quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

A lição antifascista


Corrijam-me se estiver errado: ao contrário do que acontece nas grandes manifestações de Abril em Maio, não costumo ver a nossa bandeira nas iniciativas dos “antifas”. 

Lembremos e atualizemos a lição antifascista: fascista é a única palavra que se deixa a este inimigo derrotável. Neste contexto, não se deve esquecer que a política popular passou também pela disputa ideológica das formas de fronteira nacional e de segurança a garantir. Sem algum grau de fronteira económica, sem controlo político democrático sobre os capitais e sobre os fluxos comerciais ao nível dos Estados, não há autoridade e responsabilidade políticas democráticas; nem forma de segurança defensável, a social, a que é garantida pela provisão pública universal de um conjunto de bens e serviços e pelo pleno emprego. 

A fronteira e a segurança defensáveis implicam o manejo deliberado de vários instrumentos de política económica. O drama é que estes foram anulados ou furtados pela integração europeia e pelas suas instituições nada democráticas, a começar pelo todo-poderoso Banco Central Europeu, mais próximas do capital no centro do que do mundo do trabalho na periferia. Sem a vontade nacional e popular a funcionar para democratizar a economia, e sem os instrumentos de política económica que lhe dão tradução material, o campo fica livre para a viciosa imaginação da extrema-direita num contexto de insegurança e de vulnerabilidade. 

Nos anos trinta, perante o ascenso dos fascismos, favorecidos pelas crises geradas pelo capitalismo liberal e pelo correspondente desemprego de massas, a estratégia antifascista passou precisamente por um trabalho político de reinvenção progressista da escala nacional. Como disse Georgi Dimitrov, um dos ideólogos da estratégia das frentes populares definida, em 1935, pela Terceira Internacional: “O internacionalismo proletário deve aclimatar-se, por assim dizer, a cada passo e deitar profundas raízes no solo natal. Ao revoltar-se contra toda a vassalagem e contra toda a opressão é o único defensor da liberdade nacional e da independência do povo”. 

A melhor tradução institucional do antifascismo foram as constituições em tantos países a seguir à Segunda Guerra Mundial, assentes nos valores do mundo do trabalho organizado, do pleno emprego e do Estado social, sem os quais não podia e não pode haver uma democracia avançada, expressão do desejo crescente de igualdade no campo socioeconómico. A nossa Constituição, a de 1976, produto de uma revolução democrática e nacional, foi tributária desse movimento quase trinta anos depois. Ainda hoje devemos muito a este espírito, das liberdades democráticas ao Serviço Nacional de Saúde. O nacional não está lá por acaso.

Hoje, nas circunstâncias históricas que são as nossas, não deixemos, para recomeçar, que os fascistas fiquem à frente nas próximas eleições legislativas dos que lhe fizeram, fazem e farão frente. Aqui está, creio, uma resolução para o primeiro mês do ano que agora começa.

De um ensaio no setenta e quatro sobre o fascista Ventura e as palavras que não são suas: Deus, Pátria, Família e Trabalho. 

Sim, o fascista tem estado mais manso nestas semanas de Janeiro, quase reduzido ao revelador número animalista da coelhinha e a umas habilidades para segmentos, inspiradas em Paulo Portas. Táticas de campanha.

1 comentário:

Anónimo disse...

E a comunicação social adora levar ao colo a escumalha fascista, a mesma escumalha que é contra a liberdade de imprensa. Mais ridículo que isso só mesmo zebras verem leões e, em vez de fugirem, irem ter com eles.