Há, entretanto, pelo menos mais dois problemas ou, com eufemismo reforçado, «estranhezas», nesta bússola. Já repararam no posicionamento dos partidos na matriz do «votómetro»? Como se explica, por exemplo, que a distância entre o PSD e o CDS/PP seja incomensuravelmente maior que a que separa o CDS/PP dos fascistas do Chega (aliás, que não separa, pois tocam-se)? Já repararam que essa mesma distância (entre PSD e CDS-PP) é igual à distância que separa o PSD da CDU? E que dizer da posição em que colocaram o moderadíssimo Livre à esquerda da consequente CDU? Como se explica a distância tão grande entre o Livre e o PAN? E no quadrante inferior esquerdo, não cabe nenhum partido com representação parlamentar, mesmo que próximo da linha divisória horizontal? Esta matriz já sugere, de facto, estarmos perante uma adaptação muito duvidosa do clássico Political Compass.
Por outro lado, entre as apenas 21 questões colocadas (cerca de 1/3 das 62 que o Political Compass comporta), há pelo menos duas cujo objetivo não se percebe. Que se espera por exemplo, como resposta, da sentença de que «em Portugal, os criminosos mais violentos devem ser punidos com maior severidade»? Que se diga que não, que deve ser uma pena igual ou inferior à aplicada a crimes menos violentos? Pergunta legítima: tenta-se deste modo evitar que fujam do Chega respostas que o Chega não teria se a questão fosse sobre prisão perpétua? E que dizer da ambiguidade subjacente à sentença «o Estado deve garantir os meios para que todos os cidadãos tenham acesso a cuidados de saúde, independentemente do prestador de serviços (público, privado ou social)»? Onde vai parar um voto de concordância com esta frase, que mistura, por sonsice ou incompetência, uma alusão inicial aos direitos sociais e ao papel do Estado (um traço distintivo da esquerda) com os subsídios ao privado e os «cheques-saúde» da direita?
Bem podem lá no Observador dizer que com o «votómetro» estão a fazer «serviço público», definindo pomposamente a plataforma como um «atalho cognitivo» que permite aos eleitores dispor de uma «ajuda informada ao voto», a ponto de se se sugerir que é uma alternativa à leitura dos programas partidários. Ou seja, tudo boas razões para que esta plataforma, que já terá sido usada mais de 600 mil vezes, e que não pretendendo «influenciar o voto de ninguém», devesse ser mais credível e transparente, dando sinais bem mais claros e objetivos de rigor e isenção.
4 comentários:
Muito bem!
A 2ª pergunta é rara a pessoa que a entenda. E sim parece feita de propósito para enganar.
* Olá, nós somos o blog de fascistas do Observador, financiado por quem tem saudades do fascismo. Neste votómetro podem ver como vemos o Mundo, a partir do nosso "centro", em que na economia colocamos um partido (PS) que recusa re-nacionalizar coisas que noutros países nem sequer foram privatizadas (como CTT ou REN) mais radical à Esquerda, e colocamos a direita-a-que-recusamos-chamar-extrema-ou-fascista (Chega) mais ao centro. E como se não bastasse, logo à noite, um ou vários fachos do nosso blog irão debitar ainda mais alarvidades na TV, inclusive na RTP 1. Vê-se mesmo que o problema deste país é o Marxismo Cultural, a Cancel Culture, e o facto da Esquerda ter os média nas suas garras *
Podia ser para rir, se não fosse para chorar...
https://www.politicalcompass.org/germany2021
POdem também comparar com os anos eleitorais anteriores.
Enviar um comentário