quinta-feira, 15 de agosto de 2013
Ao mesmo tempo
Dizer-se que a crise é “uma oportunidade extraordinária” é o cúmulo da safadeza económica. Não admira que os capitalistas dos chamados call centers olhem assim para a crise, já que este sector, aparentemente em crescimento, é conhecido por ser baseado em relações laborais onde a compulsão é tão aberta quanto a precariedade, elementos que a crise favorece com consequências deletérias para a transformação estrutural que possa assegurar o desenvolvimento: “se não estás satisfeita, a porta de saída é ali”. São sectores onde se pode falar e pagar assim que prosperam num país semiperiférico e atravessado por uma espécie de “desenvolvimento desigual e combinado” (talvez devamos dizer desenvolvimento do subdesenvolvimento desigual e combinado, juntando duas fórmulas clássicas da economia política internacional marxista…). A reportagem de Paulo Moura, no Público do passado Domingo, sobre o crescimento das multinacionais do call center em Portugal, de onde foram tiradas as citações, resume na perfeição a lógica dominante em curso: “Portugal está portanto num momento ideal para a entrada das multinacionais do call center. Os últimos governos dotaram o país de uma boa infra-estrutura tecnológica, baixaram os salários e aumentaram o desemprego até ao ponto de terem grande parte da população desesperada, mas ainda não ao extremo de haver protestos violentos. Um bom trabalho, na perspectiva das multinacionais. Para elas é perfeito: um país desenvolvido e miserável ao mesmo tempo.”
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2 comentários:
Que tal ver a entrevista do Strauss-Khan a tv dos EUA? se há quem saiba o que vai acontecer a UE talvez este saiba.
"Um país desenvolvido e miserável"!... A equação perfeita que vai permitir um colonialismo de um novo tipo, em que as multinacionais do call center (que pouco valor acrescentado introduzem na economia) se substituem aos exércitos que garantiam a ocupação territorial das antigas colónias africanas e asiáticas das potências europeias.
Será este o destino de um país, que nunca soube acertar as contas com a sua história: passar para a condição de país colonizado.
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