Dados recentes do Banco de Portugal, relativos ao património dos particulares e noticiados aqui, dão conta de que as famílias portuguesas tinham em 2022 «uma riqueza em casas de habitação superior a 498 mil milhões de euros», valor que ultrapassa, pela primeira vez desde 2010, o do património financeiro (480 mil milhões de euros), sugerindo que «foram desviados dos ativos financeiros para o investimento em casas mais de 17 mil milhões de euros».
De facto, o valor de património dos agregados em imóveis tem vindo a aumentar a uma taxa média anual de 6% desde 2017, acima dos cerca de 4% de aumento no caso dos produtos financeiros. Se estabelecermos 2015 como base de referência (2015=100), esta diferença crescente torna-se mais clara, com o investimento das famílias em imóveis a atingir em 2022 um valor de 159,2, situando-se a aplicação de recursos em património financeiro em cerca de 124,1.
O aumento do valor do património em habitação não deixa de refletir, evidentemente, a exuberância dos preços nos últimos anos, que ajuda a explicar, ao mesmo tempo, a reorientação das opções de investimento para o setor, dada a sua maior atratividade, em termos comparativos, face aos investimentos financeiros. Tal como não são alheias a este processo as baixas taxas de juro registadas até há pouco tempo, que tornam estes investimentos mais apelativos.
Seja como for, o importante é considerar que, a par do investimento imobiliário estrangeiro e dos impactos da intensificação do turismo na subtração de oferta residencial, se está também aqui perante um processo indissociável das dinâmicas especulativas que marcam hoje o setor e que se encontram na génese da grave crise de habitação que o nosso país, tal como a generalidade dos países europeus, está a atravessar.
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