«Há muitos anos, num fim de tarde numa biblioteca, pedi um livro chamado As Paixões e os Interesses, de um economista que dava pelo nome de Albert O. Hirschman. (...) Li as primeiras páginas e fiquei agarrado. Como era possível que um economista, que pouco trabalho documental tinha feito, conseguisse ter ideias tão claras - e tão boas - em temas nos quais eu tinha lido dezenas de historiadores de que pouco se conseguia guardar? (...) Mas há poucos anos descobri mais sobre Albert O. Hirschman. E só então entendi que ele não foi apenas um grande intelectual, mas também um discreto herói da humanidade e um homem justo.
Albert nasceu em 1915, em Berlim, numa família judaica. Fugiu da Alemanha quando Hitler chegou ao poder, em 1933, e veio para Itália onde fez o seu doutoramento, em 1937. Mas ele não era só um homem de ideias, mas também de acção, e foi logo a seguir para Espanha, onde combateu na Guerra Civil contra o fascismo. Após a derrota, passou para França, onde viveu durante a II Guerra Mundial. Aí conheceu em Marselha um aventureiro, o jornalista americano Varian Fry, e com ele trabalhou no International Rescue Committee, que salvava refugiados do nazismo, principalmente judeus, enviando-os para Lisboa. Juntos salvaram alguns dos maiores artistas e intelectuais da época: Hannah Arendt, Max Ernst, André Breton, Alma Mahler, além da família de Thomas Mann, e muitos outros.
Albert O. Hirschman morreu ontem, com 97 anos. Vou decretar cá para mim que o Nobel da União Europeia foi para ele (Coimbra, mais sábia, deu-lhe o honoris causa em 25 de Abril de 1993). Talvez, se lidas com atenção, as suas ideias nos salvem uma vez mais».
Do justíssimo texto de homenagem do Rui Tavares a Albert Hirschman (no Público de 12 de Dezembro), a que o João Rodrigues já tinha feito referência e que pode ser lido na íntegra aqui. Há economistas que não se encasulam e se comprometem com o seu tempo e a realidade em que vivem.
Hoje, em Estrasburgo, Rui Tavares reiterou a homenagem a Hirschman, dedicando-lhe a votação do relatório de que foi co-autor, «Estratégia da UE em matéria de Direitos Humanos» (vídeo aqui). No âmbito deste relatório foi aprovada uma emenda que solicita, à Comissão, a divulgação da lista negra de empresas europeias que tenham negócios com regimes autoritários e que sejam cúmplices directos de violação de direitos humanos.
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1 comentário:
um dos pensamentos mais esclarecidos de toda a humanidade. Tive a mesma sensaçao que teve quando li "perversidade, futilidade e risco...". Que texto tão denso! que ideias tão claras! bela homenagem a este Homem. obr
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