quarta-feira, 7 de agosto de 2013
Economia política da política económica
É mesmo Portugal hoje, visto de 1943: Pedro Lains defende a actualidade de uma passagem do artigo de Michael Kalecki, saído em 1943, sobre os aspectos políticos do pleno emprego. Eu não conheço outro artigo que destile tanta sabedoria em tão poucas páginas. Economia política da política económica, no fundo. Note-se que Kalecki antecipou, em polaco no início dos anos trinta, algumas das ideias de Keynes sobre a importância da procura, fazendo a ponte entre Marx e Cambridge. A sua mensagem deve ser escutada pelos keynesianos bastardos, como lhes chamava a colega de Kalecki em Cambridge, Joan Robinson, os que tratam a economia como se fosse uma espécie de engenharia hidráulica, os que esquecem a política, a história e a incerteza radicais, mas também deve ser escutado pelos esquerdistas, os que acham que esta tradição não é mais do que um esquema sórdido para prolongar o tempo de vida do capitalismo. Kalecki argumenta que o pleno emprego é muito mais difícil de alcançar do que muita gente julga, dados os obstáculos políticos colocados pelas forças sociais que, no fundo, sabem que os trabalhadores ganhariam confiança para outros voos se a política económica apostasse no controlo das forças de mercado, indicação que ilumina as causas da opção pela austeridade. A democratização da economia é um processo que se decide nas lutas sociais que definem quem conduz as políticas públicas aqui e agora, no meio de uma crise de procura. Tudo o resto são contradições secundárias, digamos. De resto, não há por aí um bom tradutor com disponibilidade militante?
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6 comentários:
Caro João
Tiro certeiríssimo. Parabéns por isso.
Enquanto se espera pelo tradutor militante, fica pelo menos o corrector, desejavelmente não arrogante: "destile" em vez de "distile" e "difícil" em vez de "díficil".
Um abraço... e muito obrigado.
Já corrigido. Obrigado, João Carlos Graça.
João Carlos, olha que ainda há dias apanhei uma gralha tua! Já não me lembro em que escrito.
João Rodrigues (isto hoje é tudo entre joães, johannes>joães!), quanto ao artigo de Kalecki, já o descarreguei para leitura mais tranquila. A silly season não é só para croniquetas sobre imitar pobrezinhos.
Candidato-me a tradutor benévolo, mas com necessidade de revisão final porque devo ter falhas em termos técnicos.
Ena,ainda é trabalho, cinco páginas a corpo 10 mais as quatro de notas a corpo nove ou perto. Desde já parabéns e obrigado antecipado.
Ia agora partilhar com um apelo a tradução a várias mãos mas fico então pela partilha apenas.
Obrigado pela generosidade João Vasconcelos Costa. Na medida das minhas possibilidades, posso ajudar na revisão.
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