O péssimo resultado da esquerda francesa e a confirmação do cada vez mais forte enraizamento da Frente Nacional nas eleições municipais são outros tantos pretextos para voltar a perguntar ainda antes das europeias: como é que se diz depois queixem-se em francês? A maioria da esquerda francesa prefere continuar a pertencer ao “partido único do euro”, na apta expressão de Jacques Sapir, que só garante austeridade e neoliberalização no “poder” e inconsequência programática na oposição, abandonando em larga medida o plástico terreno do nacional que é popular à Frente Nacional.
Hoje é claro o paradoxo, digamos assim, na base de uma parte das derrotas passadas, presentes e futuras: uma parte da esquerda converteu-se de forma aparentemente irremediável à “Europa” no preciso momento em que o neoliberalismo aí ficou seguramente inscrito, nos anos oitenta e noventa, em clara ruptura com o eurocepticismo muito generalizado à esquerda em tempos anteriores que até eram de integração menos intrusiva e menos claramente neoliberal. É um país muito distante aquele em que Olof Palme, referido pelo historiador Bernard H. Moss, só para dar um exemplo, se referia à CEE pelos quatro C: conservadora, capitalista, clerical e colonialista...
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16 comentários:
Esse Olof Palm ia pondo a Suécia a dar com os burros na água. Felizmente os suecos tiveram o bom senso de pôr o país nos eixos.
'Ser de esquerda' é talvez a mais paranóica síndrome da política.
Um qualquer cretino não sabe resolver coisa alguma 'mas é de esquerda' e deve dar-se-lhe todo o tempo até que possa conjecturar uma solução 'de esquerda'.
É uma espécie de bem-aventurança em que a inconsequência ou o dislate merecem absolvição pela suposta boa intenção.
Será uma religião?
Será a versão laica dos bem-aventuradoos pobres de espírito?
Depois queixem-se de que os que dirigem a acção política ao real, ao quotidiano, e apresentem soluções reconhecíveis como tal pelo senso comum possam progredir.
Porque uma solução é algo para agora, e se não é 'de esquerda' pode ainda assim ser a solução possível - para já!
A política mede-se na acção.
Palavras avisadas e clarividentes. Espanta a subordinação ao "partido único do euro", espanta a rendição ao neoliberalismo e à austeridade mais idiota e desbragada.
De
( Com o devido respeito pelo autor do post, lastima-se esta "investida" de jose a propósito sabe-se lá do quê.Ou talvez se saiba.Uma cantilena monótona e tão velha como o ódio que a dita direita mais radical tem de tudo o que cheire a "esquerda" mesmo que uma parte importante desta, objectivamente, siga o percurso "conservador, capitalista, clerical e colonialista" denunciado pelo Olof Palme.Em nome das tais "soluções reconhecidas pelo senso comum" pois claro.
Mas o que importa aqui salientar é a "acção" preconizada pelos defensores a outrance do neoliberalismo mais desbragado, sem quaisquer peias nem escrúpulos,fazendo jus ao perfil austeritário escondido sob o euro.
Espanta de facto que muita da dita esquerda permaneça cega e surda ao que a cada dia que passa se torna mais evidente. As palavras do referido jose também deveriam servir para despertar alguns incautos)
De
Olof Pal foi assassinado e ainda hoje os contornos deste crime permanecem obscuros.
Ainda há quem não esconda a satisfação pelo facto de Olof Palm ter desaparecido desta forma da cena política europeia.
"O país nos eixos" deixa antever muitas coisas.Mas não vale a pena ir agora por aí.O já dito por josé é por demais (infelizmente) elucidativo da forma de pensar e de agir de quem escreve o que escreve
De
Vou cometer aqui o acto paradoxal de mencionar o Joane cá do sítio, apenas para dizer que ao Jose é deixá-lo zurrar sem ligar muito. Basta ver o seu comentário de como "uma solução é algo para agora" que choca com os seus comentários contra soluções que não acautelaram o futuro. Cara criatura, haja quem o ature, por mim é falar para a tromba...
Quanto ao artigo do João, acho que é dos artigo que tenho lido aqui nos Ladrões com o qual mais empatia tenho. De facto, a posição de sair do Euro e da Europa é daquelas com as quais menos me identifico. Em parte por uma questão de artigo. É certo que a Europa como está, e em particular o Euro, não servem, mas será que não há uma Europa e um Euro que sirvam? O eurocepticismo que o João menciona nunca impediram uma construção europeia. Aliás, na sua génese, dificilmente a Europa poderia ser mais de esquerda e não enveredar por todos os disparates de bandeira escarlate.
"A maioria da esquerda francesa prefere continuar a pertencer ao “partido único do euro”"
Porque será?
Porque será que só a Frente Nacional se dedica ao "plástico terreno do nacional que é popular"?
Porque será?
Aos administradores do blog:
Leio este blog quase desde que foi criado. Desde a sua criacao lembro-me de pelo menos 2 episodios de ataque constante e cerrado por parte de "trolls".
Em ambos os casos o problema foi resolvido com regulacao da caixa de comentarios por vossa parte. Essa regulacao pecou sempre apenas por ser tardia.
Nao ha que ter medo algum de combater "trolls" atraves de regulacao de comentarios. O fenomeno do "troll" e largamente reconhecido na internet e o comportamento deles claramente tipificado. O objectivo deles e causar mau-estar e confusao entre leitores de blogs e em geral criar um mau ambiente nos sites que tem como alvo desincentivando a discussao racional e a leitura por parte de novos leitores.
Muito diferente do ocasional comentario mais idiota que rapidamente e corrigido por outros comentarios o "troll" nao esta interessado em discutir racionalmente ou convencer outrem mas sim simplesmente causar confusao. Dai a pratica de mudanca de argumento (mas mantendo-os controversos), dai a repeticao de argumentos absurdos ao fim de algum tempo, dai a resposta e contra-resposta constante.
Da trabalho regular a caixa de comentarios? Sera que o "troll" tentara arran jar subterfugios para escapar a regulacao? Sim, tentara e sim dara trabalho, e a vida, dores de crescimento por parte de um espaco que gracas a qualidade dos seus textos ja nao pode ser simplesmente ignorado pelos seus adversarios.
O meu comentario agora como em episodios anteriores (repito-me isto nao e a primeira vez que acontece) entao permanece o mesmo. E de uma ironia atroz que um blog que tao bem e correctamente advoga a necessidade de regulacao Estatal na economia politica seja tao "liberal" no seu tratamento das suas proprias caixas de comentarios.
A outros leitores/ comentadores residentes:
Enquanto nao ha regulacao, a melhor solucao de compromisso e seguir a regra de ouro "nao se da de comer a trolls" ou seja, nao se responde.
PS
Se a solucao de bloquear ou apagar comentarios nao vos agrada existe uma outra solucao bastante elegante que ja vi em blogs como o realclimate:
Um espaco dentro do blogue que eles chamam o "borehole", visivel na pagina principal mas sem destaque onde todos os comentarios que nao contribuem para a qualidade da discussao sao despejados. Desta forma nao interferindo com as discussoes nas paginas principais e sem incorrer na critica de que "houve censura!".
Nao e censura combater "trolls" argumento eu, mas tenho de admitir que a solucao encontrada pelo Realclimate para esse chavao e elegante.
Lowlander, este blogue diz que
« ... pretende desafiar o actual domínio da direita na luta das ideias».
Sendo de esquerda, desafia e diz querer lutar.
Se me disserem ser uma capela para convertidos, talvez o seu incómodo se justifique.
De outro modo confie-se à suas convicções ou não leia.
Nisto de esquerda convém separar as águas: a esquerda modernaça abraçou o Euro com desvelo e candura. Quem não aceitou a canga foram os ortodoxos. Dois sacos, portanto: trigo e joio. É que às tantas, aparece tudo junto, o que é uma aldrabice.
João, também há uma direita arrependida e que não se revê nos dislates cometidos pelo nosso (des)governo, ou por outros sinais que brotam por essa Europa fora. Não é uma questão de trigo e joio.
O argumento não é muito convincente.
O Parti/Front de Gauche, que existe há menos de dez anos, obteve um score à volta dos 11% e tem a possibilidade de ganhar uma grande cidade - Grenoble.
O FN, que existe há várias décadas, obteve cerca de 16%, o que está longe de ser um resultado sensacional, não é capaz de conquistar nenhuma cidade com a dimensão igual ou superior a Grenoble. Parece-me que o resultado do FN está a ser seriamente sobre-avaliadado.
PS: o Front/Parti de Gauche não pertence ao chamado "partido do Euro".
Mas onde ambos se enfrentam, são poucos os casos em que o FG sai à frente da FN.
E basta ver as sondagens para as europeias para ver como o discurso de uns e outros é ou não menos apelativo à população em geral.
Não sei, ainda não conheço os dados finais. De qq modo, Grenoble foi ganha pela aliança EELV-PG.
Provavelmente uma aliança FG-EELV seria capaz de redinamizar uma alternativa de esquerda ao PS. Creio que o Parti de Gauche está disponível para essa aliança, e que são os ecologistas que a recusam.
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