quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

Coimbra é uma lição


A notícia tem três dias, mas bem podia ter três décadas ou até um pouco mais, tratando-se de Coimbra. Analisando os ganhos brutos resultantes da colocação no mercado de arrendamento de imóveis comprados para o efeito, o Notícias de Coimbra conclui, citando dados do idealista, que a rentabilidade associada foi de 7,3% em 2023, valor que compara o de 6,3% registado em 2022 e 5,5% em 2021. No caso de Coimbra, o valor ronda os 7,0%, que a posicionam logo a seguir a Santarém, a capital de distrito onde o retorno é hoje mais elevado (7,5%).

A aquisição de casas para arrendamento, ou para simples especulação (através da sua revenda sucessiva), constitui um dos traços distintivos das atuais dinâmicas do mercado de habitação, revelando a importância crescente de lógicas especulativas que encaram a habitação como um ativo financeiro interessante, contribuindo para a crise que se instalou, aqui e na generalidade dos países europeus (e não só). Lógicas essas que, além disso, e a par do turismo, se internacionalizaram, gerando novos segmentos de procura (neste caso externa) que alteraram o modo como, convencionalmente, se equaciona a relação entre oferta e procura à escala nacional (a ponto de se achar que o problema se resume à simples «falta de casas»).

Voltando a Coimbra e aos anos noventa, a circunstância de se tratar de uma cidade universitária com um peso relativo de alunos matriculados, face à população residente, a rondar os 14% em 1990 (o mais elevado de todas as capitais de distrito), e com uma economia local em ampla medida ancorada na universidade, constituía, já nesse tempo, um fator explicativo dos elevados preços da habitação, dada a procura de alojamento por estudantes, tornando atrativo o investimento em imóveis. Neste caso, o adicional de «procura externa» corresponde à procura pelos estudantes deslocados, que representava um segmento particularmente significativo do total, e que acabava por condicionar, com a subida do valor das rendas (que 3 ou 4 estudantes juntos conseguiam pagar) o acesso à habitação por parte das famílias residentes, sobretudo das mais jovens.

Com todas as diferenças a considerar, de tempo e de espaço, a Coimbra dos anos noventa pode assim ser vista como uma espécie de maquete da atual crise habitacional, ilustrando o impacto que as procuras externas, naturalmente de natureza distinta, geram nos sistemas de habitação.

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