quinta-feira, 1 de setembro de 2022

É feio exigir desculpas a outros sem as exigirmos antes aos nossos


Num tweet (aqui), Porfírio Silva, deputado e membro do Secretariado nacional do PS, exigiu um pedido desculpas de Miguel Pinto Luz, Vice-Presidente do PSD, por ester ter responsabilizado Marta Temido pela morte de uma grávida enquanto esta era transferida para outro hospital. Como Porfírio nota, tudo aponta para que os procedimentos seguidos foram os corretos, pelo esta declaração configura um aproveitamento político de particular gravidade, dada a natureza sensível do acontecimento em que se baseia.

Mas dizem as regras elementares de decência que, perante igual ação, é feio exigir desculpas a outros sem antes as exigirmos aos nossos. Seria, pois, conveniente que Porfírio Silva não esquecesse que também António Costa disse, quando justificou a aceitação da demissão, que "[percebia] que [Marta Temido] estabeleça como linha vermelha a existência de falecimentos num processo que decorre em serviços sob a sua tutela" (aqui).

António Costa insinuou de forma bastante clara que aceitava a responsabilização pessoal da ministra por esse incidente, mesmo quando tudo já apontava em sentido contrário.

Pinto Luz e o PSD fizeram uma acusação infundada e soez, que merece um pedido de desculpas. Porém, a gravidade política desta declaração de António Costa, por se tratar de uma sua ministra e camarada (afinal, até lhe ofereceu o cartão com pompa, numa das mais bizarras encenações dos congressos do PS), é muito maior. Revela frieza política no lugar da solidariedade.

A faca corta de forma igual. Mas a dor é mais dilacerante quando é empunhada por alguém do mesmo lado da trincheira.

1 comentário:

Anónimo disse...

António Costa diz o qualquer coisa, diz o que for for necessário dependendo da circunstância, é mesmo um espécime do nosso tempo...