quinta-feira, 28 de setembro de 2023

O imobiliário na sua bolha


O Portugal Real Estate Summit é considerado o «o maior evento de investimento imobiliário da Península Ibérica» e realizou-se no Estoril na semana passada. Numa das sessões, foi referido que «Portugal vai continuar a ser um destino atrativo para os investidores internacionais» e que, apesar da diminuição das vendas e de o ritmo de crescimento dos preços ter abrandado, «o mercado residencial está a registar uma evolução positiva este ano, (...) com as pré-vendas a manterem-se muito fortes (acima de 50%)». Sendo ainda salientado, entre outras considerações, o «impacto extremamente positivo» no mercado português de medidas como a «criação dos Vistos Gold».

É certo que também foram sinalizados fatores críticos, tidos como impeditivos de um investimento ainda maior no mercado português, com destaque para a «inconstância nos prazos e licenciamentos», a «incerteza que existe na lei do arrendamento» ou a questão dos impostos. Matérias que, no seu conjunto, são apontadas como «os principais desafios para quem investe». Seja como for, garante-se, «os investidores estão de "olhos postos em Portugal"».

O imobiliário tem hoje no nosso país uma importância muito maior que há uma década atrás. Bastará referir, por exemplo, que se trata da atividade económica com maior aumento em termos de volume de emprego entre 2008 e 2022 (+88%), passando, segundo a Pordata, de cerca de 27 mil para 50 mil trabalhadores neste período. E é natural, portanto, que as respetivas empresas e seus profissionais encarem com bons olhos os elevados preços da habitação e o investimento estrangeiro que os impulsiona, por mais que os mesmos dificultem o acesso das famílias à habitação.

O curioso é constatar um alinhamento perfeito entre as reivindicações do setor e as propostas da Iniciativa Liberal (IL) em matéria de política de habitação. Não é por acaso, de facto, que a IL insiste, de forma particularmente enfática, na tese simplista da «falta de casas», rejeitando por completo o impacto das novas formas de procura, especulativas, na atual crise de habitação. É que enquanto puserem todas as fichas nessa tese, a especulação imobiliária internacional e os investimentos turísticos em Alojamento Local nas grandes cidades estarão a salvo.

1 comentário:

Anónimo disse...

Anime-se, em França o preço das casas começou a cair aos trambolhões.

Quando a nossa imprensa começar a escrever que os preços estabilizaram, já sabe, estão a cair. Nem o polígrafo os vai segurar.