O Paulo Coimbra e eu publicámos um artigo no Le Monde diplomatique - edição portuguesa do passado querido mês de Agosto que agora deixo por aqui, com referências omitidas e sem os dois gráficos, mas acompanhado de mais um excerto de um dos meus filmes preferidos, aproveitando para lembrar o óbvio: uma certa economia é só uma condição necessária, muito longe de ser suficiente, para um projecto nacional-popular.
Uma teoria da poupança que não poupa o país
Na recente apresentação do esboço do programa eleitoral do Partido Social-Democrata (PSD), Rui Rio defendeu a urgência de se promover, incluindo por via fiscal, «uma cultura da poupança» interna, em nome da necessária redução do endividamento externo do país e da promoção do investimento. Naturalmente, o programa do PSD reflecte a teoria económica convencional.
O economista Luís Aguiar-Conraria sintetizou num título da sua coluna regular esta teoria: «sem poupança não há investimento e sem investimento não há crescimento». Num estudo, em co-autoria, para a Associação Portuguesa de Seguros, este mesmo economista já havia identificado a provisão pública da Segurança Social como uma das causas institucionais desta escassez de poupança. Por sua vez, o economista Vítor Bento também já havia dramatizado a questão, no fundo «cultural», numa entrevista: na ausência de hábitos de poupança por parte dos portugueses, a acumulação de capital continuará a ser baixa e dependente do estrangeiro, sendo a «própria soberania nacional que fica em causa», num país desta forma reduzido a um «estatuto quase colonial».
Com ilações mais ou menos dramaticamente oportunistas do ponto de vista político, os exemplos deste tipo de diagnóstico e das suas causas não têm fim. É de hegemonia que estamos a falar. Uma das instituições internacionais quase coloniais que a assegura é o Fundo Monetário Internacional (FMI). Ainda recentemente, no seu relatório sobre economia portuguesa, o FMI alertava para os efeitos perversos da baixa taxa de poupança em Portugal, nomeadamente ao nível da incapacidade de aumentar o investimento nacional sem criar desequilíbrios externos, apelando ao fomento da poupança por via da promoção de planos privados de pensões complementares.
A hegemonia merece ser contestada, até pelas suas implicações claramente regressivas: no fim contas, os ricos teriam uma maior propensão à virtuosa poupança, pelo que intensificar a redistribuição de baixo para cima na pirâmide social, por via fiscal, laboral ou da privatização da Segurança Social favoreceria o aumento do investimento. É de contra-hegemonia que também é necessário falar. Não há nada mais prático do que a teoria económica, neste caso.
Da contabilidade à causalidade
A hegemonia serve para tornar as coisas aparentemente evidentes e a contabilidade nacional também: no fim de contas, sabemos que, em cada ano, o investimento tem de ser igual à poupança; esta última, por sua vez, tem de ser igual à soma da poupança dos que vivem por cá e da poupança dos que vivem para lá da fronteira; se, em cada ano, o país depender da poupança dos que vivem para lá da fronteira, tal significa que o país está a registar um défice de balança corrente no mesmo montante, estando a aumentar o endividamento externo; se, pelo contrário, o país registar um superávite de balança corrente, tal significa que está a canalizar poupança para o exterior, reduzindo a sua dívida.
No entanto, estas evidências contabilísticas nada nos dizem sobre a resposta à questão mais importante: qual é a relação de causalidade entre a poupança e o investimento, ou seja, o que é que determina o quê, em última instância? As questões de causalidade só podem dilucidadas através de uma útil prática teórica.
Para a teoria económica convencional, de matriz neoclássica, a resposta é óbvia, como já vimos: a poupança, seja ela interna e/ou externa, precede, determina ex-ante, o investimento que um país conseguirá realizar. Basicamente, os agentes económicos nacionais e/ou estrangeiros decidem quanto consumir e quanto poupar; o que é poupado é então canalizado pelos bancos nacionais ou estrangeiros para os que estão dispostos a investir e a criar riqueza por cá. Estamos perante relações reais, onde a moeda nada é mais do que um véu, neutro e facilitador.
(...) [S]e a chamada poupança nacional bruta, em percentagem do Produto Interno Bruto (PIB), caiu em Portugal, entre final da década de noventa do século XX e o ano anterior ao resgate da Troika (2010), é compreensível que o investimento também tenha caído, em percentagem do PIB. E o investimento só não caiu mais porque o país teve acesso a poupança externa, com défices sucessivos de balança corrente ao longo destes anos, o que se traduziu em endividamento crescente ao exterior: em suma, o país teria vivido acima das suas possibilidades. Com a Troika, se é verdade que o investimento caiu e a poupança nacional bruta aumentou ligeiramente, também é verdade que foi esta conjugação que precisamente permitiu equilibrar a balança corrente: graças à Troika, teríamos aprendido a viver dentro das nossas possibilidades. Se, antes da crise, o investimento financiado por poupança externa era visto como natural, dada a hipótese da eficiência dos mercados financeiros, há alguns anos que nos é dito que temos de travar uma luta para continuar a aumentar a poupança nacional. Só assim o investimento pode crescer sem que se comprometa a trajectória de redução do endividamento externo.
Existe, no entanto, uma alternativa a esta teoria económica e à narrativa política que alimenta. Se a teoria convencional pode ser apodada de pré-keynesiana, a alternativa pode ser designada como pós-keynesiana, na medida em que desenvolve o melhor das pistas lançadas, entre outros, por John Maynard Keynes. Em traços muito gerais, segundo esta tradição, o capitalismo é uma economia monetária de produção em que tudo começa pelas decisões de investimento. A qualquer montante poupado corresponde uma dívida de igual montante pecuniário. A poupança não financia a actividade económica (ao contrário, necessita de ser financiada), estando, isso sim, dependente ex-post do rendimento gerado por aquela actividade económica. O investimento é posto em marcha pela moeda-crédito, criada endogenamente pelos bancos, onde se inclui o banco central, pináculo do sistema financeiro. Isto significa que nem os bancos são meros intermediários entre aforradores e investidores, nem a taxa de juro é o mecanismo equilibrador entre a procura e a oferta de crédito. Numa economia monetária de produção, dado que a sua procura tende a ser ilimitada, o crédito é racionado, o que significa que o mercado de crédito é determinado pela quantidade oferecida e não pelo preço e que, neste processo necessariamente discricionário de alocação, decidindo quem obtém e não obtém crédito, os bancos desempenham um papel crucial.
Os investidores tomam decisões nesta área em função das suas expectativas de rendibilidade pecuniária e o mesmo se passa com os bancos. Quando estes últimos descobrem um investimento potencial que lhes parece viável, concedem crédito, ou seja, realizam um depósito na conta do agora credor, que tem como contrapartida um passivo: o investidor realiza então despesas monetárias com a aquisição de bens de capital e com o pagamento de salários, pondo em marcha um processo produtivo, onde se gera o valor, que será eventualmente realizado com a venda bem-sucedida do produto. A poupança depende do investimento e este depende das expectativas quanto ao futuro, mormente no que diz respeito às vendas. Cada empresário no fundo sabe que o seu rendimento depende da despesa que outros fizerem. Em economia, a despesa de uns é o rendimento de outros. Esta perspectiva, que parece bizarra à teoria convencional, é defendida por influentes economistas do insuspeito Banco de Inglaterra:
«O empréstimo e o depósito criados levam a investimento adicional que doutro modo não teria ocorrido porque o investidor não teria tido acesso ao necessário poder de compra. [Empréstimo e depósito] têm de levar, por definição, a poupança adicional, tendo em conta a identidade da contabilidade nacional entre poupança e investimento (numa economia fechada e a nível global), e não enquanto resultado de um equilíbrio entre poupança e investimento gerado por uma taxa de juro de equilíbrio. A direcção da causalidade é, portanto, do financiamento para o investimento para a poupança. Por outras palavras, a poupança não financia investimento, é o financiamento que o faz».
Da causalidade à política
Um dos efeitos perversos da confusão, gerada pela teoria económica convencional, no nexo causal entre poupança e investimento é a promoção política de falácias da composição, ou seja, de situações em que aquilo que é verdadeiro para um agente económico individualmente considerado, para a microeconomia, pode ser falso para a sociedade no seu conjunto, para a macroeconomia. Uma dessas situações é o chamado paradoxo da poupança. Assim, lá porque um indivíduo pode aumentar a poupança reduzindo as suas despesas, tal não significa que isto seja macroeconomicamente verdadeiro. Como já se viu, «a poupança não é uma fonte de financiamento ao nível agregado». Dado que a despesa de uns é o rendimento de outros, se chegarmos ao ponto em que todos reduzem as suas despesas de investimento e de consumo, os rendimentos diminuem e, logo, a poupança também diminui. Neste contexto, aliás, pode ser muito mais difícil servir a dívida previamente contraída, já que o seu fardo aumenta em termos reais, devido à quebra dos rendimentos e dos preços.
Entretanto, se usarmos a abordagem dos saldos financeiros sectoriais, favorecida pela teoria pós-keynesiana, e dividirmos uma economia monetária de produção nacional em três sectores – público, privado e externo –, sabemos que a diferença entre os rendimentos e as despesas dos três sectores tem de ser conjuntamente igual a zero. É falacioso pretender que todos poupem em termos líquidos ao mesmo tempo: se um sector melhorar o seu saldo financeiro, ou seja, se a diferença entre o seu rendimento e a sua despesa melhorar (se aumentar a chamada poupança líquida), então o saldo financeiro de pelo menos um dos outros sectores tem de se deteriorar no mesmo montante (tem de diminuir a sua poupança líquida). Portugal (...) não escapa a esta lógica.
Assumindo que o saldo do sector externo é igual a zero, o que significa que a balança corrente está equilibrada, então o aumento da poupança líquida do sector privado implica necessariamente uma degradação da posição do sector público, e o inverso também é verdadeiro. Os sectores público e privado só podem gerar poupança líquida em simultâneo, só podem ter saldos positivos se o país registar superávites de balança corrente (é como se o país, neste caso, financiasse o resto do mundo). Tal só pode acontecer, por definição, se houver outros países com défices de balança corrente. Sendo que é impossível exportar para Marte, e que as exportações de uns são as importações de outros, pretender que todos os países podem manter, simultaneamente, balanças correntes superavitárias é outra faceta da já referida falácia da composição. Adicionalmente, um país com superávites também fica macroeconomicamente exposto, já que a sua economia passa a depender demasiado de terceiros, contribuindo além disso para gerar desequilíbrios internacionais.
Numa economia monetária de produção, em funcionamento normal e com relativo equilíbrio do sector externo, o Estado tende a incorrer em défices crónicos e o sector privado em superávites crónicos. É esta situação, aliás, que cria sustentabilidade no sector privado, dada a atenção que neste sector tem de se ter à geração de rendimentos suficientes para assegurar a solvência, o que cria limites ao endividamento. Numa economia monetária de produção que esteja nesta situação, enquadrada por um Estado monetariamente soberano, que se endivida na moeda por si controlada, o sector público é diferente do sector privado, não tendo problemas de insolvência, dado que pode sempre pagar as suas dívidas, em última instância através de emissão monetária. Neste contexto, em que o Estado não depende dos mercados financeiros para o seu financiamento, não há qualquer problema em assumir que o défice é uma variável endógena, dependente do comportamento do sector privado. O Estado deve estimulá-lo e controlá-lo, impedindo aí uma poupança líquida negativa que ponha em causa a solvabilidade das famílias e das empresas.
Contas certas não podem querer então dizer equilíbrio orçamental e muito menos superávite orçamental, o que implicaria saldos financeiros negativos no sector privado e um aumento da sua fragilidade financeira, mas antes um saldo do sector público negativo o suficiente para gerar procura ao nível do pleno emprego e solvabilidade no sector privado. Esse saldo negativo, o défice orçamental, deve ser usado também para induzir uma transformação da estrutura produtiva, facilitadora de um equilíbrio externo que não dependa da repressão da procura interna, e para aumentar os activos úteis na economia, tornando-a socialmente mais justa, ambientalmente mais sustentável e tecnologicamente mais capaz, o que obviamente beneficiará as gerações futuras. Se assim não for, ficamos confrontados com a situação actual: por muito que politicamente as taxas de juro desçam e que o Banco Central Europeu (BCE) tente estimular monetariamente a economia, o sector privado não investe o suficiente, não por falta de crédito da parte dos bancos, mas sim por falta de projectos viáveis.Isto é assim, dada a periclitante evolução da procura agregada na ausência de uma política orçamental que oriente e estimule o sector privado através do consumo e do investimento públicos. A Zona Euro está desenhada para perpetuar a estagnação e o estatuto quase colonial dos países periféricos que dela fazem parte.
O único constrangimento que um Estado monetariamente soberano, como Portugal deve voltar a ser, enfrenta e que deve merecer toda a sua atenção é o constrangimento externo, cuidando de que não sejam criados défices de balança corrente, gerando dívida externa. Para tal objectivo, uma política cambial adequada e a existência de controlos de capitais, bem como uma política comercial selectivamente proteccionista são essenciais. Tudo o resto, incluindo a conversa moralista sobre a poupança, serve propósitos imorais. Para lá de disciplinar a força de trabalho, um dos seus principais objectivos é o de transferir rendimentos para o casino da especulação, através da privatização da Segurança Social, esquecendo que, qualquer que seja o sistema, estamos sempre perante uma transferência de recursos entre trabalhadores no activo e trabalhadores inactivos em cada momento do tempo. A diferença substantiva é que no sistema de Segurança Social por repartição essa transferência é alvo de uma deliberação pública, enquanto que, no sistema de capitalização, essa transferência é alvo dos apetites predadores e desestablizadores dos mercados financeiros.
Também aqui a falaciosa teoria económica convencional não poupa o povo deste país.
21 comentários:
«Assumindo que o saldo do sector externo é igual a zero, o que significa que a balança corrente está equilibrada…»
Assumindo o histórico, resulta o improvável sem poupança.
Difícil de entender então que o investimento em Portugal tenha no passado dependido das poupanças dos estrangeiros. Hoje os estrangeiros já não estão a emprestar as suas poupanças (riqueza real), e o investimento publico em Portugal nunca foi tão baixo (impressionante num governo mais ou menos de esquerda).
Mais ou menos de esquerda, a aprovar legislação laboral com a direita
Seguindo a herança troikista
Ora bem, qual a herança do anónimo? E a sua proveniência ( a real)?
Não é de uma pobreza confrangedora que este excelente texto de JR tenha como resposta dois comentários pindéricos e a raiar a tontice?
Um primeiro comentário que revela que o seu autor nem percebeu o que leu e que põe a ridículo a sua anterior atitude, quase que histérica, sobre o tema em debate
Um segundo comentário dum tipo que é um produto directo do investimento estrangeiro, via tralha neoliberal na Holanda.
Pobres tipos. Que agitação paupérrima é medíocre.
Ê a “ isto “ que está reduzida a direita neoliberal e tal, com aspectos de lodaçal?
Este blogue tem uma espécie de 'cão de porta' que ladra a quem não aplaudir as postas.
Não havia necessidade...
Não se percebe esta acrimónia de um sujeito de nickname jose
Um texto com classe deve ser sublinhado. Que isso espante os cultores da mediocridade, não deve espantar os demais. Que isso perturbe os que vêm estilhaçados os seus dogmas económico-ideológicos, já não é novidade
A acidez descabelada é testemunho de tal
Pobre jose
A questão tem contudo o seu lado cómico. Trágico-cómico para ser mais correcto
Exactamente sobre este tema aqui exposto, jose expressava há dias a sua "incredulidade" sobre o trabalho de JR e de PC
Cite-se ipsis verbis:
«Na verdade, a poupança depende do investimento, e não ao contrário.»
Na verdade, são novos tempos! Ele há coisas…!
Virtualidades do neoliberalismo?"
Aprecie-se como jose assume a sua faceta histriónica ( até com aquela pontuação esdrúxula), revelando sem querer uma profunda ignorância em tudo o que vá para lá dos postulados económicos hegemónicos da tralha neoliberal com verniz salazarista. (Ou vice-versa).
O seu comentário inicial neste post é a confirmação das dificuldades sentidas pelo mesmo, em ir mais longe do que "isto". Com a agravante que ele próprio representa a negação da tese do antigo regime, que bastava contar, ler e escrever"
De facto era bom jose estudar um pouco mais. De português e de demonstrações matemáticas
Não é bonito de se dizer, mas...pobre jose
Um baluarte do ordoliberalismo acaba de reconhecer um erro, UM, UNZINHO!
Deregulating Financial Markets
Was ‘Stupidity,’ Says Schaeuble
https://www.bloomberg.com/search?query=Deregulating%20Financial%20Markets%20Was%20%E2%80%98Stupidity,%E2%80%99%20Says%20Schaeuble
Se Schauble levou mais de 11 anos a chegar a esta brilhante conclusão, imaginem quantas vidas vai levar para reconhecer que o seu querido ordoliberalismo é uma doutrina falhada e perniciosa?
É um caso óbvio de compreensão lenta, como daqueles que ainda pensam que os bancos emprestam o dinheiro (poupanças) dos depósitos.
S.T.
Aqueles que ainda pensam que os bancos emprestam o dinheiro (poupanças) dos depósitos são os que julgam haver alguma regulação sobre os bancos.
Estranho é que os que reclamam da desregulação pressuponham nas suas análises a permanência da desregulação, como um bem!
Os economistas mainstream não podem aceitar a MMT, sem perder toda a credibilidade, que é o principal "ativo" de um economista.
Os EUA têm uma dívida colossal, mas quase metade dessa dívida é detida pela reserva federal e pelas agências intergovernamentais do próprio estado ianque.
Razão: evitar que as taxas de juro da dívida emitida ultrapassem valores entendidos como aceitáveis.
Se o mercado não quer a totalidade da dívida emitida, o próprio estado compra o que sobra (bastante diferente do que aconteceu na periferia da zona euro, embora o 2011 português tenha sido uma "prenda" de merkel e sarkosy, resultado do "passeio na praia de Deauville").
Porquê? Ora, porque os EUA emitem moeda própria.
Como escreveu Bill Mitchell, a MMT ignora as "realidades institucionais".
Que realidades institucionais? Ora, as rendas seguras proporcionadas pelas obrigações da dívida pública.
Podem até ter um rendimento reduzido, mas com taxas de juro bancárias em zero, é rendimento certo.
Estranho é este sistemático tiro ao lado mais as alvíssaras à desregulaçao.
(As alvíssaras a Paulo Núncio ficaram escondidas)
A permanência da desregulacao como um bem só mesmo da cabeça dos neoliberais e seus acólitos.
Mas como se vê alguns dos seus prosélitos, lentamente, muito lentamente...
Por acaso o que o José diz é manifestamente falso. Primeiro porque em nenhum país do mundo inteiro os empréstimos são concedidos a partir ou sequer limitados pelo montante dos depósitos.
Tal corresponderia a obrigar os bancos a terem 100% de reservas, o que, que eu saiba não acontece em parte alguma. Se houver um exemplo desafio o José a demonstrá-lo. Em todo o caso reservas fraccionárias a 100% não há em nenhuma economia do mundo desenvolvido.
Em segundo lugar José, como de costume, mistura alhos com bogalhos, porque a regulação que seria eficaz seria aquela que impedisse os bancos de comerciais retalho de se meterem em altas cavalarias de especulação financeira, misturando banca de investimento com banca de retalho.
Enquanto as leis criadas nos USA no seguimento da Grande Depressão (Glass-Steagall Act) estiveram em vigor nenhuma grande crise bancária aconteceu.
Será preciso recordar ao José as irresponsabilidades dos banqueiros alemães que antes de 2008 compravam toda a m_rda de produto derivado sub-prime que os traders de Wall Street lhes punham à frente? T. Geitner é muito eloquente em relação a esses episódios.
Suspeita-se que esta mudança de opinião de Schauble tem mais que ver com a pilha de derivados do DB, que discretamente está a ser transferida para um "banco mau", e cujos prejuízos acabarão por ser pagos pelos contribuintes alemães ou convenientemente monetizados pelo BCE/ECB. E claro, tem que ver com os resultados das miserabilistas políticas que finalmente estão a produzir as previsíveis consequências para o mercantilismo irresponsável do governo alemão.
E não deixa de ser divertido ver o Sr Schauble vir agora reconhecer o monumental erro da desregulação bancária. Tarde pias! LOL
S.T.
« Primeiro porque em nenhum país do mundo inteiro os empréstimos são concedidos a partir ou sequer limitados pelo montante dos depósitos.»
Segundo: foi sempre assim?
Terceiro: não deveria ser algo assim?
Não esqueçamos os trabalhadores em todos estes processos:
Quando as políticas de prémios e rendimentos variáveis foi introduzida para correctores e bancários, os pobres trabalhadores foram infectados com a ganância dos lucros e o volume de transacções e a sua enorme criatividade para novos produtos atingiu limites tais que o único definidor era o maná.
Ocorre-me pensar porque esse não deveria ser uma das primeiras iniciativas de regulação financeira: remunerações fixas em cada ano.
Nunca houve nem haverá reservas a 100%, mas já houve e provavelmente haverá outras percentagens.
A grande reforma pós Grande Depressão foi proibir a banca de retalho de participar directa ou indirectamente em participações de capital ou transacções mobiliárias.
Acresça-se que os bancos americanos operavam com agências limitadas em número ou em área geográfica. Qualquer acordo operacional entre bancos era crime.
Era um modelo de 'banca de proximidade'.
Era um modelo participado de limitada ambição.
Já foi...e a ambição está hoje arvorada em direito fundamental.
"A ambição está hoje arvorada em direito fundamental"
Pede-se no mínimo um mínimo de coerência a quem diz estas coisas..
Primeiro porque quem assim procede, anda sistematicamente a falar no direito ao lucro e o lucro uberalles.
Será que o lucro é direito divino patronal? E a "ambição" de repente aparece agora deste jeito de camuflado ideológico?
Vale a pena confrontar jose com as suas próprias palavras
Lembram-se de António Borges?
Um hipócrita ( estamos a ser simpáticos) que sabia da arte de como lixar quem trabalha, enquanto se amesendava com a riqueza produzida?
Borges que defendeu que reduzir salários "não é uma política, é uma urgência" Aquele que se atolou em negócios sujos e que foi nomeado por Passos Coelho para liderar uma equipa que acompanhava, junto da troika, os processos de privatizações, as renegociações das parcerias público-privadas, a reestruturação do sector empresarial do Estado e a situação da banca. Aquele que teve contratos suspeitos com a Parpública e que viu multiplicarem-se os seus rendimentos de forma suspeita.
Jose em sua defesa argumentava assim:
"O Borges consegue que lhe paguem muito bem. Parabéns!
Quem não consegue quem lhe pague, ainda que pouco, tem um problema a resolver.
Mas as 'boas almas', comovem-se com as diferenças
E para vender isso, herdou? Ganhou na bolsa? Roubou? Foi a votos?
Ninguém quer ver que quem se dá ao TRABALHO de aprender, e de lutar para ganhar posições, e de se afirmar ao ponto de poder gerir contactos ( o que não é pouco trabalho), pode legitimamente anbicionar (sic) um retorno"
Jose para o amigo faz uma excepção. Este tem direito legitimo à "ambição", segundo a novena de jose
Contraponha-se como jose faz defesa deste autêntico produto abjecto da Goldman-sachs, de nome António Borges, com o ataque soez aos "trabalhadores"
"Não esqueçamos os trabalhadores em todos estes processos:
Quando as políticas de prémios e rendimentos variáveis foi introduzida para correctores e bancários, os pobres trabalhadores foram infectados com a ganância dos lucros e o volume de transacções e a sua enorme criatividade para novos produtos atingiu limites tais que o único definidor era o maná"
Não é um verdadeiro mimo?
Como de uma penada jose passa a responsabilidade para os "bancários", absolvendo os banqueiros, os gestores bancários e as administrações dos bancos.
Como se os altos quadros dos bancos não fossem a emanação do poder dos banqueiros e não estivessem ligados umbilicalmente aos mesmos interesses de classe
Veja-se a linguagem de trampa usada por jose: " os pobres trabalhadores" infectados com a ganância dos lucros"
Mas quem lucrou de facto?
De acordo com os dados divulgados pela Autoridade Bancária Europeia (EBA), 4.597 banqueiros embolsaram mais de um milhão de euros em 2016
A banca de investimento é responsável por mais de metade destes milionários.
Londres concentra mais de 75% do total de banqueiros milionários, uma vez que a capital britânica é, por larga margem, o maior centro financeiro do Velho Continente.
A EBA revela que a maioria dos banqueiros milionários arrecadou entre um e dois milhões de euros, mais de 500 ganharam mais de dois milhões e cerca de uma dúzia recebeu pelo menos 13 milhões de euros.
Um executivo na área de gestão de activos liderou a tabela, embolsando um total de mais de 33 milhões de euros, incluindo um bónus de 30 milhões.
Em Portugal, segundo a EBA, foram oito os banqueiros a ganharem acima de um milhão de euros em 2016 .
(E são estes que dizem que o salário mínimo em Portugal é excessivo !)
A tentativa de passar o odioso da questão para a "ganância do lucro dos pobres trabalhadores" esquecendo quem verdadeiramente lucrou com a situação e apagando da equação o papel dos altos gestores e dos banqueiros é simplesmente abjecta
Percebe-se que a cantilena sobre os "banqueiros terratenentes", cantada por jose durante tanto tempo, foi parar ao caixote do lixo.
Jose apesar disto quer escamotear a responsabilidade dos responsáveis bancários, dos banqueiros, dos grandes accionistas. Precisa de empurrar a "culpa" para os subalternos. Aqueles viam acumular-se as suas fortunas de forma tão pouco suspeita que nem se interrogavam do funcionamento do capital. O que era preciso era engordarem. Seja porque processos fossem
Porque motivo isto me faz lembrar os capo da mafia que pegam nos pequenos joguetes e poêm-nos a fazer o trabalho sujo. Quando os maiorais são presos, negam completamente os crimes, dizendo que foram acções cometidas de forma autónoma pelos que estão mais abaixo
Procedimento semelhante ao de certos facínoras políticos que não mandam executar directamente, mas sim o fazem de forma indirecta, insinuando e manipulando, sem nunca se comprometerem directamente com uma ordem clara.
(Parece que Oliveira Salazar era perito nessas jogadas)
Já agora é bom lembrar aqui uma posta de ST postada aqui há cerca de ano e meio:
"Talvez seja bom recordar os "esquecidos" alguns factos.
Por exemplo, que a "crise" foi e é um problema de dívida privada, e lembrar as descrições de traders novaiorquinos que recebiam antes da crise "estúpidos banqueiros alemães" a quem vendiam tudo o que era lixo tóxico financeiro.
Há geniais descrições de tais "reuniões de negócios". Agora adivinhem a proveniência dessas somas colossais que os "estúpidos banqueiros alemães" se apressavam a investir em subprime junk bonds made in Wall Street?
"
During the boom years a wildly disproportionate number of those idiots were in Germany. As a reporter for Bloomberg News in Frankfurt, named Aaron Kirchfeld, put it to me,
“You’d talk to a New York investment banker, and they’d say, ‘No one is going to buy this crap. Oh. Wait. The Landesbanks will!’”
When Morgan Stanley designed extremely complicated credit-default swaps all but certain to fail so that their own proprietary traders could bet against them, the main buyers were German.
"
In
http://econintersect.com/b2evolution/blog2.php/2013/07/10/stupid-germans-in-duesseldorf-fact-or-myth
Seria ridículamente grotesco não fora a tragédia de sermos nós não só os espoliados pelo mercantilismo alemão como ainda termos de pagar pelos erros dos "estúpidos banqueiros alemães"
Estes banqueiros, os tais "pobres trabalhadores infectados" pela ganância dos lucros...
Enviar um comentário