sexta-feira, 10 de maio de 2013

O sucesso de Gaspar e dos seus amigos

A desregulamentação das relações laborais e a queda dos salários estão a fazer muito pela criação de emprego, já se vê: a taxa de desemprego atinge um novo máximo histórico, com mais 29 mil desempregados e menos de 100 mil empregados só num trimestre; cerca de 300 mil novos desempregados e quase meio milhão de postos de trabalho destruídos, ou seja, também cada vez mais inactivos e emigrantes, desde que as políticas da troika estão em vigor. Calma, entre Frankfurt, Bruxelas e a Almirante Reis, no Banco que não é de Portugal, economistas bem alimentados e com toda a segurança afiançam que isto só pode ser devido à incipiência do processo de desvalorização laboral e salarial em curso. 

Na lógica do trabalho que é como se fosse uma batata de Carlos Costa, o desemprego deve significar apenas que os trabalhadores não querem trabalhar pelo salário que “o mercado” está disposto a pagar, o que signfica que se há trabalhadores que querem trabalhar e não conseguem só pode ser porque os salários são demasiado elevados devido a uma coisa a que chamam rigidez e a maioria chama direitos dos trabalhadores, que resistem a ser tratados como uma batata. Pode ser necessário muito treino para chegar a estas conclusões, para subestimar as questões da procura e para desconsiderar as virtudes socioeconómicas dos tais direitos. 

Onde nem sequer há muito treino, como é o caso de Costa, o mais repugnante preconceito de classe, de quem partilha as esferas dos banqueiros e outros que tais, deve ser uma via ainda mais eficaz para chegar às mesmas conclusões: vejam também Nuno Amado, que, do alto do seu banco nacionalizado sem o ser, propõe que as empresas "em dificuldades" tenham cada vez mais facilidade em reduzir "custos laborais". O Estado facilitaria a falácia da composição, a irracionalidade da crise, quando só um Estado soberano a pode travar: aquilo que pode parecer racional para uma empresa individualmente considerada gera um resultado colectivo irracional, devido à quebra da procura. As despesas de investimento, claro, resentem-se sobretudo por causa das expectativas negativas sobre as vendas. A procura agregada colapsa por múltiplas vias, incluindo porque as empresas compram cada vez menos umas às outras. 

Entretanto, o governo anunciou que vai continuar a tomar todas as medidas necessárias: despedir dezenas de milhares de trabalhadores do sector público será mais uma. Lembrem-se disto: aumentar o desemprego é o objectivo inconfessado da política de austeridade, porque é a melhor forma de destruir o Estado social e tudo o que há de civilizado, toda a acção colectiva dos trabalhadores, na economia. 

2 comentários:

Anónimo disse...

http://www.globalresearch.ca/psychopathy-politics-and-the-new-world-order/5334458 Psicopatas

Alvaro disse...

Mister Gaspar é perito em disparates. Agora parece que prefaciou a edição portuguesa do livro "Desta vez é diferente. Oito séculos de loucura financeira".
Adquiri há tempos na Amazon a edição original deste livro.
Da sua leitura tirei várias conclusões que creio que nem passam pela cabeça do nosso Gasparzinho.
a) Nos tais oitocentos anos a maior parte da humanidade deixou de morrer de fome. Actualmente, excepto nalguns países mal governados, há de comer para todos. A esperança de vida passou de uns 30 anos (no máximo) para setenta e tal.
Isto é, a humanidade nunca foi tão próspera e saudável como actualmente.
Se isto foi conseguido à custa da tal "loucura financeira" temos de concluir que a "loucura financeira" é boa.
b) Portugal até é um país relativamente bem administrado pois, em 800 anos de História faliu se a memória não me falha, sete vezes, seis delas no Século XIX, o Século a que se seguiu à destruição do país pelo terramoto de Lisboa, às invasões francesas, à independência do Brasil e às guerras liberais. A Alemanha, França e Espanha, por exemplo, faliram mais vezes do que Portugal.