terça-feira, 13 de agosto de 2013
O fabuloso destino de Eike Batista
O Financial Times publicou, há uns dias atrás, uma reportagem sobre a ascensão e queda do império daquele que foi até há pouco tempo o homem mais rico do Brasil, Eike Batista. Uma história que encerra algumas das tendências longas do capitalismo contemporâneo. Nascido de uma família da burguesia brasileira (o pai foi ministro das minas e presidente do gigante mineiro "Vale"), Batista beneficiou de toda a euforia em torno das matérias-primas dos últimos anos para construir uma complexa rede de empresas - uma de prospecção de petróleo, outra de transportes, outra de infra-estruturas portuárias, outra de energia e, finalmente, uma empresa mineira. O empresário conseguia assim dominar toda a cadeia de produção de matérias-primas da origem até à exportação. Isto tudo alicerçado num forte endividamento junto dos mercados financeiros, beneficiando de financiamento público e para-público (4,5 mil milhões de dólares do Banco Nacional de Desenvolvimento) e da abundante liquidez internacional de paragens tão distantes como o fundo de pensões dos professores de Ontario, no Canadá.
O plano parecia um sucesso. A empresa de prospecção petrolífera OGX, núcleo duro do projecto, chegou a atingir 35 mil milhões de dólares de capitalização bolsista, embora contasse só com 350 trabalhadores (imagino que a sua actividade era sobretudo subcontratada). Eike Batista beneficiou assim triplamente da explosão da esfera financeira que acompanhou o seu projecto. Por um lado, conseguiu financiamento um pouco por toda parte. Depois, beneficiou da euforia financeira em torno das matérias-primas num contexto em que a China parecia um sorvedouro. Finalmente, o seu brilhante marketing permitiu uma valorização estratosférica das suas empresas. O empresário “valia” 30 mil milhões de dólares há pouco mais de um ano.
Entretanto, a sua fortuna líquida encolheu agora para uns “meros” 200 milhões. As promessas de produção de petróleo goraram-se por falta de capacidade tecnológica. O império estava assente em pés de barro. Com os preços dos minerais a caírem e as acções das suas empresas a colapsar, Batista está agora obrigado a vender activos e reestruturar todo o seu modelo negócio. Claro está que, duas semanas antes de ser anunciado o falhanço na prospecção, Eike Batista “oportunamente” vendeu lotes de acções da sua empresa.
Quem perdeu com este castelo de cartas? Com certeza, alguns fundos de gente muito rica. Mas, quem fica realmente a perder são os cidadãos brasileiros. Por um lado foram eles que financiaram as empresas, mostrando como o desenvolvimentismo estatal pode ser capturado por interesses privados quando não há mecanismos de controlo democrático. Por outro lado, foram trabalhadores e pequenos proprietários que se viram sujeitos às expropriações e violência de projectos que prometiam mundos e fundos sem olhar a meios. Ah, claro, e os professores de Ontario.
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2 comentários:
Ao Anónimo anterior,
Não chego a perceber se foi um comentário de apoio ou de desagrado.
Sei apenas que, com exceção do Nuno Teles, todos, neste blogue, me parecem de uma ingenuidade franciscana. Uma cambada de incapazes (ufanados economistas – uma elite de trampa) de perceber o Poder de um Monopólio Bancário Mundial sobre qualquer economia.
É por isso que congregam simpósios (com outros ufanados economistas estrangeiros) para debaterem milagrosas soluções económicas. Sem sequer perceberem que tipos que controlam a moeda em circulação criam situações de boom ou de crise.
Enfim, o economês que é ensinado nas nossas escolas…
Então, não se deve fazer nada porque as coisas podem correr mal? O homem teve azar. Apostou em petróleo que não conseguiu extrair a preços rentáveis. Nada que se conseguisse prever. Se tivesse sido o estado brasileiro a fazer o investimento directamente, o resultado seria o mesmo.
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