quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Desistir

Ontem, no Dia Internacional dos Migrantes, o secretário de Estado Feliciano Barreiras Duarte disse que «Portugal precisa de imigrantes» pois, «infelizmente, somos neste momento o segundo país do mundo com menores taxas de natalidade e portanto isto deve-nos levar a olhar cada vez mais para a imigração como uma área prioritária ao nível das políticas públicas».

Há um ano atrás, curiosamente, Passos Coelho aconselhava os professores a «abandonarem a sua zona de conforto e a procurarem emprego noutro sítio» e Miguel Relvas incentivava os jovens desempregados a «terem uma visão cosmopolita do mundo», sugerindo que a decisão de desistir do país podia ser algo «extremamente positivo». Para Relvas, «a nossa economia e a situação em que estamos não permite a esses activos fantásticos terem em Portugal hoje solução para a sua vida activa» (sic).

O que significam estas declarações no seu conjunto? Como conciliá-las? Estará em curso um obscuro processo de reciclagem, tendente a substituir mão-de-obra qualificada por outra mais barata, de modo a melhor sustentar a estratégia míope de competitividade assente em baixos salários? Ou será que as declarações de Barreiras Duarte são apenas converseta de dia de efeméride, para tentar dissimular uma nova lei, hostil às comunidades imigrantes que (ainda) residem entre nós?

Terá o governo consciência de que a destruição da economia e o empobrecimento em que tanto se empenha a todos empurra para fora, invertendo o saldo migratório positivo alcançado na última década e meia? E que é preciso recuar até aos anos sessenta para encontrar uma vaga de emigração semelhante à que se está a instalar?(*) Ou que as gerações mais antigas de emigrantes estão a solicitar a nacionalidade nos países de destino, não pretendendo já regressar? Ou que os jovens, esses relapsos, teimam em não ter filhos apesar do futuro radioso que Gaspar e o seu executivo têm estado a preparar para Portugal? E terá o governo consciência de que tudo isto são, apenas, diferentes formas de desistir de um país?

(*) O gráfico (clicar para ampliar) mostra que entrámos, nos últimos três anos (incluindo já 2012, apesar de não haver ainda dados definitivos), numa fase inédita em termos de saldos demográficos. Pela primeira vez na nossa história recente, mais precisamente nos últimos cinquenta anos, assiste-se à combinação de saldos naturais e migratórios negativos. Isto é, a valores de natalidade inferiores aos da mortalidade e a contingentes de emigração que superam os da imigração. A austeridade provocou uma ruptura clara com o paradigma anterior (1993 a 2009), em que o crescimento demográfico verificado resultou da convergência positiva entre crescimento natural (14%) e imigração (86%).

3 comentários:

pvnam disse...

- A bandalheira liquida tudo e mais alguma coisa – ‘n’ civilizações já desapareceram!…
- Há que 'cortar' com os bandalhos que vendem tudo e mais alguma coisa: energia aos chineses, cimentos aos brasileiros, comunicação social aos angolanos, etc...
- Há que 'cortar' com os bandalhos que não se preocupam em construir uma sociedade sustentável (média de 2.1 filhos por mulher)... que criticam a repressão dos Direitos das mulheres… e em simultâneo, para cúmulo (!!!),… defendem que se deve aproveitar a 'boa produção' demográfica proveniente de determinados países [aonde essa 'boa produção' foi proporcionada precisamente pela repressão dos Direitos das mulheres]… para resolver o deficit demográfico na Europa(!);
- etc
.
-> A NAÇÃO está a ser desmantelada... e já há quem esteja a posicionar-se: José Luciano Correia de Oliveira número dois do SIS foi contratado pelas autoridades chinesas - o protectorado é estratégico para os chineses... Angola fará o mesmo...
{OBS: Uma Nação é uma comunidade de indivíduos de uma mesma matriz racial que partilham laços de sangue, com um património etno-cultural comum... uma Pátria é a realização e autodeterminação de uma Nação num determinado espaço.}
.
-> Quem só vê um palmo à frente do nariz... anda por aí, de década em década, numa alegre decadência 'kosovariana'.
--->>> Não vamos ser uns 'parvinhos-à-Sérvia'... antes que seja tarde demais, há que mobilizar aquela minoria de europeus que possui disponibilidade emocional (e coragem) para se envolver num projecto de luta pela sobrevivência... e SEPARATISMO-50-50!...
.
.
Anexo:
Nazismo não é o ser 'alto e louro'... mas sim a busca de pretextos (adoram evocar/inventar pretextos) com o objectivo de negar o Direito à Sobrevivência de outros!...
Os nazis-económicos ["vale tudo no sentido de promover o crescimento económico"] não ficam nada atrás dos nazis-hitlerianos: muitos povos autóctones, considerados economicamente pouco rentáveis, foram já completamente exterminados: veja-se, por exemplo, aquilo que foi feito aos povos nómadas americanos que acompanhavam as migrações dos bisontes.
{uma curiosidade: existe pessoal que pretende transformar num assunto TABU o extermínio de Identidades Autóctones - em França não são permitidas as estatísticas de conteúdo étnico}
A superclasse (alta finança internacional - capital global, e suas corporações), com os seus mercenários/marionetas, pretende conduzir os países à IMPLOSÃO da sua Identidade (dividir/dissolver identidades para reinar)...
.

Anónimo disse...

Feliciano Duarte não pensou no porquê da natalidade ser baixa. Se o tivesse feito concluiria que não conseguimos atrair imigrantes porque não h´´a trabalho.

E não sei o porquê da fixação na natalidade que as pessoas têm. Portugal não tem k ter sempre 10milhoes de habitantes. Se a população reduzir no futuro a qualidade de vida das pessoas e a saude do planeta agradece.

Anónimo disse...

Para a elite neoliberal que nos governa, no governo e fora dele, só interessa o dinheiro; sexo ou procriação, nada disso. É uma heresia. Os Homens nascem só para os negócios e a guerra. Assim como esta crise imposta, não vamos bem. Parece muito semelhante à crise que os cristão impuseram no fins do império romano. A humanidade deveria privar-se da sua sexualidade e descendência para atingir um lugar maior. Naquele tempo tínhamos o céu, hoje é o mercado.