quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Crise no Trabalho Doméstico


Muitos dos efeitos da actual crise e suas assimetrias, são quase invisíveis no espaço público. Por isso, pedi umas breves notas à Vanessa Blétière, investigadora na área do trabalho doméstico assalariado e activista do Grupo de Apoio à Mulher Imigrante. Muito obrigado.

"Segundo dados da Organização Internacional do Trabalho, em 2008, existiam cerca de 100 milhões de trabalhadoras(es) domésticas(os) a nível mundial. Número considerável sobretudo quando estão em causa questões como a precariedade e a invisibilidade, típica de uma ausência de reconhecimento social, e que se traduz na violação constante dos direitos das empregadas domesticas; número, igualmente, considerável para que se perceba a importância que esta actividade adquiriu no seio do trabalho assalariado. O elevado número de trabalhadoras(es), numa área de trabalho maioritariamente feminino, sem perspectiva alguma de carreira nem processo de profissionalização e onde a protecção social é claramente insuficiente constitui os ingredientes de um cenário dramático.

Ao mesmo tempo que o crescimento da procura e da oferta de empregadas domésticas sublinha a importância que esta actividade ganhou junto das famílias, em momentos de crise como esta será uma das primeiras a ser dispensada. Os vestígios estão à vista: já em Junho de 2010, o DN publicava uma notícia que denuncia a crise no trabalho domestico.

Preciso é reconhecer que estas mulheres, que um dia trataram dos nossos lares, continuam a lutar por um trabalho digno, por maior protecção; muitas delas poderão não ter acesso ao subsídio de desemprego; reconhecer que uma grande parte destas mulheres, sobretudo as imigrantes, que sentem já violados os seus direitos, verão piorar a sua situação; lembrar que algumas foram antigas criadas internas que nunca conheceram outro tipo de trabalho nem... outra casa e poderão ser forçadas a abrir mão de um salário; lembrar que menos horas de serviço, por um preço mais baixo, diminui o poder de compra deste exército de mulheres. Reconhecer que a crise afecta a todos e sobretudo os mais desprotegidos (ou, neste caso, as mais desprotegidas).

Vanessa Blétière"

5 comentários:

tempus fugit à pressa disse...

Ao mesmo tempo que o crescimento da procura e da oferta de empregadas domésticas sublinha a importância que esta actividade ganhou junto das famílias?

Dezenas de milhares de reformados do sector público com pensões da ordem dos 1500 a 1800 euros
e funcionários no activo
foram os grandes fomentadores da importação de trabalhadoras
do Brasil e do leste
Tal como os Suiços e franceses
utilizaram portuguesas e espanholas
nos anos 60 e 70

Essencialmente assistiu-se a um aburguesamento da sociedade
que trocou por tempos de lazer
o que consagrava às tarefas domésticas

a 500 e 600 euros por cabeça
5000 a 6000anuais
umas 50mil empregadas domésticas
foram 300 milhões de divisas que exportámos por ano

obviamente haverá crise

dona de casa disse...

peço desculpa , mas você sugere que eu peça um empréstimo ( o dinheiro , com a crise , não dá para esses luxos , e a mim , se os anéis se forem , ni fu ni fa , gosto de ter dedos )ao banco para pagar o salário de uma empregada doméstica que faz um trabalho que eu mesma posso fazer?
está tudo doido.
é isso que vêm dizendo neste blog de há uns tempos para cá , não é?
ainda bem que falou nas empregadas domésticas. uma dona de casa sensata jamais pediria um empréstimo ao banco ( investimento público) para tarefas que ela bem pode fazer.
só converso com homens que geriram as tarefas e o orçamento de uma casa. sózinhos. quantos há , aqui nos ladrões? sejam cavalheiros e respondam a esta simples pergunta : quantos de vocês são responsáveis máximos pela gestão do vosso lar?

Alexandre Abreu disse...

Telegraficamente:
1º Em resposta ao primeiro comentador: em vez do 'aburguesamento' da sociedade portuguesa, o que esteve em causa em termos de longo prazo foi, por um lado, a entrada massiva das mulheres no mercado de trabalho e, por outro, os processos de urbanização e envelhecimento da sociedade portuguesa. Tudo isto aumentou a procura e reduziu a oferta de trabalho doméstico. A diferença tem vindo a ser suprida principalmente por mulheres imigrantes, no contexto de um mercado de trabalho segmentado em que os imigrantes (e as imigrantes ainda mais), por uma série de razões, beneficiam de direitos legais e morais muito inferiores aos autóctones.
2º Em resposta à segunda comentadora: acaso leu o post? É que o seu comentário não tem mesmo nada a ver com o que lá vem escrito... Por outro lado, desde quando é que a validade dos argumentos depende de especulações bacocas acerca da situação individual de quem os profere?
3º Parabéns pelo texto, Vanessa.

Anónimo disse...

"...divisas que exportámos por ano".
a concepção de economia desta gente é uma batata...

dona de casa disse...

peço desculpa ,señorito Alexandre , mas eu li o post. percebi que a Vanessa é muito boazinha , tipo carmelita da esquerda , mas soluções não religiosas de caridadezinha não aponta nenhuma. e eu sou ateia. ateia mesmo , acredito tanto em religiões laicas como nas tradicionais. suponho que a Vanessa é novinha. eu também já fui crédula e boazinha. passou-me.infelizmente. as crenças confrontadas com a realidade vão-se num ápice , numa pessoa normal , digamos.