Em 1997, PS e PSD degladiavam-se para ver quem era o mais acérrimo defensor da entrada de Portugal na moeda única (que seria decidida no ano seguinte). Os argumentos utilizados para defender esta opção chegavam a ser embaraçantes para quem tinha o mínimo de formação económica. Lembro-me, em particular, de um folheto distribuído porta a porta, com a cara de António Guterres, então a secretário-geral do PS e primeiro ministro, em que surgia destacada essa imensa vantagem que seria podermos ir de Lisboa a Helsínquia sem pagar comissões pela troca de escudos pela moeda local, cada vez que passássemos uma fronteira.
Foi neste ambiente de displicência nacional que, uns meses antes de ter sido produzido o folheto referido nest post do Nuno Teles, um conjunto de estudantes e recém-licenciados do ISEG, que incluia alguns dos autores deste blog, colaboraram com a Juventude Comunista Portuguesa na preparação de uma campanha de esclarecimento e debate sobre a União Europeia e sobre as implicações da adesão de Portugal à moeda única. Ao mesmo tempo, organizávamos no ISEG o referendo que considerávamos dever ter sido realizado a nível nacional. Os resultados do referendo, não nos foram favoráveis: apenas um quarto dos estudantes, professores e funcionários daquela instituição se pronunciaram contra a adesão ao euro. Dada a hegemonia da visão romântica sobre a UE que se vivia na altura, o referendo nacional, se tivesse tido lugar, provavelmente não produziria resultados distintos. Mas, pelo menos, admitindo que a discussão pública teria sido tão frutuosa quanto a que teve então lugar no ISEG, todos teriam maior consciência do buraco em que estávamos a meter-nos.
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6 comentários:
A verdade é um coisa complexa.
Os defensores do escudo e suas desvalorizações, adquirida que foi a moeda única, passaram a defender salários europeus para a indigência e improdutividade nacional.~
E foram tão bem sucedidos que podem agora reclamar ter tido razão antes do tempo.
Eu diria que levaram tempo e esforço a ter razão!
Raramente comento comentários. Aliás, sobre abro excepções quando, pela sua incongruência ou insubsistência, me vejo forçado ao vernáculo(É pá: como ele que te enfiou um dedo no cú e ainda consegue bater palmas ao mesmo tempo? Nâo desconfias?). É quase grotesco, não é? Por isso é que só abro excepções à regra de vez em quando. Quer dizer, em situações de emrgência ou quase emergência.
Um pequeno aparte para relembrar que a origem, posicionamento e consciência de classe da população do ISEG não é nada representativa da população nacional...
Concordo em absoluto. Sempre defendi um referendo sobre a adesão ao Euro (antes chamado de ECU) pelos mesmos motivos: pelo menos a população teria ficado mais consciente das vantagens e desvantagens dessa adesão.
E um dos motivos da adesão ao euro, que era resistir melhor a ataques especulativos feitos pelo dólar, como aconteceu aos "Tigres Asiáticos" anos antes, nem era muito falado. Talvez porque leva-se à necessidade de "controlos de capitais", não sei...
Onde se têm perdido gente para a democracia é nas profecias de desgraça(2ºresgate,chumbo da revisão da troika-desde a5ª até 11ª) bem comoa inepcia de prever os mecanismos que faziam falta para evitar que gente irresponsavel possa endividar um país, um municipio ou regiao autonoma que todos temos de pagar. Ou se separa a eleição politica da gestão profissional ou não vamos parar com a promiscuidade entre poder politico e a corrupção.
No que toca ao tema da participação de Portugal na UEM há um 'combate' que me parece pouco explorado, o qual reside precisamente na "visão romântica que se vivia sobre UE na altura" (da adesão ao euro). Essa visão representava uma verdade temporalmente situada e espacialmente localizada que embora abalada me parece ainda hegemonizada.
O combate a que me refiro é 'pela verdade' ou 'em torno da verdade', sendo que por verdade não entendo o conjunto de consequências e efeitos positivos ou negativos, inicialmente previstos ou actualmente experenciados, resultantes da participação no projeto europeu, mas antes o conjunto de regras segundo as quais o discurso em torno da UE foi acolhido e funcionou como verdadeiro face aos discursos contrários. Trata-se assim de um combate em torno do papel político e económico que a verdade desempenha.
Neste sentido, a verdade não existe sem ou fora de um sistema de poderes que a produzem e a apoiam. É pois este poder, poder de verdade, que é necessário fazer aparecer, expô-lo, mostrá-lo no seu estado mais puro para que aí possa ser combatido, para que aí possa ser resistido.
Parece-me que a "visão romântica" da UE mais do que uma questão de 'consciência' é uma questão de 'verdade'. Enquanto o seu regime de produção não for posto em causa, dificilmente a sua hegemonia será contestada.
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