António Simões Lopes, «Desenvolvimento Regional»
Escolhi uma passagem daquela que é porventura a obra mais marcante de António Simões Lopes, pela influência que exerceu em diferentes gerações de economistas, geógrafos e agentes do planeamento (entre outros), e que ilustra bem a visão - frutuosa e aberta - de um economista que renuncia à tentação de enclausurar a disciplina nas fronteiras estreitas que o pensamento dominante lhe procura impor. Nem o espaço é uma folha em branco inanimada, que os agentes económicos simplesmente ocupam, nem a economia se reduz à mera expressão das decisões pecuniariamente racionais desses agentes, transponíveis para uma míope folha de excel.
Ao «desmarginalizar» a questão espacial na análise económica, Simões Lopes sublinha - como deve ser bem sublinhada - a complexidade inerente aos processos económicos, que são por isso, também e intrinsecamente, sociais e políticos, dotados de singularidades, cumulatividades e intencionalidades. E, ao fazê-lo, contribui não só para afastar o pensamento económico dos mundos abstractos em que tantas vezes se move e perigosamente enrodilha, como o obriga, necessariamente, a dialogar com outros domínios científicos. Em nome de uma Economia ao serviço das pessoas e do desenvolvimento.
Professor catedrático do ISEG e ex-reitor da Universidade Técnica de Lisboa, Simões Lopes foi ainda presidente do CRUP e primeiro bastonário da Ordem dos Economistas. Foi agraciado com o Doutoramento Honoris Causa pelas universidades de Kent, Federal do Maranhão, Algarve e Coimbra, onde esteve no passado dia 2 de Dezembro, por ocasião da celebração do 40º Aniversário da FEUC. Morreu na passada terça-feira e deixa-nos um legado precioso, que contém sinais e lições da maior relevância para sabermos enfrentar os tempos que correm.
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