domingo, 23 de janeiro de 2022

Ansioso com o futuro da esquerda


O outro problema que pode ter levado ao cenário — que muita gente, incluindo eu, considerava delirante até há pouco tempo — de Rui Rio poder vir a ser primeiro-ministro, é a total arrogância de António Costa perante todos os outros partidos, queimando as pontes possíveis — e nem o mais colaborante e disponível Livre, com quem o PS se associou na Câmara de Lisboa, foi poupado à acusação de que queria (veja-se só!) trazer a energia nuclear para Portugal. Dinamitando todas as alianças possíveis, o que tem António Costa para oferecer além do cenário de maioria absoluta de simpatia duvidosa? Um “Governo à Guterres.” É engraçado como António Costa nem consegue disfarçar: “Se foi bom ou mau? Olhe, foi o que foi...” O problema é que este “foi o que foi” é a mais completa tradução de um Governo errático (...) 
Ao acenar ao povo com a maioria absoluta (trazendo inevitavelmente à memória José Sócrates e também as maiorias de Cavaco Silva) e com governar à Guterres (o “pântano”), António Costa, do alto da sua “egotrip” parece que está a fazer tudo para que Rui Rio acabe a ser primeiro-ministro e ele, Costa, vá sossegadinho para casa à espera de um cargo europeu. 

[Ana Sá Lopes, Público, 23 Janeiro 2022] 

 

É triste o caminho que a direcção do PS escolheu. Resta-me a frágil esperança de que, após estas eleições, as esquerdas vão dar início a uma profunda revisão das respectivas estratégias políticas.


Se um PS “contas certas”, bom aluno de Bruxelas, é a maquilhagem da estagnação com pinceladas sociais, um PSD no governo é a erosão ainda mais rápida do Estado social (saúde, educação, pensões, cultura, ...). É o regresso de um ainda melhor aluno de Bruxelas quanto à despesa pública e impostos. É o regresso dos que, por cegueira ideológica e cumplicidade com os interesses dos poderosos, ignoram a teoria económica comprovada pela experiência em qualquer parte do mundo: cortes na despesa aumentam o peso do défice e da dívida e criam desemprego; aumentos na despesa com investimento público e com boas políticas sociais, estimulam o investimento privado, criam emprego e reduzem o peso do dívida.

 

Vou votar, e voto na esquerda que está mais próxima do povo humilde, mais próxima dos de baixo.

4 comentários:

Carlos Antunes disse...

Oh, Jorge Bateria
A esquerda é burra?
Boaventura de Sousa Santos
https://www.publico.pt/2022/01/21/opiniao/opiniao/esquerda-burra-1992398

Anónimo disse...

Só a a convergência das esquerdas e de movimentos sociais poderiam apresentar uma Alternativa que fosse mobilizadora e isso caminho deve começar já (31).

Anónimo disse...

As Esquerdas devem começar já a preparar entendimentos para uma Plataforma de Esquerda ,que promova fóruns regionais com as populações e se apresente em futuras eleições junta,esse é o caminho que a esquerda deve encontrar.

Francisco disse...

Tenho, modesta mas convictamente, dito e redito, que o problema nuclear para uma efectiva convergência das esquerdas começa pela pergunta fundacional: quem é a esquerda em Portugal? É que não bastam declarações formais ou princípios genéricos, quando uns e outros não têm qualquer ancoragem em política concretas, em filosofias concretas, em programas concretos e em rupturas concretas com uma certa tradição da "necessária convergência ao centro", como garantia da paz perpétua. Se houve coisa que a experiência política iniciada em 2015 veio trazer a lume, é que só depois dos ritos de purificação poderemos todos entrar para a irmandade. É que isto de sermos Deus ou o Diabo, em função da hora do dia ou do ângulo dos holofotes, não é coisa que algum parceiro decente consiga ou deva aguentar, sob pena de emergirem todas as tragédias que se agarram como lapas ao célebre "eles são todos iguais".