Traverso argumenta que a melancolia de esquerda pode ser necessária para resgatar uma certa memória letalmente ameaçada do socialismo, embora se foque mais na rememoração da sua dimensão utópica do que nas suas concretizações e efeitos reais. Sem esquecer os tão enfatizados e tantas vezes descontextualizados crimes, cometidos em nome do socialismo, é preciso não obliterar os seus hoje menos enfatizados feitos e efeitos internacionais. Como Traverso de resto reconhece, os “fantasmas que perseguem a Europa hoje em dia não são os das revoluções do futuro, mas os das derrotadas revoluções do passado”.
Na sua análise, navegando entre memória e história, Traverso omite a tradição social-democrata ocidental, igualmente atravessada por um olhar melancólico sobre o passado perdido, em particular sobre os “trinta gloriosos anos” das chamadas economias mistas ocidentais, num contexto histórico marcado pela Guerra Fria. Aqui, podemos dizer que os fantasmas que perseguem a Europa, mas também os Estados Unidos da América (EUA), não são os das reformas do futuro, mas os das derrotadas ou ameaçadas reformas do passado, isto se a palavra reforma não tivesse sido capturada pelo neoliberalismo há várias décadas. A ponte entre as tradições marxista e social-democrata pode ser feita pela obra de Eric Hobsbawm. [referências omitidas]
O resto do artigo pode ser lido na Revista Estudos do Século XX, desenvolvendo alguns dos argumentos já esboçados em O neoliberalismo não é um slogan. É uma espécie de síntese do que tenho aprendido com alguns historiadores mortos e vivos, sobretudo depois de ter tido a felicidade de integrar, vai para uma dúzia de anos, o núcleo de história de uma faculdade de economia e de outras três ciências sociais, gestão, relações internacionais e sociologia. Têm-me dado liberdade para ser indisciplinado no ensino e na investigação.
2 comentários:
Olá João,
Obrigado pelo artigo. Seria interessante um outro, ou uma reflexão mais curta aqui no blog, sobre se a China poderá, num futuro breve, ter um papel nesta quebra da melancolia à esquerda ou não.
Abraço
Obrigado pela sugestão. Vou pensar no assunto.
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