sexta-feira, 13 de março de 2020

Covid-19 e política monetária: Lagarde, a pirómana

Christine Lagarde foi Directora-Geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), entre Julho de 2011 e Novembro de 2019 e é, desde esta data, Presidente do BCE.

Nesta qualidade, na sua conferência de imprensa de ontem, quando, no contexto da forte subida da taxa de juro exigida pelos mercados ao financiamento da dívida pública italiana, é inquirida acerca das medidas que o BCE estaria preparado para assumir se os spreads das dívidas públicas subissem, Lagarde responde: “nós não estamos aqui para eliminar [close] spreads. Isso não é a função ou a missão do BCE”.

O resultado? De um dia para o outro, um acréscimo de 9,6% e de 12,5% no custo de financiamento das dívidas públicas italiana e portuguesa. Para começar.


A senhora Lagarde agiu como uma incendiária. Se o sistema monetário da zona euro não fosse absolutamente disfuncional, o BCE não poderia deixar de atuar como prestamista de último recurso - função primordial de qualquer banco central que mereça a designação - resgatando o bem público das idiossincrasias dos mercados financeiros privados e fornecendo a liquidez necessária à estabilização das dívidas públicas.

Abandonar a Itália, e os países mais vulneráveis, à sua sorte, sobretudo num contexto desta gravidade, é uma estupidez imoral. Como já sabíamos, o euro não é uma moeda, mas uma perigosa distopia.

Confrontada com uma barragem de reprovação a senhora Lagarde veio mais tarde tentar emendar a mão. Veremos como evolui a situação. Veremos se os Estados da periferia da zona euro têm o discernimento e a coragem política para exigir que o BCE cumpra o seu dever e tirar consequências da resposta, ou da falta dela.

Para aqueles que se interrogam de onde viria o dinheiro, a minha sugestão é que atentem na forma como os EUA financiam a injeção de 1,5 biliões que a Reserva Federal está a realizar. É simples.

3 comentários:

Geringonço disse...

Chamar estupidez imoral ao comportamento desta gente a que alguns chamam "elites" é eufemismo.

O comportamento desta gente não é apenas imoral, é criminoso, tal como foi criminoso o que fizeram à Grécia e Portugal, quando inventaram a crise das "dívidas soberanas".

Esta gente literalmente estava disposta que milhões morressem à fome em nome do sacrossanto "mercado-livre"!

Anónimo disse...

Sem duvida nenhuma que esta gente comete crimes e vive numa impunidade absoluta. Concordo com o comentário do "Geringoso" o BCE actuou contra a Grécia, e seguramente contra os seus estatutos, Wolfgang Schäuble e Mario Draghi também terão que ser julgados pela sua acção nesse memorável período, aliás, todos os governantes do anterior e do actual contexto serão relembrados pela sua acção ou pela sua inacção, talvez alguns deles ainda vão a tempo de ser julgados.

Anónimo disse...

Isto não tem ponta por onde se lhe pegue. A incompetência da Comissão e do Conselho Europeu é tão óbvia que é doloroso só de ver.

São já os analistas dos bancos (!), no caso vertente o Saxobank, a pedirem pelo amor da santa que acabem com a parvoeira do limite de 3% do défice orçamental:

https://www.zerohedge.com/markets/saxobank-thursday-europe-committed-historic-policy-mistake