quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Economia da depressão?

Vale a pena ler o artigo de Ana Matos Pires sobre saúde mental e sobre os meios ou sobre a falta deles em plena austeridade assimétrica. Enfim, ainda há quem, como Pacheco Pereira no Público, consiga escrever que “os ricos terão depressões e os pobres desespero” (cito de memória). O que é que isto quererá dizer? Que as depressões são uma espécie de bem de luxo? O “desespero” não será depressivo? Realmente, o que afirma Pereira pouco interessa.

Portugal é o maior consumidor de antidepressivos da União. Será que, como parece indicar alguma investigação internacional sobre os determinantes sociais da saúde, isto pode ter alguma relação com o impacto da crise socioeconómica permanente num país tão abismalmente desigual, num país com tão cavadas divisões de classe, num país com estruturas tão propensas à geração de sofrimento social, por exemplo, na esfera laboral, que se crava nos corpos e nas mentes dos indivíduos e se calhar até mais nos que ocupam posições subalternas? Um sistema que gera sofrimento no trabalho, um país com horários intermináveis e más condições de trabalho para muitos, relações laborais autoritárias e muita insegurança laboral; fora do trabalho nem se fala: o desemprego corrói a auto-estima.

Estes custos sociais do capitalismo medíocre estão estudados? Há alguma tradição de investigação que se debruce sobre o contributo da estrutura socioeconómica para os problemas de saúde mental em Portugal? Sabemos que somos dos países onde as pessoas se sentem mais infelizes e menos confiam umas nas outras, uma armadilha social típica de sociedades desiguais. Isto está tudo ligado? É tudo infinitamente mais complicado, tão complicado que é impossível identificar padrões e mecanismos com alguma segurança? Alguns psiquiatras têm aflorado estas questões nos jornais, mas de forma muito impressionista.

3 comentários:

good churrasco ó auto de café.... disse...

eu diria que somos um país de drogados

benzodiazepinas

barbituratos

para dormir para viver dormindo
e para dormir vivendo

analgésicos para tirar dores de treta
pedra no rim pacotes de 60 comprimidos
infelizmente atacam o estômago
omeprazol

doi-me a cabeça oferecem-me um comprimidozito

as malinhas das senhoras do ADSE
têm sempre um cocktail

vai-se à caixa com dores nas cruzes
dois pacotes de analgésicos

tratam-se e abafam-se as dores
não as causas das dores

depois a dor necessita de ser crónicamente apagada

muito muito
e quanto mais velhos
verdadeiras farmácias acumulam

e os HOSPOR's estão cheios ADSE
ADME GNR PSP tipos das empresas camarárias com cartão pago

o menino tem febre vai-se ao Hospor para receitar aspirina

são só 3,99euros
mais barato que no público

Manuel Rocha disse...

Isto pode ser um exemplo clássico para distinguir correlação de causalidade. A explicação pode muito bem ser outra, pode por exemplo ter a ver com as tradições da prática clinica, não ?

Francisco Torres disse...

...quer dizer que, quem tenha dinheiro para pagar psiquiatra=depressivo/feliz...quem não...está f....perdoem-me o subentendido.
Cumprimentos e parabéns pelo vosso blogue.
Francisco Torres