quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

Temos tantos liberais em cima de nós

Roubado a Nuno Serra

Perante isto e perante aquilo que Vicente Ferreira abaixo expõe, e sem esquecer as dinâmicas desgraçadas do investimento público, o que explica o fanatismo dos liberais, os que nunca querem admitir as tristes consequências dos seus triunfos? Há uma certa racionalidade política na evidente falta de ética da responsabilidade, tal como argumentei em artigo no Le Monde diplomatique - edição portuguesa de Abril do ano passado:

A nossa democracia superou originalmente o liberalismo histórico, porque se propôs suplantar uma forma de capitalismo que não dava resposta às aspirações de liberdades reais para todos, incluindo nos espaços onde se trabalha, tantas vezes furtados a avaliação do que se pode ser e fazer. Estas origens revolucionárias do nosso regime constitucional democrático, de matriz tão antifascista quanto antiliberal, explicam que, na narrativa liberal, «o socialismo» seja o nome da situação em vigor até aos dias de hoje. A contra-revolução neoliberal nunca teria existido. As intervenções do Fundo Monetário Internacional (FMI), a adesão à Comunidade Económica Europeia (CEE) e às suas imposições liberalizadoras totais no campo económico e financeiro, particularmente no quadro da União Europeia, as privatizações maciças desde o cavaquismo, a adesão ao euro, e a correspondente perda de instrumentos de política económica, nunca terão existido. Enquanto existirem concessões colectivistas no capitalismo português, mesmo que enfraquecidas, da Segurança Social a um mínimo de provisão pública desmercadorizada, esta gente não descansa ideologicamente e daí a insistência convergente da IL e do Chega em projectos de ainda maior descaracterização constitucional.
 
A presença do Estado, indissociável de qualquer forma de capitalismo, permite sempre aos liberais responsabilizar esse mesmo Estado pelo fracasso das suas políticas. O liberalismo é uma utopia com consequências distópicas e que se furta ao real: das alterações climáticas à multiplicação dos serviços de cuidado para tanta gente vulnerável, a presença do poder público actuante para lá do nexo-dinheiro é cada vez mais urgente. 

4 comentários:

TINA's Nemesis disse...

Enquanto o facho chique da “Iniciativa Liberal” emprega a retórica “O Estado é enorme e está a sufocar os empreendedores ”, o facho tosco da Chaga, que tem como público-alvo aqueles que têm menos graveto que os do público-alvo da IL, usa as minorias como arma de arremesso.
Duas faces da mesma moeda, ambos têm o mesmo propósito, ambos servem o mesmo mestre que adora o Trabalhador submisso e um Estado a garantir-lhe rendas eternas.

“Iniciativa Liberal” e Chaga são o PàFismo saído do armário.
Melhor o PàFismo assumido do que o PàFismo aldrabão colossal pré-eleições de 2011… melhor ainda é um PàFismo completamente derrotado!

Jose disse...

É sabido que ricos são os que têm rendimento que não consomem, pelo que têm por destino acumular capital, apesar de um mais elevado consumo.
Estas estatísticas a equiparar a estrutura da despesa dos pobres à dos ricos é a última moda de quem não sabe medir e justificar a despesa.

Satiricon disse...

E em termos de eficiência e eficácia, burocracia, transparência e prestação de contas? Saltamos no gráfico para o lado da Suécia?

Anónimo disse...

Os liberais mentem e sabem que mentem. Não passarão.