sexta-feira, 24 de maio de 2013

Choques


Os maus hábitos acabam quando se enfrentam os choques, diz Moedas, ilustrando uma vez mais aquilo a que Naomi Klein chamou a doutrina do choque, associando-a a um modelo de capitalismo de desastre que de outra forma teria dificuldade em ser instituído. É claro que Moedas, representante do capital financeiro em comissão de serviço no governo, atentem só no seu percurso, sabe que a sua única virtude é ser neoliberal e que isso vale tudo, incluindo inventar, por exemplo, quando diz que Portugal está onde está porque conheceu o que designa por bolha de despesa: as despesas de consumo cresceram 1,2% ao ano, entre 2000 e 2010, tendo entretanto caído mais de 8%, e as despesas de investimento caíram cerca de 2% ao ano entre 2000 e 2010. Uma maluqueira. A procura interna esteve praticamente estagnada neste período e isso viu-se na medíocre performance económica, ao contrário do que gosta de dizer Gaspar. A verdade é que a crise internacional e a austeridade foram mais um choque, o enésimo na economia portuguesa: do euro, à convergência nominal que precedeu a adopção desta moeda que nunca nos serviu, passando pela liberalização financeira ou pela abertura mal gerida às forças do mercado global. Estes choques sucessivos reforçaram uma elite financeirizada e extroverida: de facto, numa bolha, que tem de ser furada, até porque alimenta todos os maus hábitos, vive gente como Moedas.

Entretanto, Gaspar, revigorado depois de uma visita a casa, anunciou que chegou a hora do investimento, quando as previsões, optimistas, são que este caia 7% este ano, depois de uma quebra de mais de 25% nos dois anos anteriores. A ideia é dar uns créditos fiscais durante meio ano, quando o problema, claro, é a compressão da procura, como o Alexandre assinalou no seu último poste. Uma medida que só beneficia os poucos que, de qualquer forma, já iriam investir, como de resto assinalam vários capitalistas ao Negócios. Na realidade, este choque destina-se a naturalizar a redução futura da tributação que incide sobre o capital, reforçando uma regressão com muitos anos e que continua a beneficiar da concorrência fiscal, um jogo de soma negativa como há poucos, instituído fortemente à escala da UE. Este jogo durará o tempo que durar a liberdade irrestrita de circulação de capitais.

2 comentários:

antónio m p disse...

A ideia de jogo - que não é apenas metáfora - fez-me lembrar as histórias dos jogadores que no turbilhão de sucessivas derrotas continuam a desbaratar o dinheiro que resta, e a endividar-se, na esperança de que a sorte mude...

Os suicídios que resultam daqui são muitos, mas o mais grave, no caso em questão, é o país a morrer por causa de jogadores obsessivos.

Anónimo disse...

Afirmações como as do Carlos Moedas são indicadoras do tipo de gente que os portugueses( eu não votei neles, mesmo) puseram no governo. São pessoas sem escrupulos e sem principios que se vendem a quem mais lhes der.
Além disso são servis e graxistas( com perdão dos verdadeiros engraxadores).
Com gente desta este país não vai a lado nenhum a não ser para a miséria.