«Um dos executivos pergunta ao outro "como chegou ao número de sete mil milhões como sendo a soma correcta para pedir ao Estado". O outro ri-se e diz que "a tirou do rabo" ["picked it out of my arse"].
Mais a sério, explica que "inicialmente não convém pedir muito". O melhor é deixar que o financiamento pelo Estado vá crescendo discretamente, sempre usando o argumento de que "deixar o banco afundar-se seria pior para toda a gente".
Acima de tudo, sugere o executivo (rindo ainda mais, juntamente com o seu colega) "não se pode deixar que os contribuintes percebam que nunca vão recuperar o que é deles". A cada nova solicitação de fundos, tem de se explicar que é para o cidadão comum proteger "o seu dinheiro".
Com um pouco de sorte, acrescentam os executivos, "o banco ainda acaba nacionalizado e eles os dois conservam os seus lugares".
Ao todo, o Estado irlandês já investiu 30 mil milhões de euros, só naquele banco. Estas novas revelações, surgidas no diário Irish Independent, podem vir a ter consequências.»
Excertos de uma conversa entre dois executivos do Anglo Irish Bank, gravada em 2008, nas vésperas de o governo irlandês injectar milhares de milhões de euros no banco («o BPN de lá», como refere Luís M. Faria, que assina esta notícia no Expresso).
Trata-se somente de um caso, «documentado» (as gravações podem ser ouvidas na íntegra aqui, em inglês). O que aconselha, obviamente, prudência nas generalizações. Mas não custa mesmo nada captar e perceber, através deste episódio, o estado das coisas e o «espírito do tempo» que antecedeu o início da crise. O início da crise? Não será este, por acaso, o «perfume» que paira no ar, desde então?
(Nem de propósito, este escândalo é conhecido no dia em que Vítor Gaspar avisa que o défice no primeiro trimestre pode ficar acima dos 10%, devido a novas ajudas à banca, nomeadamente ao BANIF).
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2 comentários:
Com a falência do Lehman Brothers houve triliões de triliões que se evanesceram. A malta a quem isso aconteceu tinha de se "ressarcir das perdas" ou "corrigir" e montou este esquema de vasos comunicantes ( de sentido único - assim semelhante a um díodo na corrente eléctrica) de nós para eles fazendo-nos acreditar que é por nossa causa que estão a agir.
Parece simples?
Caro anónimo, falar de falência de um banco que de facto ainda anda aí para as curvas é revelador daquelas mentiras que à custa de se repetirem se tornam verdade.
Quanto às generalizaçoes de que fala o artigo: será que nao se pode generalizar, por exemplo ao BPN? Se bem me recordo, quando o Socas "tentou" salvar o banco para evitar contágio foram logo 2 000 000 000 EUR. Por alturas do primeiro memorando com a troika andava perto dos 5 000 000 000 (e lendo o memorando ficava a desconfiança que poderia chegar aos 12 000 000 000). Em quanto já vai o BPN? E qual o caminho do Banif? Ou será isto tudo, como disse o Silva de Boliqueime, "baixa poítica"?
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