terça-feira, 18 de março de 2014
Leituras: Manifesto dos 70 (I)
«O Presidente da República disse há tempos que só quem é masoquista fala na reestruturação da dívida. (...) Eu confesso que vejo com alguma dificuldade que Adriano Moreira seja masoquista. Ou Bagão Félix. Ou Alberto Ramalheira. Ou António Saraiva. Ou Diogo Freitas do Amaral. Ou Fausto Quadros. Ou João Vieira Lopes. Ou José Silva Lopes. Ou Luís Braga da Cruz. Ou Manuel Porto. Ou Manuela Ferreira Leite. Ou Miguel Cadilhe, que não assinou mas publicou um artigo concordando no essencial com ele e lembrando que há mais de dois anos defende uma renegociação "honrada" da dívida. Ou Vítor Martins e Sevinate Pinto. (...) Falar sobre a reestruturação da dívida é masoquismo. Cortar salários e pensões de forma definitiva, aumentar brutalmente impostos, assistir a enormes cortes nos apoios sociais do Estado - e fazê-lo de formam sistemática e continuada desde há três anos é refresco. Para os outros, claro.»
Nicolau Santos, Reestruturação: eu, masoquista, me confesso
«Os jornalistas económicos e colunistas que ou são da área do governo ou têm defendido as suas posições não conseguiram disfarçar o incómodo. O nervoso foi tal que se transformou em excitação. O manifesto é, acusação costumeira quando se quer substituir o sentido crítico pelo medo, "irresponsável". (...) A coisa mais interessante da reação a este manifesto foi a forma como se revelaram, com uma agressividade deslocada, muitos dos protagonistas do discurso dominante. Esta proposta não se deve apresentar, apesar de ser a óbvia, porque assusta a troika mas, acima de tudo, porque cria a ideia de que não há apenas um caminho possível. Porque esta proposta, que não sendo a solução faz parte dela, e que ainda por cima agrega um consenso razoável na sociedade, desarma o único discurso que dominou o debate político nos últimos três anos: o da inevitabilidade. De repente há pessoas que propõem coisas diferentes. Imaginem o mal que isto pode fazer ao País.»
Daniel Oliveira, O manifesto que perturbou o «inevitável»
«Setenta personalidades vieram dizer o que estava à vista de todos mas não podia ser dito: a dívida tem que ser reestruturada nos seus prazos, juros e montantes. Passos apressou-se a reafirmar a fantasia oficial (...). Considera que a despesa pode ser ilimitadamente comprimida, ano após ano, para se ajustar às metas fixadas. Acredita que novas medidas, novas falácias, novas mentiras, inimagináveis sacrifícios pseudo-temporários, poderão submeter continuamente o país, aterrorizado, a um destino de austeridade eterna. Acha que a chave do problema é a despesa, ou seja, os velhos, a saúde, a educação, os funcionários. Agora uns, depois outros, no fim todos. Com o despedimento a gosto e um exército de desempregados e emigrados, Passos vai converter Portugal num novo Chile. Passos não o diz (se calhar não o compreende) mas ele representa o fim do projecto nacional iniciado com o 25 de Abril. Com ele ou sem ele, a revolução reaccionária que planeia e executa só será possível em ditadura.»
Sérgio Sousa Pinto (via facebook)
«É difícil imaginar tanta raiva, tanta vontade de calar, tanto desejo de pura exterminação do outro, como aquele que se abateu sobre o manifesto dos 70 signatários a pretexto da reestruturação da dívida, uma posição expressa em termos prudentes e moderados por um vasto grupo de pessoas qualificadas, quase todas também prudentes e moderadas. (...) Veio ao de cima tudo, a começar pelo primeiro-ministro, que os tratou de essa "gente", ou porque tinham uma "agenda política" ou porque eram "cépticos" por natureza, inúteis para o glorioso esforço nacional de empobrecer como programa de vida. O manifesto era "antipatriótico", com um timing inaceitável, a dois meses da "libertação" de 1640, feito pelos "culpados" do esbanjamento, pelos "velhos" a defenderem os seus privilégios, pelos defensores do statu quo dos interesses instalados, pelos "jarretas", pela "geração errada". O seu objectivo escondido, ao assinarem o manifesto, é outro, é "manter o modelo de negócio que temos, o Estado que temos, e atirar a dívida para trás das costas", escreve António Costa em editorial do Diário Económico. José Gomes Ferreira é mais claro: "Estará a vossa iniciativa relacionada com alguns cortes nas vossas generosas pensões?"»
José Pacheco Pereira, A raiva que o manifesto dos 70 provocou
«Este manifesto limita-se a olhar a realidade de frente: o País caminha para o suicídio, e é preciso mudar o rumo. No quadro europeu. Pesando o interesse de Portugal, mas também o interesse comum do projecto europeu, de que muita gente, em Bruxelas e Berlim, parece ter-se esquecido. Perante isso, o primeiro-ministro, e uma escassa legião de escribas auxiliares, acusam os subscritores do manifesto de "pôr em causa o financiamento do país", de "inoportunidade", e, até, de falta de patriotismo. (...) A verdade dói, mas a mentira mata. Tenho muito orgulho em ter assinado este manifesto ao lado de Manuela Ferreira Leite, ou Bagão Félix, pois a diferença crucial não é entre esquerda e direita, mas entre a verdade e a mentira. O que une este governo, e o atual diretório europeu, é a ligação umbilical entre o seu poder e a mentira organizada.»
Viriato Soromenho Marques, Os homens não são todos iguais
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14 comentários:
Uma questão: como querem defender uma restruturação da dívida que beneficie os devedores e não os credores, defendendo simultaneamente a continuação no Euro e não renunciando aos tratados europeus desde Maastricht, pelo menos? como defender essa restruturação sem colocar a possibilidade da nacionalização da Banca? Este manifesto é completamente esquizofrénico: parece que a Europa Real não existe, foi substituída por uma somente existente nos sonhos e devaneios desses notáveis!
Quem beneficia do quê é algo que só pode ser determinado em negociações. Pode até bem ser que o que saia delas não nos agrade de todo, ou não agrade a alguns, pelo menos... Só que elas só irão ocorrer se o problema estiver em cima da mesa e é essa a principal virtude deste Manifesto, que está longe de ser uma solução completa e até coerente (ou nunca teria tido tantos subescritores). Já agora, uma palavra para as reacções alérgicas que ele provocou: 'os Leões reconhecem-se pelas garras, as hienas e os chacais pelos latidos...'
Como se costuma dizer na área de negociações: uma negociação bem sucedida é aquela de que todas as partes saem com o sentimento de derrota.
Claro que para haver sequer uma negociação é preciso havê-los do tamanho de melancias e isso já está mais do que estabelecido que não é o caso.
Talvez tenha chegado a hora de discutir e por á votação do povo Português a questão da permanência no Euro e mesmo na UE.
Tal como as coisas estão não há dúvida que o país nunca mais vai sair da cepa torta em favor dos Alemães e povos do Norte, tudo com a bênção do PM e de seus capangas e seguidores, eles sim grandes traidores á Pátria.
«...se o problema estiver em cima da mesa e é essa a principal virtude deste Manifesto»
Traduzindo: como é possível que o Governo não consulte todas estas eminências e as deixe na obscuridade sobre o que se passa em cima da mesa?
Eis o síndrome dos senadores, essa espécie de gente que sem assumir responsabilidades querem que os responsáveis a eles se reportem. 70 são uma pequena amostra da totalidade da espécie.
O contra-ataque da brigada do "bate-punho", de punho em riste, passe a redundância.
Ah, pois, até se pode admitir isto em privado, mas falar disso em público, nem pensar, o segredo é a alma do negócio... Sucede que a Democracia dá-se mal com tais coisas. Mas, já me esquecia, o José acha que ela não tem nenhum papel a desempenhar nas questões económicas (resta saber então para que serve)...
Triste mesmo ver a insistência quase patológica com que josé faz o seu métier de se atirar com unhas e dentes a quem por um acaso e com todas as contradições já apontadas, resolve contrariar a voz dos seus deuses?
De concreto o que josé acrescenta ao debate para além duma tradução que não desdenharia ser assinada por um relvas ( e com isto está tudo dito)?
José ou uma pequena amostra dos da sua espécie.Fala em "responsáveis" querendo referir-se concretamente a quem?
Aos terroristas que nos governam e que nos encaminham a toda a brida para o precipício? E que mandam os seus "tradutores" particulares fazer aquilo que quotidianamente encontramos nos pasquins dos seus órgãos de informação?
A raiva que um manifesto provoca entre a horda servil e pusilâmine
De
Para os treteiros abrilescos, a democracia é uma espécie de 'reality show' em que a governação se faz na rua e em todos os antros que se proclamem agentes do interesse público.
Não é assim, óbviamente, e na prática não passa de um sistema de representação com suas regras e suas àreas reservadas com acessos condicionados. Há até coisas muito extravagantes como segredos de Estado, diplomacia secreta, e outras raridades que existem em todos os Estados, só que nos autoritários não mudam os actores com a democrática frequência e têm meios pouco recomendáveis de sossegar os espíritos mais agitados.
Assim é também nos regimes auto
A edição da 1:36 contém um parágrafo espúrio...
José não esconde a sua peçonha anti-democrática.E defende os cozinhados feitos mesmo que à custa da limpidez da verdade e da lisura.
Os negócios para o josé assumem assim um carácter de "assunto de estado" desde que o estado sirva para servir os interesses de quem o jose ache por bem.Não será por nada que uma parte importante dos ministros e dirigentes do PSD de cavaco estão metidos em negociatas criminosas e em alguns casos com outros processos-crime.
Era tudo muito "democrático" à moda da democracia de josé.
Suspeita-se com fundamento que a sua concepção seja equivalente à de um néscio e pútrido salazar.
Entretanto os meios que jose defende para manter os seus actores favoritos, os da sua seita amada,seja coelho,merkel ou qualquer outro agente banqueiro passam também pela sua raiva tão bem expressa a uns tantos que tiveram o azar de assinar um manifesto com que josé discorda.É ver os impropérios e o tom rasca com que o faz.De facto o neoliberalismo aproxima-se perigosamente da extrema-direita típica.
O 'reality show" de que josé fala é este triste espectáculo que assistimos das fitas dos que nos governam e das encenações macabras dos relógios de portas, dos rancores à função pública, dos convites forçados à emigração, da violência fiscal sobre os que trabalham, dos roubos salariais e de pensões, das fortunas acumuladas nas mãos dos mais ricos, dos impropérios a quem não lhes apara os golpes,da caridadezinha que promovem, dos sorteios fiscais abjectos, da mentira quotidiana e da manipulação perpétua.
O resto?
o resto é "segredo de estado" e "diplomacia secreta".
De
Mas para deixarmos um pouco o ambiente sinistro e anti-democrático em que jose se sente bem e que defende desta forma tão "agitada",passemos a assuntos mais importantes.
Mais uma vez um fragmento de um texto de JM Correia Pinto:
"Relativamente à dívida, o establishment actua dividido e tenta pôr em prática duas tácticas diferentes.
O Governo está antes de mais interessado em consolidar uma agenda ideológica que somente o endividamento e a dependência externa lhe permitirão levar até ao fim. Mas o Governo sabe perfeitamente que a dívida é insustentável. Quanto ao seu pagamento, a táctica do Governo, embora não pareça, também é óbvia. Quer fazer tudo o que estiver ao seu alcance para parecer credível aos olhos dos credores para numa segunda fase, coincidente com a segunda legislatura, evidenciar a insustentabilidade, negociando uma reestruturação ou pura e simplesmente beneficiando do precedente entretanto aberto para a Espanha ou para a Itália ou para ambos.
Do lado dos subscritores do Manifesto, a ideia que os guia é antes de mais impedir a consolidação da agenda ideológica do Governo e romper com o unanimismo existente à volta da sua política. Subsequentemente tentar abrir uma clareira no seio da União Europeia por onde possa abrir-se caminho à renegociação da dívida, embora saibam que as propostas que apresentaram são insuficientes. São insuficientes, mas são importantes como começo. O resto virá depois.
Neste contexto quem fica francamente mal colocado é o PS oficial e os seus apoiantes oficiais e oficiosos. Porque ou não dizem nada ou quando abriram a boca foi para dizer que o timing escolhido para debater este assunto era inapropriado".
Repare-se como reagem os peões de brega ao serviço de coelho /relvismo
De
O José não será o Passos Coelho.!?
É que o fulano tem o mesmo discurso deste tal José e, como ele, destila ódio contra quem o contrariar. Grandes Democratas.!
José, para sua informação, eu compreendo bem a necessidade seja da diplomacia se fazer com a discrição necessária, seja da manutenção do Segredo de Estado. Só que neste caso não é isso que está em causa. Uma coisa é Passos Coelho rejeitar a hipótese de uma reestruturação da dívida, está no seu direito de não querer mudar de política (mesmo que eu considere que ele está errado quando a isso), outra coisa é vir falar dos signatários do Manifesto como 'essa gente', ou de sequazes da Direita estilo Gomes Ferreira virem fazer ataques 'ad hominem' dizendo que a única coisa que preocupa os signatários é as suas reformas, ou você vir para aqui com alarvidades chamando-lhes, e cito-o, 'dissimulados, chorosos e malfeitores'. Porque é que a questão da renegociação da dívida não pode ser debatida na praça pública, inclusive no Parlamento, como muito bem fez o João Galamba? Porque assusta os credores e nós não podemos ter outra atitude que não seja baixar-lhes as calças? Porque aumenta os juros? Paciência, custará muito menos que a 'demissão irrevogável' do Paulo Portas... Não tentem calar os outros, sobretudo berrando-lhes aos ouvidos e recorrendo a epítetos como 'abrilescos', quando as posições que aqui se fazem ouvir estão bem ancoradas na Social-Democracia (veja a entrevista de Helmut Schmidt ao Bild em Dezembro e se não ler Alemão, tem uma tradução parcial disponível no blog da Helena Araújo) ...
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