quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

Os dezassete escolhidos

Luís Montenegro, qual construtor de mamarrachos políticos de Espinho, veio anunciar que tem consigo os melhores 17 economistas para colaborar na derrota da PaF (vulgo AD, graças ao PPM). Quem são? Escolho por agora 8, representativos do autêntico cortejo fúnebre da economia portuguesa.

1. Havia tanto para dizer sobre Maria Luís Albuquerque, mas não temos tempo, como diria Cândido Mota em A Roda da Sorte. Sucessora de Vítor Gaspar, esta liberal com iniciativa transitou depois para uma empresa internacional de cobrança de créditos duvidosos de Manchester: muita literacia financeira, muito pouca cultura económica. Uma palavra em inglês e um acrónimo bem português: Swap e BES.


2. Conhecido coautor de um estudo, digamos assim, para a Associação Portuguesa de Seguros, onde defendeu a privatização da segurança social, Fernando Alexandre advoga há décadas o atrofiamento do sistema público de pensões. Governante no tempo de Passos, mas na Administração Interna, menos Estado social, mais Estado penal, lá está, tem estado consistentemente errado nas últimas décadas por convicção e interesse, certamente. 


3. Segue-se Manuela Ferreira Leite, uma respeitável glória do cavaquismo: quem não se lembra da sua devoção à educação, com uns safanões a tempo? Desde aí, não há festa nem festança a que não vá esta Dona Constança austeritária. Suspenda-se a democracia, porque isto não lhes vai correr bem.


4. Começou como Secretário de Estado num Governo de Guterres social-liberal e acaba como apoiante indefectível de Passos e de Montenegro. Pelo meio, acumulou mais cargos em conselhos de administração de empresas do que qualquer outra pessoa que conheço, um estudo de caso da tal verdadeira rede social de classe. Falo obviamente de António Nogueira Leite, um economista da mão invisível, título da série coletiva de crónicas no defunto Semanário, na década de oitenta, muito relevantes para a história lusa do neoliberalismo, que não é um slogan. A última crónica foi dele e foi sobre a liberalização das rendas, em 1989, com os lindos resultados que se conhecem.

5.  Outra velha glória do cavaquismo, este antigo assessor de Cavaco anda há muito desaparecido. Julgo que foi por causa da desilusão com a solução governativa à esquerda. Felizmente, está de regresso para mais prescrições e previsões. De facto, o abominável João César das Neves escreveu um livro, em 2016, garantindo que Portugal estava à beira de entrar em derrocada financeira por causa de coisas. 


6. Chicago Boy, dado que se doutorou por Chicago, Moreira Rato sempre preferiu dedicar-se a aventuras financeiras. De facto, do BES ao Banco CTT, é todo um percurso a dar livre curso ao que Veblen chamava de instinto predador, promovido por uma cultura institucional pecuniária. Gosto da palavra mamonismo.

7. E que dizer mais de Joaquim Miranda Sarmento que já não tenha sido dito neste blogue? Um sobrevivente de Rio, que Montenegro não purgou. Acha, e é mesmo achismo, que a atualização do salário mínimo em níveis decentes é uma maçada e que tudo correrá bem, pelo melhor dos mundos, se acreditarmos muito que os salários convergem espontaneamente com a produtividade. 



8. E por falar em lógica antilaboral, fechamos com chave de ouro, com um professor da LSE, My God, de seu nome Ricardo Reis, igualmente velho conhecido dos leitores deste blogue. Garantiu na televisão que a produtividade e os salários estão sempre alinhados. Só que não. Tudo isto é triste, tudo isto é mesmo antilaboral.
 
E os restantes economistas? Tudo como dantes no quartel general de Abrantes, ou seja, velhas glórias do cavaquismo, quando começou esta desgraçada economia política, mais figuras do Triângulo das Bermudas da democracia económica, ou seja, do Banco que não é de Portugal, da Católica, que não é de Santiago do Chile, mas que podia ser, e da Nova School, tudo com muitos parceiros corporate. Não há mesmo almoços grátis nesta luta ideológica.  
 
Adenda. Este texto começou com uma série de notas no Twitter, seguindo e comentando o trabalho de escrutínio de Otília Gradim, a quem agradeço as ideias e as fotos: Quem são os 17 economistas que Montenegro vai ouvir para preparar o programa eleitoral? 

3 comentários:

Lowlander disse...

O Ricardo Reis... lembra-me qualquer coisa esse nome... não foi ele aquele sensato economista que previu em Setembro de 2008 que a crise financeira ia durar, vá lá, um mesito?

O Fernando Alexandre... nao e aquele sensato economista que nos idos tempos do Passolas apoiava entusiasticamente o corte de feriados com base numa teoria espectacular sobre "solavancos"?

http://destrezadasduvidas.blogspot.com/2011/11/o-trabalho-em-portugal-uma-interrupcao.html

Continuo a espera pelo prodigioso "paper" cientifico que demonstrara os efeitos portentosos que esta medida teve na economia portuguesa.

Lowlander disse...

Este texto e excelente, caro Joao Rodrigues.
Aconselho vivamente gravar e proporcionar acesso em lugar facilmente acessivel para consulta assidua.
Aguardo com antecipacao mais actualizacoes focando-se nos restantes 9.

Lowlander disse...

As minhas desculpas pela serie de comentarios.
O meu ultimo comentario lembrou-me da curiosidade de 17 coincidir com o numero de aneis que no Senhor dos Aneis do Tolkien estavam sob controlo directo de Sauron, nominalmente "livres" mas fortemente influenciados por Sauron, ou perdidos/destruidos

(...)
Sete para os Senhores dos Anoes, nos seus saloes de pedra
Nove os Homens Mortais, condenados a morrer
Um Anel para o Senhor das Trevas, no seu trono tenebroso
(...)

Podiamos abrir um concurso ou galhofa para averiguar quem e quem nesta lista dos 17: quem sao os Anoes, os Homens Mortais e quem e detentor do Um Anel que controla os outros todos e na escuridao os prende.

Teehee!