Recorrendo a dados do Berkeley Earth para a maior parte dos países, Ed Hawkins (Centro Nacional de Ciência Atmosférica da Universidade de Reading) construiu gráficos coloridos para melhor ilustrar a variação da temperatura média entre 1850 e 2018, com os anos a azul a registar os valores mais baixos e a vermelho os mais elevados.
Um dos aspetos que mais sobressai deste exercício é a constatação de que o aquecimento à escala global se intensificou apenas num tempo recente (desde finais dos anos oitenta) e, portanto, com um padrão e um ritmo dificilmente conciliáveis com a ideia de estarmos perante um fenómeno gradual, alheio à ação humana, que apenas reflete os longos ciclos naturais de aumento e redução da temperatura do planeta.
De facto, o acumular de sinais e alertas que apontam, de modo cada vez mais consistente, para o risco de uma catástrofe sem precedentes - levando hoje para as ruas milhares de jovens em todo o mundo - não só esvazia os argumentos dos que negam as alterações climáticas (ou o papel da ação humana nesse processo) como obriga a reconhecer as implicações profundas do seu combate. Isto é, como aqui assinalou o João Rodrigues, a necessidade de «uma nova política económica», que valorize o bem comum, reduza as desigualdades e mobilize «formas de planificação exigentes» (que assegurem o «controlo público das redes, da banca e das grandes alavancas de investimento»), sem dispensar uma certa «desglobalização dos circuitos económicos».
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7 comentários:
Caro NSerra,
O gráfico que publica é uma excelnete ilustração, sim senhor, mas daquilo que estamos dispostos a fazer para manipular a percepção.
Em primeiro lugar porque não nos diz nada sobre a construcção da média de referencia que utiliza.
Em segundo lugar porque o inicio do gráfico se sobrepõe á Little Ice Age ( se recuasse ao Perido Quente Medieval teria o mesmo aspecto ? )
Em terceiro lugar pelas opções cromáticas e as suas gradações: mais frio-azul; mais quente- vermelho. Quantos graus em concreto separam os extremos da média para justificar a disparidade cromática ? Irrelevante?
Em quarto lugar porque se assume que a recolha de dados usados para o calculo das médias( métodos, cobertura territorial e caracteristicas dos locais de recolha ) se mantiveram inalterados, o que é obviamente falso.
Quanto às conclusões apoiadas no post do João Rodrigues, absolutamente de acordo. Porém, consigo encontrar pelo menos uma boa dúzia de razões para as promover, antes de chegar ao clima.
Cump.
JRodrigues
Eu já tinha elogiado o JRodrigues num "post" anterior mas vou ter de o voltar a fazer, é um enorme alento perceber que é possível um discurso razoável, digno e coerente nesta caixa de comentários, para se "escutar" alguém é preciso seriedade intelectual, e isto também é um habito, não basta a boa vontade ou a fé, temos de fazer por olhar com desconfiança para a superfície das coisas, mais uma vez um bem haja.
Este gráfico só é credível se nele se sobrepuser o gráfico do consumo de combustíveis sólidos no mesmo período e se verificar uma correlação positiva entre esse consumo e o aumento de temperatura.
Já agora também se podia experimentar a sobrepor o gráfico da atividade solar.
Não me parece que se tenha duplicado ou triplicado a queima de petróleo e carvão na última década comparado com as décadas anteriores. O consumo desses combustíveis aumentou gradualmente desde o início da era industrial e o gráfico não reflete isso.
Manuel Galvão,
Essa sobreposição com o consumo de combustiveis fósseis existe e a correlação positiva também. Não é isso que está em disputa. A dúvida é se existe causalidade directa, i.é, se será o aumento da libertação de CO2 o principal ( ou um dos ...) responsável pela subida das temperaturas. Na verdade é essa causalidade que o gráfico pintado que o NSerra aqui nos deixa pretende demonstrar com recurso a expedientes censuráveis, para dizer o minimo.
Se se seguir o link Berkeley Earth que o NSerra nos deixa no texto e se procurarmos lá dentro a "raw data" de suporte á pintura ilustrada vamos parar a este gráfico: http://berkeleyearth.lbl.gov/regions/global-land
Basta uma leitura superficial do dito para reirar duas ilacções:
A primeira é que o autor da pintura decidiu ignorar os dados anteriores a cerca de 1830, e percebe-se porquê: iriam aparecer umas estranhas barras vermelhas no inicio da série e isso diluia o efeito pretendido.
A segunda é que o grau de confiança da informação anterior a 1900 transforma numa anedota a sua comparação directa com a recolhida nas ultimas décadas ( e em particular com o advento das estações digitais, cuja instalaão se começou a generalizar no final dos anos 80 do sec XX ).
Cump.
JRodrigues
O JRodrigues deve estar com um problema de percepção cromática...
Caro Jose M. Sousa,
Eu diria que o problema aqui nao e percepcao cromatica. Caramba, sao "bonecos" coloridos e tudo!
E mais um problema de compatibilizar a realidade assim acessivelmente explicada com o aquilo que as elites determinaram sob o prisma do corrente consendo ideologico ser a "realidade oficial".
O Noam Chomsky explica bem estes fenomenos quando aplicados noutros campos, nomeadamente geo-politica nos livros "Necessary Illusions" e "Manufacturing consent" entre outros - mas os mecanismos sao essencialmente os mesmos.
Repare que em post anterior estava muito preocupado com a forma "emocional" como a Greta expos argumentos semelhantes. Aqui preocupa-se com a construcao de uma "excelente ilustracao".
Repare como em ambos os casos o gatilho para a reaccao nao sao os factos a serem expostos, que sao consensuais e repetidos ja tantas vezes que chegam a ser cliche. O gatilho e a eficacia da apresentacao dos dados - isso e a irritacao maior.
Manuel Galvão,
Evolução das emissões de combustíveis fósseis:
https://cdiac.ess-dive.lbl.gov/trends/emis/glo_2014.html
http://www.globalcarbonatlas.org/en/CO2-emissions ver "time series"
Temperature vs Solar Activity : https://climate.nasa.gov/climate_resources/189/graphic-temperature-vs-solar-activity/
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