depende de quê? Da desinformação?
As contas para chegar aqui são todo um programa. Incluem funcionários públicos (10%), beneficiários de subsídios de desemprego e RSI (4%), pensionistas (35%) e até trabalhadores que recebem salário mínimo (12%), com o argumento de que este é «estabelecido pelo Governo». «Dependências do Estado» a que a IL gostaria inconfessadamente de pôr cobro, para eleger governos à la Milei. Ou seja, governos que desprezam a existência de salário mínimo e legislação laboral, apoios ao desemprego e prestações sociais, antes advogando a privatização do sistema de pensões e a redução drástica do emprego público e de serviços públicos.
Vítor Bento, IL e «-Liberdade» deviam começar por espreitar para lá da cerca e ver o que se passa por essa Europa fora. Talvez assim dessem conta que muitos dos países que apontam como modelo a seguir têm ainda mais «dependentes do Estado» do que nós. Da Finlândia à Suécia, da França à Dinamarca, da Áustria à tão aclamada Irlanda. Tanto funcionário público, pensionista, beneficiário de prestações sociais e trabalhador com o salário mínimo à viver à custa do Estado e a bloquear eleitoralmente, como cá (presume-se), as ditas «reformas transformacionais». Como é possível?
Embebidos na sua visão individualista do mundo e egoísmo desenfreado, não conseguem perceber coisas simples. Que não é necessário ser funcionário público para defender serviços públicos de acesso universal. Que não é preciso receber salário mínimo para defender a sua existência e equilíbrio e decência nas relações laborais. Que não é preciso estar desempregado ou em situação de pobreza para defender o acesso a apoios sociais. A linearidade que estabelecem entre «rendimentos» do Estado» e «dependência» eleitoral é reveladora da incapacidade de compreender a realidade para lá da lei da selva e da competição. Não alcançam o sentido de comunidade, solidariedade, empatia e justiça social. Como se não houvesse mais nada para lá do salve-se quem puder.
Deixai-vos de tretas
terça-feira, 29 de abril de 2025
Haja memória, haja luz na economia política
segunda-feira, 28 de abril de 2025
Abril, maio
Tal como nos 50 anos do 25 de abril, este ano, em Coimbra, milhares de pessoas marcharam da Praça da República ao Pátio da Inquisição, num ambiente de luta e de festa, com a imensa de alegria de quem sabe que luta por um país. Encabeçaram a manifestação centenas de estudantes, alguns com pancartas sábias.
sábado, 26 de abril de 2025
sexta-feira, 25 de abril de 2025
quinta-feira, 24 de abril de 2025
Curiosidades
Segundo o Diário de Notícias, o investimento estrangeiro em habitação em Lisboa, em 2024, rondou os 900 milhões de euros. Um valor em linha com o registado em 2023 (912 M€), em 2022 (910 M€) e em 2021, no pós-pandemia (957 M€). Curiosamente, estes cerca de 900 M€ de investimento estrangeiro em imobiliário residencial registados no ano passado, equivalem aos 900 milhões de euros de investimento em habitação que a Câmara Municipal de Lisboa aprovou, em dezembro de 2024, para os próximos dez anos. Ou seja, o investimento público significará, por ano, um décimo do investimento estrangeiro. Sintomático, não é?
Francisco, paz
quarta-feira, 23 de abril de 2025
Falar assim, escrever assim
Os jovens de todo mundo que vieram a Lisboa viver a alegria do encontro com Deus e com Francisco gritaram alto e bom som: «Esta é a juventude do Papa.» Se as consequências de um evento com a JMJ não são avaliáveis no imediato, há pelo menos a certeza de que Francisco, um jovem entre jovens, gera este entusiasmo por causa de uma genuína proximidade à vida concreta e às suas provações. Por essa razão é alguém escutado e observado no mundo de hoje — e não apenas pela comunidade católica. É certo que há quem o escute e observe a engolir em seco, a desdizê-lo, até a combatê-lo, mesmo dentro da Igreja. Mas também é verdade que há quem o faça com o sorriso cúmplice de quem descobriu um aliado.
terça-feira, 22 de abril de 2025
Caminho, chão
Também o caminho da Cruz está marcado a fundo na terra: os grandes afastam-se dele, gostariam de tocar o céu. Em vez disso, o céu está aqui, abaixado, encontramo-lo mesmo caindo, permanecendo no chão. Os construtores de Babel dizem-nos que não se pode errar e que quem cai está perdido. É o canteiro de obras do inferno. A economia de Deus, pelo contrário, não mata, nem descarta, nem esmaga. É humilde, fiel à terra. O vosso caminho, Senhor Jesus, é a via das bem-aventuranças. Não destrói, mas cultiva, repara, guarda.
Tradição de convergência
Faleceu o Papa Francisco, um Papa que marcou a Igreja, os católicos e outros cristãos nesta fase da história da humanidade com uma grande proximidade às causas da Paz, de defesa dos direitos económicos e sociais e de justiça para os excluídos desta sociedade “submetida a interesses financeiros”. As suas Encíclicas, designadamente Laudato Si’ e Fratelli Tutti, constituem um avanço importante na doutrina social da Igreja.
segunda-feira, 21 de abril de 2025
Jorge, Francisco
Ontem, um homem imprescindível, velho e frágil, partilhou uma Mensagem Urbi et Orbi sempre nova e luminosa, resumida numa frase: “Não é possível haver paz sem um verdadeiro desarmamento!”
domingo, 20 de abril de 2025
sexta-feira, 18 de abril de 2025
Pedalada
quinta-feira, 17 de abril de 2025
Feminismos há muitos
Perante a “notícia” – “Kate Perry faz parte da primeira tripulação totalmente feminina a ir ao espaço” –, o jornalista Bruno Carvalho, com quem tive o prazer de falar recentemente, mobilizou a memória histórica que tanta falta faz na atividade dos jornalistas, como na dos economistas, ambos tão desmemoriados:
quarta-feira, 16 de abril de 2025
João Cravinho
Morreu João Cravinho, o Engenheiro João Cravinho, um servidor público íntegro, um dos nossos melhores, independentemente das convergências e das divergências intelectuais e políticas, num percurso com tantas décadas.
terça-feira, 15 de abril de 2025
Mario Vargas Llosa
Faleceu ontem um dos meus romancistas de eleição - de Conversa na Catedral a Tempos Duros, passando pelo épico A Guerra do Fim do Mundo. Registe-se a discrepância avassaladora entre o brilho radical dos seus romances e a palidez reacionária do seu ensaísmo e intervenção política neoliberal.
segunda-feira, 14 de abril de 2025
Lembrar o evitável desperdício da troika
Quase dez anos depois, a dívida ultrapassa de novo os 120% mas a taxa de juro das obrigações do tesouro nacional a dez anos ficou-se por uns residuais 0,25% e assim permaneceu enquanto o BCE quis. É tão simples que a mente até pode bloquear: o banco central controla, se assim o desejar, as taxas de juro da dívida denominada na sua moeda e em todas as maturidades.
Retrospectivamente, toda a austeridade imposta a partir de 2010, com centenas de milhares de postos de trabalho destruídos (a taxa de desemprego atingiu os 17%) e com centenas de milhares de portugueses compelidos a emigrar, foi um evitável desperdício, feito em nome da consolidação de um modelo neoliberal. Tal facto deverá permanecer na memória colectiva como um momento revelador do preço que o país pagou naquele momento por ter abdicado da sua soberania monetária no final do milénio.
sexta-feira, 11 de abril de 2025
Dar a ver
quinta-feira, 10 de abril de 2025
Hegemonia
quarta-feira, 9 de abril de 2025
Regressão, capitulação
O neoliberalismo armado abre caminho ao neofascismo também na Alemanha, um país com toda uma história. São cada vez mais evidentes os variados mecanismos explicativos, incluindo a capitulação dos social-democratas com bombas, sacrificando a questão social, e dos verdes com bombas, sacrificando a questão ecológica. O antifascismo tem de ter substância programática: “fim do mundo, fim do mês, a mesma luta” faz cada vez mais sentido.
terça-feira, 8 de abril de 2025
Mitos dos liberais até dizer chega
Os liberais até dizer chega parecem-se com alguns dos bilionários que apoiaram Trump sobretudo por causa da sua agenda interna de intensificação da neoliberalização, de resto em curso. Nunca levaram a sério a questão do protecionismo trumpista. Perante a política comercial protecionista, que pode colocar em causa um elemento importante do neoliberalismo externo, descobrem-se subitamente críticos de Trump. Aproveitam para retomar todo um conjunto de mitos sobre a relação entre “comércio livre”, prosperidade e paz, convocando os seus santos padroeiros.
segunda-feira, 7 de abril de 2025
Para onde nos leva uma guerra comercial?
Na semana passada, o anúncio de tarifas comerciais generalizadas por parte dos EUA provocou ondas de choque no resto do mundo. Donald Trump anunciou a imposição de tarifas sobre as importações de mais de sessenta países, que vão dos 10% aos 50%, com o objetivo de atingir saldos comerciais equilibrados ou positivos com todos - isto é, passar a exportar tanto ou mais do que aquilo que importa desses países.
domingo, 6 de abril de 2025
Um jornal para não cairmos na armadilha
sábado, 5 de abril de 2025
Bom nome
sexta-feira, 4 de abril de 2025
Amanhã, em Lisboa
«A democratização do ensino garantiu o acesso a educação para todos, num caminho progressivo, incremental e com evidências notáveis, apesar dos ataques sucessivos à reputação do serviço público de educação. (...) Garantir a igualdade de acesso não significou garantir a igualdade de sucesso. O desafio da inclusão plena é ainda o principal. Em todos os países, mas em Portugal de forma agravada, a condição socioeconómica das famílias e a qualificação académica dos encarregados de educação (em particular das mães) continua a ser o principal preditor do sucesso escolar.»
Em mais uma iniciativa temática, a Causa Pública promove uma sessão de reflexão sobre Educação e Democracia, relevando as conquistas e desafios que persistem, sobretudo na perspetiva da inclusão, ao serviço público de ensino. O seminário tem lugar amanhã, sábado, na Escola Secundária D. Pedro V, em Lisboa, a partir das 10h00. Apareçam.
quinta-feira, 3 de abril de 2025
Viver para contar
O prestigiado Cost of War Project da Universidade Brown dos EUA fez mais uma contabilização reveladora, desta vez dos jornalistas mortos em Gaza: morreram mais jornalistas desde 7 de outubro de 2023 do que em várias guerras somadas, incluindo as duas mundiais.
quarta-feira, 2 de abril de 2025
A economia precisa da imigração?
1. O que é que se passa com a imigração?
2. Imigração e Segurança Social
O sistema de Segurança Social português funciona de acordo com o modelo “pay as you go”: em cada período, a despesa com pensões de reforma, subsídios de desemprego ou de doença e prestações familiares ou de parentalidade atuais é financiada através da receita obtida nesse período por via das contribuições. A lógica subjacente é de solidariedade intergeracional: as pensões de quem já trabalhou e descontou para o sistema são financiadas pelos descontos de quem trabalha hoje e que, quando se reformar, receberá uma pensão financiada pelos descontos de quem se segue.
Neste contexto, os imigrantes têm tido um contributo líquido positivo. As prestações sociais pagas a cidadãos estrangeiros totalizaram €687 milhões - ou seja, apenas 1/5 das contribuições pagas à Segurança Social. A estrutura etária dos imigrantes ajuda a explicar esta diferença: por serem, em média, mais jovens que a população nacional, a percentagem que recebe pensões de reforma é mais baixa. O contributo para a receita da Segurança Social é um aspeto positivo, mesmo que, ao contrário do que se costuma ouvir, a sustentabilidade da Segurança Social não esteja em causa (sobre este tema, vale a pena ler a economista Maria Clara Murteira, aqui ou aqui).
É importante evitar que estes dados conduzam a argumentos utilitaristas sobre o impacto da imigração. A relação entre descontos e pensões/subsídios pode inverter-se no futuro, nomeadamente quando os trabalhadores imigrantes se reformarem, e isso não constitui um problema, uma vez que se trata de um direito de todos os que trabalham no país. O que é relevante é perceber de que forma é que os imigrantes têm sido integrados na economia e na sociedade.
3. Que economia precisa da imigração?
Comecemos por olhar para os dados do emprego. Em 2023, os trabalhadores estrangeiros representavam 13,4% do total de trabalhadores por conta de outrem, de acordo com os dados do Banco de Portugal. O seu contributo para a taxa de contratação líquida da economia - ou seja, o saldo entre a criação e destruição de postos de trabalho - tem vindo a aumentar e, em 2023, foi mesmo decisivo para o crescimento do emprego em Portugal.
Mas há outros impactos relevantes. Ao levar a um aumento dos preços do imobiliário e de outros bens e serviços nas principais cidades, a sobrecarga turística faz aumentar os custos para todas as outras atividades económicas e prejudica a competitividade dos setores mais expostos à concorrência internacional, como argumenta o economista Ricardo Paes Mamede. Esta dinâmica pode contribuir para o declínio de setores industriais com maior incorporação de conhecimento e tecnologia e maior potencial produtivo, tornando-se um problema para o desenvolvimento da economia a médio prazo.
Em resumo, a resposta à pergunta inicial não é simples: embora seja verdade que alguns setores parecem aproveitar-se de trabalhadores imigrantes para manter um modelo de salários baixos e más condições de trabalho, em especial na agricultura e no turismo, também é verdade que os trabalhadores de outras nacionalidades têm assegurado o funcionamento de setores essenciais, como a própria agricultura ou os cuidados.
4. Economia e integração
Até aqui, a discussão esteve centrada no contributo da imigração para a economia. No entanto, seria um erro analisar este tema com base nesse critério. Todas as pessoas têm direito à mobilidade e este direito aplica-se tanto aos cidadãos estrangeiros que emigram para Portugal como aos cidadãos portugueses que emigram para outros países, por motivos económicos, familiares ou outros. Receber bem quem chega a um país é um princípio que não pode depender de uma análise cust-benefício.
A verdade é que o problema dos baixos salários, da precariedade e das dificuldades no acesso à habitação têm algo que os une: são comuns a quem já vivia no país e a quem chegou nos últimos anos. Dificultar a regularização de quem chega ao país só acentua a sua vulnerabilidade e a exposição a condições de precariedade ou informalidade no trabalho. E a nova “via verde” não parece resolver este problema, visto que, na negociação com as associações patronais, o governo suavizou bastante os critérios: a exigência de contratos de trabalho permanentes foi eliminada, abrindo a porta à precariedade, e não foram definidos critérios para o “alojamento adequado” que as empresas devem garantir.
Uma economia que promova uma boa integração tem de ser construída sobre alicerces muito diferentes. É preciso defender os direitos de quem trabalha e reforçar a capacidade de fiscalização, fornecendo os meios necessários à Autoridade para as Condições do Trabalho para combater situações de incumprimento ou aproveitamento dos empresários e garantir que os direitos são cumpridos com todos. É necessário inverter a tendência de desinvestimento nos serviços públicos - desde a saúde à educação ou aos transportes - que marcou a última década e que tem levado a uma perda de qualidade destes serviços, contribuindo para alimentar tensões sociais.
Além disso, é preciso ter uma discussão séria sobre o padrão de crescimento da economia portuguesa, que promove a criação de emprego mal pago e pouco qualificado, e sobre as estratégias para reduzir a dependência do tipo de setores intensivos em trabalho, em que a imigração é frequentemente vista como uma oportunidade para comprimir direitos laborais.
Boa parte dos problemas no acolhimento da população imigrante é consequência da forma perversa como a economia a tem integrado. O foco deve estar na construção de uma economia mais justa para todos os que cá vivem. Mais do que saber do que precisa a economia que temos, devemos preocupar-nos em saber de que economia é que precisamos.