segunda-feira, 26 de setembro de 2022

A UE contra a democracia


A Itália confirma o que tenho vindo a dizer: é o calcanhar de Aquiles da UE. Ainda assim, não creio que esteja para breve uma crise fatal para a UE. As diferenças e rivalidades no seio da coligação de direita que ontem ganhou as eleições podem, com o tempo, produzir uma ruptura e obrigar a novas eleições. É a Itália.

Porém, uma coisa é certa. O salto qualitativo de CEE para UEM com moeda única, reforço do controlo dos défices orçamentais de orientação pró-cíclica (em recessão, corta-se na despesa), liberalização do mercado de trabalho, exigência de privatizações e "reformas estruturais" de natureza neoliberal; tudo isso conduziu a um aumento da desigualdade no conjunto da UE, ao declínio do produto por habitante e à divergência dos países do Sul. No caso da Itália, um país que cumpriu exemplarmente as exigências de Bruxelas, a desindustrialização foi grave e as consequências sociais desastrosas. As vagas de imigração fizeram o resto.

Esta evolução negativa vai continuar, ou mesmo agravar-se, na sequência da crise político-militar, económica, financeira, social e ambiental que estamos a viver. Na falta de uma alternativa de esquerda para estas políticas - e ela não é possível no quadro dos Tratados - o descontentamento popular que se traduz em xenofobia e discurso de ódio será capitalizado pela extrema-direita. De nada adianta fazer apelos emocionados para que os partidos neo-fascistas não sejam "normalizados". A manutenção das políticas instituídas na UE farão o seu trabalho de sapa das democracias.

Uma frente política de esquerda que esteja preparada para organizar a retoma da economia no pós-euro, se e quando este implodir, seria um primeiro passo para podermos alimentar a esperança em melhores dias. Por agora, o horizonte é sombrio.

Sobre a Itália, seguir no Twitter o economista Philipp Heimberger a quem roubei o gráfico sobre a evolução das diferenças no PIB/hab da Itália relativamente à Zona Euro, à França e à Alemanha.

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