Reparai nas pancartas (ou como se distorce uma revolução democrática e nacional...)
A fazer fé nas sondagens, corremos o risco de ter o Livre outra vez no parlamento, mesmo depois do triste espectáculo que nos proporcionou na passada legislatura, aquando da retirada da confiança à sua deputada. O Livre resume tudo o que está mal numa certa esquerda, começando no empreendedorismo de quem criou um partido sozinho, subindo para um palanque num teatro lisboeta há uns anos atrás. A americanice das primárias veio por arrasto. E isto não é o pior.
O que o jovem conservador de direita disse do Volt aplica-se grosso modo ao Livre: “É um partido que, basicamente, quer que a União Europeia passe a ser um país. Há que elogiar um partido que defende o fim de Portugal. Eu também estou um bocado farto.”
E há mais: da proposta liberal na habitação ao RBI, expressões de tantos diagnósticos errados. E que dizer do fascínio por “fundos”? Já não é a primeira vez que Rui Tavares vem com esta conversa dos fundos e já aqui o criticámos por isso há alguns anos atrás: num destes dias, ouvi-o na TV dizer que se trata agora de taxar, também em sede de IRS, especialmente os altos rendimentos pós-universitários para criar “um fundo” para financiar jovens universitários, a ciência e um par de botas. O programa não é nada claro.
Imaginemos, mas só por um momento, que esta consignação é constitucional e perguntemos: um fundo é o quê? Um veículo que gere ativos financeiros, em modo de perversa financeirização do Estado, tal como tem sido estudado por Ana Santos? E como definir essa relação entre frequência universitária e altos rendimentos? Mistérios institucionais e fiscais.
Se Rui Tavares dissesse que queria simplesmente aumentar a progressividade do IRS para “financiar” o Estado social, incluindo a acção social escolar, tinha sido mais claro e rigoroso, mas não tinha tido o mesmo estilo. E o estilo prafrentex é tudo no Livre, que obviamente tem entusiástica recepção nos inconsequentes modismos académicos ditos progressistas, com acesso garantido a um Público em declínio editorial.
E é isto que passa pelo partido mais à esquerda nas ignorantes manipulações ideológicas do “votómetro” do Observador, expressão do entusiasmo mais geral das direitas ditas liberais pelo Livre, de Henrique Raposo no Expresso a Marques Mendes na SIC. Porque será?
14 comentários:
Eu diria antes, livrem-nos do sectarismo à esquerda!
A direita agradece este tipo de ataques.
A esquerda é plural e vejo essa diversidade como uma riqueza. Votei no LIVRE porque é a esquerda onde mais me revejo, mas não desejo a perda de votos do PCP, BE ou do PS. Temos as nossas diferenças e ainda bem que assim é. Mal será se não soubermos trabalhar em conjunto. Nesta altura do campeonato nem vou perder tempo a argumentar sobre estas acusações, tal como não vou atacar incongruências que encontro noutros partidos à esquerda. Acima dessas diferenças deveríamos estar focados em evitar uma possível governação de direita.
Rebater os argumentos seria boa ideia precisamente nesta altura do campeonato, Julio.
O que Júlio escreve é sintomático de uma certa doença política: fazer uma crítica a alguma "esquerda" é sectarismo. Não são só os apoiantes de Rui Tavares que sofrem dela. Por mim, embora tenha a noção de que o termo "esquerda plural" se presta a vários equívocos, não compreenderia tal "pluralidade" se excluísse o debate e a polémica numa área política cujas divergências e fracturas internas já contam bastante mais de dois séculos. E isto fazendo o favor de incluir o Livre nessa zona, porque uma coisa é certa: no actual contexto, "europeísmo" de esquerda é coisa que não existe.
Rui Tavares não pode ser excluído daquilo que não faz parte...
Rui Tavares é pró-NATO, pró intervenções militares "humanitárias";
Rui Tavares diz que a UE é uma organização democrática e ataca quem critica, a sério e consequentemente, a UE e Euro;
Rui Tavares é favorável a várias propostas liberais, sendo o Rendimento Básico Incondicional uma dessas propostas, propostas que mais não são que esquemas para sustentar um Capitalismo cada vez mais decrépito e perverso.
Digam-me advogados do Rui Tavares, porque razão se deve considerar o "LIVRE" e Rui Tavares esquerda?
É porque Rui Tavares utiliza - para proveito pessoal - o identitarismo?
Há quem defenda as minorias sem que se esqueça da classe. Classe, pelos vistos, provoca alergia a Rui Tavares...
Rui Tavares e o "Livre" não têm nada de bom para oferecer à população portuguesa, tal como o "Chega" existe para defender a classe dominante através da divisão e distração da população portuguesa.
Este texto é mesmo muito mau, a começar pela mentira descarada do primeiro parágrafo. O autor revela o seu elitismo em não conseguir ver senão a figura pública entre a mais de uma centena de pessoas que fundou o LIVRE. Como quem não é celebridade não existe na cabeça do autor, o Rui Tavares fundou o partido sozinho. A realidade é que durante a maior parte da história do LIVRE o Rui Tavares nem sequer esteve na direcção.
O que é dito no último parágrafo nem tem nada a ver com o LIVRE, que não tem culpa nenhuma dos disparates do Votómetro do Observador, mas revela o espírito sectário ao considerar pernicioso que figuras de direita tenham reconhecido mérito a Rui Tavares. Como é que a esquerda vai conseguir conquistar indecisos, se acredita que é mau sinal que alguém de direita veja algo de positivo naquilo que tem a oferecer?
Os dois parágrafos antes desse também são muito fracos. Prendem-se com uma questão de "estilo de comunicação", não com o conteúdo programático.
Restam o segundo e o terceiro parágrafo onde lá surgem algumas críticas de cariz político. Às propostas do LIVRE em relação à UE, e às propostas na habitação e RBI.
Curiosamente, o autor mostra-se incapaz de explicar porque é que as propostas são más. Em relação à UE opta por escolher uma linha de uma rábula dirigida a outro partido, evitando um dos debates mais importantes à esquerda (e um que está a ser travado no seio do próprio BE).
Quanto às outras (RBI e propostas para a habitação), nem tentativa existe: diz-se que são liberais (não são) e passa-se à frente.
O Rui Tavares é o primeiro candidato do LIVRE no círculo de Lisboa. Ele não é o LIVRE, nem sequer está na direcção do LIVRE, portanto creio que faz mais sentido discutir o LIVRE que o Rui Tavares.
O LIVRE é um partido de esquerda porque considera uma prioridade diminuir as desigualdades de poder, rendimento e património. É isto que faz um partido ser um partido de esquerda.
Pode-se debater a melhor forma. O RBI é uma medida redistributiva, que diminui as desigualdades de rendimento. Se for implementada sem diminuir em nada o Estado Social (e o LIVRE sempre foi claro que não aceitaria outro tipo de RBI) apenas acrescenta aos direitos que o estado garante às pessoas.
Quanto às propostas do LIVRE face à UE, são no sentido de atacar défices democráticos e por isso tornar a UE mais democrática. O LIVRE acredita que se as instituições forem mais democráticas, as políticas serão mais redistributivas.
Achar, como João Vasco, que a proposta dos fundos feita pelo Livre é questão de "estilo de comunicação" é não fazer a mais pálida ideia do que o seu partido anda a defender nestas áreas.
Quanto às outras propostas criticadas, pode sempre seguir as ligações para os textos. Afinal de contas, tem um blogue.
E quanto à UE, este é um "debate" que o Ladrões tem feito há anos e a posição do autor do texto é clara, distinta do BE e radicalmente distinta do federalismo do Livre. João Vasco sabe disso certamente.
Rui Tavares é o principal rosto do Livre desde a fundação. Também houve a Joacine. Fez-lhe sombra e saiu. Quanto ao resto, formalismos. Elitismos só mesmo no Livre.
Não percebo Ladrões, vocês querem uma "maioria plural de esquerda", mas depois vêm com estas tretas...
Portanto na realidade querem uma "maioria específica de esquerda"... Só PCP e BE... Grande pluralidade...
Em relação ao LIVRE e as questões europeias, o LIVRE está associado ao movimento DiEM25. Que é, em vários aspectos, exactamente o oposto do Volt.
Rui Tavares a falar pelo DiEM25:
https://youtu.be/Kyn-Z7FFYnc
Volt quer uma Federação Europeia partindo das instituições existentes.
Diem25 diz que as instituições existentes não são democráticas e como tal quer mandar a baixo essas instituições e refazer uma União Europeia realmente democrática.
Volt confia nas instituições europeias existentes.
DiEM25 não confia nas instituições existentes.
Acreditando mesmo em democracia e querendo mesmo uma "maioria plural de esquerda", devíamos pelo menos ser um pouco mais abertos a ideias de outros partidos, mesmo que tenham outras ideias que não concordamos.
Na realidade, se queremos mesmo a tal "maioria plural de esquerda", devíamos aceitar e conseguir entendimentos com partidos como Livre, Volt, PAN, MAS, JPP e RIR e desejar que tivessem assento parlamentar. Algumas das ideias destes partidos poderiam ajudar muito a esquerda a prosperar.
No entanto, cá continuam vocês a tentar dividir em vez de unir.
O post não é do "Ladrões", mas sim do João Rodrigues. Os textos são assinados. Quanto ao manifesto por uma esquerda plural: PS, PCP-PEV e BE chegam e sobram.
Em resposta ao comentário das 16:20 de 24 de Janeiro:
Aquilo que está escrito no texto que estou a comentar é: «Se Rui Tavares dissesse que queria simplesmente aumentar a progressividade do IRS para “financiar” o Estado social, incluindo a acção social escolar, tinha sido mais claro e rigoroso, mas não tinha tido o mesmo estilo.»
Como é evidente que a proposta do LIVRE corresponde a um reforço do estado social neste domínio, financiando o mesmo de forma mais progressiva, parece-me que é o próprio texto a assumir que as críticas feitas neste ponto são relativas a uma questão de "clareza" ou "estilo". Se for feita uma crítica diferente, cá estou eu para a discutir, se discordar.
Quanto aos pontos sobre o RBI e Europa, seja. É verdade que essa questão tem sido discutida neste espaço e razoável não se querer sumariar a discussão neste texto. Se eu quiser discutir os argumentos avançados, vou às hiperligações e participo nesse debate. E sim, parece-me razoável que quem discorda do LIVRE nestes pontos critique o partido por essas posições, mesmo que a agressividade da crítica e um contexto de necessidade de fortalecer os partidos de esquerda me faça pensar que o tom poderia ter sido melhor escolhido. Eu tenho feito algumas críticas ao BE e CDU, mas estou a torcer para que tenham uma boa votação, como todos os partidos de esquerda, não quero que "nos livremos" do BE ou da CDU. Seja como for, outras pessoas terão outras sensibilidades e as críticas do segundo e terceiro parágrafo são parte do normal debate que se trava por esta altura.
Quanto a esse "o Rui Tavares é o rosto do LIVRE" sinceramente acho mesmo lamentável. Vejamos: ao contrário do que diz o texto do post, Rui Tavares não criou o partido LIVRE sozinho. Mais de uma centena de pessoas esteve envolvida nesse processo, às quais se vieram juntar muitas outras centenas. Se a comunicação social apenas dá palco a uma pessoa, porque não tem interesse em ouvir desconhecidos, isto não significa que as outras pessoas não existam. Aquando da fundação do LIVRE, este partido várias vezes tentou que as outras figuras da direcção (composta por 15 pessoas), com poder e legitimidade igual a Rui Tavares (que na altura estava na direcção), fossem entrevistadas. A comunicação social sistematicamente recusou entrevistar ou dar voz a qualquer pessoa que não Rui Tavares, provavelmente assumindo que o público tem menos interesse em ouvir falar um desconhecido. Rui Tavares tornou-se o "rosto" do LIVRE por escolha da comunicação social que se recusou a ouvir qualquer outra pessoa deste partido. No fundo, a comunicação social partilhou do mesmo elitismo que ignora as mais de cem pessoas que fundaram o partido em conjunto com Rui Tavares: se não são celebridades, não existem.
Mas mesmo que tivesse sido escolha do LIVRE, e não uma reacção ao panorama mediático onde não é dada voz a mais ninguém, ter o Rui Tavares como "rosto" do partido, um rosto é isso mesmo: um rosto. Jerónimo de Sousa pode ser "o rosto do PCP", mas mesmo tendo mais poder formal sobre o PCP do que Rui Tavares sobre o LIVRE (o primeiro é Secretário-Geral, o segundo nem sequer está na direcção), ninguém diria que são inter-cambiáveis Jerónimo de Sousa e PCP. Fazer essa alegação para o LIVRE é pouco sério. E nem que isso fosse verdade agora (não é) deixaria de ser falso que Rui Tavares fundou o LIVRE sozinho.
O que o povo português precisa, depois de longos anos de austeridade e declínio impostos pelo europeísmo, é de uma partido euro-liberal de “esquerda” a dar-lhe sermões sobre as virtudes do europeísmo…
Nem o Rui Tavares nem o “Livre” propõem alguma coisa sobre como tirar Portugal do pântano onde o euro-liberalismo o meteu!
E não defendem nada porque se fossem sérios admitiriam que Portugal precisa de um Estado forte a dar respostas aos problemas concretos da população, problemas vários e graves.
Mas este é problema para os euro-liberais RT e os do “Livre”, eles não podem admitir um Estado nacional (há outro sem ser nacional?) forte, como depois justificariam a necessidade de “mais Europa”?
Se Rui Tavares não fosse um euro-dependente com boa vida ele não seria por “mais Europa”, já teria sentido os efeitos do europeísmo na carne há anos.
O europeísmo de uma minoria privilegiada está sustentado nos sacrifícios de muitos.
"TINA's Nemesis"
Onde o "TINA's Nemesis" vê "sermões" (porque dar esse nome pejorativo às ideias das quais discorda é o máximo que apresenta em termos de "argumentação"), eu vejo propostas concretas e consequentes, que têm o potencial de mudar o contexto.
Diz que não existem, mas qualquer visita ao programa do LIVRE mostra o seu erro: o LIVRE defende o reforço do PE face ao Conselho, defende o televisionamento das reuniões do Conselho, para que exista escrutínio, e defende a eleição do representante português no Conselho (algo que Portugal pode fazer unilateralmente), para que os cidadãos tenham mais voz na política da UE.
Quanto ao "estado forte a dar respostas aos problemas concretos da população", sugiro que dê uma vista de olhos ao programa do LIVRE antes de inventar a respeito daquilo que propomos ou deixamos de propor. Ninguém que conheça o programa pode negar que o LIVRE quer um estado mais capaz de dar respostas aos problemas concretos da população. Tudo bem que o Votómetro do Observador esteve bem equivocado em olhar para o programa do LIVRE e pô-lo à esquerda do BE e da CDU, demonstrando a ignorância ou desonestidade de quem concebeu o teste. Mas cair no extremo oposto e sugerir que o LIVRE não quer um estado mais capaz de dar respostas aos problemas concretos não é muito melhor.
Nada no programa do LIVRE sugere que não exista um Estado nacional. Mas sim, o LIVRE propõe uma UE mais democrática que a actual. É que se em Portugal subirmos os impostos sobre as empresas, por exemplo, elas fogem para a Holanda, ou Luxemburgo, ou para as ilhas Caimão. Mas se os cidadãos tiverem mais voz na política europeia, então em vez da "corrida para o fundo" tornam-se possíveis formas de concertação fiscal e outras formas de concertação que sejam compatíveis com um programa progressista.
Porque existem três possibilidades: aceita-se a UE como ela está (e estamos de acordo que isso é incompatível com políticas muito à esquerda das actuais); abandona-se a UE; ou muda-se a UE para que funcione melhor.
Abandonar a UE é má ideia, como o Reino Unido nos está a demonstrar: vão aceitar acordos de comércio e investimento com igual ou pior mobilidade do capital, mas onde as pessoas não têm uma palavra a dizer sobre as regras do comércio internacional - apenas os lobistas. E isto é o Reino Unido, que tem uma escala que Portugal não tem.
No fundo, é ficar com as partes más de pertencer à UE (ainda agravadas), só que sem ficar com as partes boas.
Resta aceitar o que existe, ou lutar por melhorar as regras do jogo.
O LIVRE tem um projecto consequente para mudar as regras do jogo. É o único partido, se bem que no BE também existam muitas pessoas que fazem este mesmo diagnóstico. A relação de forças no interior do BE é que ainda não permitiu que estas convicções se concretizem em propostas.
No Livre, Rui Tavares é Deus e nem precisa de estar na direcção para se portar ao longo dos anos como dono do partido sem que nenhum dos fiéis se aborreça. Ele É o partido.
Também poderia dizer:
"No BE, Catarina Martins é Deus e nem precisa de estar na direcção para se portar ao longo dos anos como dono do partido sem que nenhum dos fiéis se aborreça. Ela É o partido."
ou:
"No PCP, Jerónimo de Sousa é Deus e nem precisa de estar na direcção para se portar ao longo dos anos como dono do partido sem que nenhum dos fiéis se aborreça. Ele É o partido."
com o mesmo fundamento que o anónimo das 09:29 do dia 26 de Janeiro.
Enviar um comentário