[U]ma apreciação compartilhada: a União Europeia e, mais especificamente, a união económica e monetária são dispositivos de poder hostis aos interesses da maioria da população europeia e devem ser designados e combatidos como tais pela esquerda (…) Não dispondo de alavancas institucionais para investir no campo estratégico europeu, os assalariados não influem de maneira alguma na agenda integracionista que não pode senão lhes ser desfavorável. É preciso portanto procurar uma forma de ruptura com a UE o que implica, mecanicamente, vir a uma recentragem – pelo menos temporária – num espaço nacional de definição das políticas económicas e sociais (…) A viragem nacional que implica a ruptura com a Europa é para mim sobretudo uma astúcia da razão internacionalista; um movimento estratégico, não um alinhamento à quimera da independência nacional.
Esta viragem é imposta pelo carácter dessincronizado dos ritmos da luta das classes nos diferentes países europeus. Esta dessincronização não provém apenas – nem mesmo essencialmente – de heranças históricas distintas mas muito mais do carácter desigual do desenvolvimento capitalista que resulta de combinações produtivas idiossincráticas e alimenta dinâmicas sociais e políticas singulares.
Excertos da resposta de Cédric Durand, em boa hora traduzida pelo resistir.info, à recensão de Jacques Sapir ao livro por si coordenado e que compila contributos de vários académicos, maioritariamente marxistas, incluindo Lapavitsas ou Kouvelakis, já aqui referidos, sobre a crise europeia e os meios de a superar. As muitas convergências entre Durand e Sapir, que lhe responde aqui, não apagam uma divergência, que me parece transponível, entre as tais astúcias das várias razões mobilizáveis para superar este desastre: a importância da soberania. Creio que Sapir está em terreno firme quando afirma que sem soberania é impossível colocar a questão da legitimidade das instituições e da possibilidade da democracia (a soberania é condição necessária, mas não suficiente, como sublinha repetidas vezes Sapir). A tal independência nacional não é quimérica, caso contrário o próprio projecto de Durand seria inviável. Obviamente que o objectivo de independência à esquerda não se confunde com autarcia, nem com recusa de cooperação internacional, muito pelo contrário. A questão social e a questão da soberania democrática têm então de ser articuladas politicamente e se o forem as hipóteses de começar a enfrentar a grande derrota em curso aumentam imenso. Mais um útil debate para robustecer intelectualmente a necessária convergência política entre as esquerdas que não desistiram.
domingo, 9 de junho de 2013
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1 comentário:
Desculpas pelo comentario fora do assunto do post.
Mas este texto do Krugman publicado hoje e muito bom e relevante para a realidade Portuguesa.
A analogia em especial acho que e uma excelente ilustracao da situacao actual e de todas as actuais "medidas de apoio ao emprego" em curso que tem por base uma mundivisao da "economia do lado da oferta".
http://krugman.blogs.nytimes.com/2013/06/10/unemployment-benefits-and-actual-unemployment-an-analogy/
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