sábado, 27 de janeiro de 2024

Os vende-pátrias


Os vende-pátrias da extremada direita lusa, os tais economistas do cortejo fúnebre da economia portuguesa, agora com a fugaz aparição pública de Álvaro Santos Pereira - talvez o mais incapaz e lesivo ministro da economia do pós 25 de Abril - tentam recuperar a enganosa tese de Wolfgang Schäuble, uma tese falida e usada contra o interesse nacional, segundo a qual a intervenção externa que o país sofreu, em 2011, foi o resultado da incapacidade de o Estado se financiar - a mentira da bancarrota - em consequência de taxas de juro incomportáveis então exigidas pelos mercados, taxas essas que pretensamente seriam função do alto nível de endividamento público do país.

A dívida pública, no fim de 2011, rondava os 114% do PIB; em janeiro de 2012, os juros das obrigações do tesouro de Portugal a 10 anos atingiram os 16,4%. Foi no que deu a golpista inação do BCE.


A dívida pública, no fim de 2020, cifrou-se em 135,1% do PIB; em janeiro de 2021 ano o Jornal de Negócios noticiava que “Portugal coloca dívida a 10 anos com juros negativos pela primeira vez”.

Lição inequívoca: o banco central controla sempre as taxas de juro da dívida denominada na moeda por si emitida.

Desculpem se nos repetimos, mas o mantra enganoso e sedicioso da bancarrota não pode ser reabilitado. A economia das idade das trevas tem de ser combatida, que o país não a comporta. É o nosso futuro coletivo que está em causa.

3 comentários:

Anónimo disse...

Claro que é o banco central europeu que decide das suas taxas de juro - para a zona euro. Não país a país.

Só que a questão era outra, a capacidade de financiamento nos mercados e o facto de a dívida pública estar maioritariamente nas mãos de credores externos.

É óbvio que a vinda da troika teve um custo pesadíssimo e melhor fora não ter vindo. Mas com as políticas do engenheiro Sócrates se não era com o PEC IV era com o PEC V ou o PEC VI.

E também não vale a pena falar no escudo. Se tivesse continuado a ser a nossa moeda não nos tínhamos endividado tanto.

O ponto, o pontinho mesmo para que ninguém tem resposta é simples: como é que um pequeno país, pobre, periférico, de má vida, cresce na zona euro? Escusam de me dizer que no ano X crescemos mais 0,2% que os outros. Falo de crescimento sustentado. Como é que deixamos de ser a cauda da Europa como prometiam depois do 25 de abril? Diria que de maneira nenhuma. Sem indústria, com más universidades, viciados na economia de rendas e no nepotismo, na ponta da Europa, sem império, seremos o que sempre fomos, uma espécie de Espanha mais pequena e para pior.

Olhe, um café pingado e um pastel de nata. O robot que não demore.

Lowlander disse...

"Só que a questão era outra, a capacidade de financiamento nos mercados e o facto de a dívida pública estar maioritariamente nas mãos de credores externos."

1 - E a divida publica que financia os credores e nao os credores que financiam a divida publica.

"E também não vale a pena falar no escudo. Se tivesse continuado a ser a nossa moeda não nos tínhamos endividado tanto."

2 - Com uma moeda propria portuguesa, emitida por um Banco Central portugues - chamemos-lhe Escudo - os limites para o endividamento publico nunca sao financeiros.
3 - Com uma moeda propria portuguesa, emitida por um Banco Central Portugues - chamemos-lhe Escudo - os unicos limites ao endividamento publico de um espaco economico que emita sua propria moeda consistem na capacidade produtiva realmente existente nessa economia para absorver a procura. Esse limite traduzir-se-ia numa aceleracao da taxa de inflacao.
4 - Ou, como John Maynard Keynes colocou de forma bem mais elegante:
"Tudo aquilo que se pode fazer, pode ser pago."

Lowlander disse...

"O ponto, o pontinho mesmo para que ninguém tem resposta é simples: como é que um pequeno país, pobre, periférico, de má vida, cresce na zona euro?"

O anonimo precisa de alargar um pouco as suas leituras...
Tem sido repetido inumeras vezes neste blogue em que comenta - sem saber do que fala - precisamente "o ponto, o pontinho" que dentro da Zona Monetaria Euro, especialmente com a sua actual arquitectura institucional, Portugal nao pode adquirir caracteristicas de uma economia mais avancada.