quarta-feira, 30 de abril de 2025

E o «-Liberdade», depende de quê? Da desinformação?

É matemático. Entra-se em período eleitoral e o stink stank da Iniciativa Liberal volta à carga com um gráfico manhoso (a que cheguei através de Tomás Pereira), assente numa tese desconchavada que não cumpre, sequer, os mínimos de seriedade técnica. Partindo de um ensaio de Vítor Bento, escrito após as legislativas de 2022, a ideia é simples: desde 1980, o número de eleitores que «dependem do Estado» quase duplicou (de 34% para 61%). O que impede, de acordo com os defensores desta tese, que se façam as «reformas transformacionais» de que o país precisa.

As contas para chegar aqui são todo um programa. Incluem funcionários públicos (10%), beneficiários de subsídios de desemprego e RSI (4%), pensionistas (35%) e até trabalhadores que recebem salário mínimo (12%), com o argumento de que este é «estabelecido pelo Governo». «Dependências do Estado» a que a IL gostaria inconfessadamente de pôr cobro, para eleger governos à la Milei. Ou seja, governos que desprezam a existência de salário mínimo e legislação laboral, apoios ao desemprego e prestações sociais, antes advogando a privatização do sistema de pensões e a redução drástica do emprego público e de serviços públicos. 


Vítor Bento, IL e «-Liberdade» deviam começar por espreitar para lá da cerca e ver o que se passa por essa Europa fora. Talvez assim dessem conta que muitos dos países que apontam como modelo a seguir têm ainda mais «dependentes do Estado» do que nós. Da Finlândia à Suécia, da França à Dinamarca, da Áustria à tão aclamada Irlanda. Tanto funcionário público, pensionista, beneficiário de prestações sociais e trabalhador com o salário mínimo à viver à custa do Estado e a bloquear eleitoralmente, como cá (presume-se), as ditas «reformas transformacionais». Como é possível?

Embebidos na sua visão individualista do mundo e egoísmo desenfreado, não conseguem perceber coisas simples. Que não é necessário ser funcionário público para defender serviços públicos de acesso universal. Que não é preciso receber salário mínimo para defender a sua existência e equilíbrio e decência nas relações laborais. Que não é preciso estar desempregado ou em situação de pobreza para defender o acesso a apoios sociais. A linearidade que estabelecem entre «rendimentos» do Estado» e «dependência» eleitoral é reveladora da incapacidade de compreender a realidade para lá da lei da selva e da competição. Não alcançam o sentido de comunidade, solidariedade, empatia e justiça social. Como se não houvesse mais nada para lá do salve-se quem puder.

1 comentário:

Anónimo disse...

Vítor Bento? Fui logo à procura de notícias sobre a pensão do dito. Apareceram rápido: 5000 euros, 30 anos de serviço, 60 anos, Banco de Portugal. Fonte: sic notícias.

Ah, mas a pensão do BP não é pública. E eu posso escolher o supervisor? Posso trocar o BP pelo banco central holandês? Se é mais liberdade também a podemos ter aqui. Diria...

O liberalismo em Portugal é muito católico: é sempre venha a nós o vosso reino, quer dizer, a asinha do Estado.