quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Tanques há muitos

O «tanque» do PS tem um blogue. Com nomes de peso. Da neoliberal teoria da escolha pública à esquerda socialista, passando pelo ordoliberalismo e pelo social-liberalismo da defunta Terceira Via. Sejam bem-vindos. A referência a Outubro está bem apanhada, mas acho que o seu evolucionismo acrítico pode ser enganador: «Outubro de 1917, quando a alternativa de esquerda ao capitalismo liberal se começou a concretizar com a tomada de posse, em Estocolmo, no dia 19, na sequência de eleições democráticas, do primeiro governo com participação do Partido Social-Democrata Sueco (em coligação)».

Espero que os intelectuais orgânicos do PS recuperem Rudolf Meidner e o melhor da tradição igualitária sueca. Pena é que o governo da esquerda moderna esteja apostado em pulverizar ainda mais as relações laborais. Lá se vai a possibilidade de alguma vez termos estruturas centralizadas de determinação das normas salariais e outras. Pelos vistos continua a apostar-se numa social-democracia mais liberal com umas referências vagas à regulação que, a este nível de generalidade, podem ser subscritas por qualquer adepto atento de Hayek ou dos ordoliberais alemães.

E que tal deixar de parar à porta da empresa capitalista e voltar a discutir alterações na repartição dos direitos e obrigações que dêem mais voz e poder aos trabalhadores? E que tal voltar à defesa da propriedade pública como pilar insubstituível de um efectivo controlo de sectores considerados estratégicos ou como única forma de assegurar o bem comum na gestão de monopólios naturais? E que tal voltar a discutir um novo imposto sobre as sucessões e doações, a total abolição do sigilo bancário, a forte taxação das mais-valias para acabar com a especulação fundiária ou um novo escalão de IRS? E que tal voltar a discutir novas formas de planeamento, capazes de superar a atomização mercantil e de assegurar a coordenação dos investimentos, para garantirmos, por exemplo, os postos de trabalho verdes do futuro?

Uma social-democracia mais socialista focada nas instituições da economia depois de uma longa colonização deste campo por todas as direitas. Quem controla o quê e porquê? As dinâmicas de mercadorização e, sobretudo, de desmercadorização. Onde param os mercados? Acho que há muita coisa para rever e novas linhas para traçar. No imediato, é preciso tirar Keynes da gaveta. Política económica como único meio para combater o brutal aumento do desemprego e para garantir, com controlos capitais, que a especulação não leva a melhor sobre a empresa. «Socialização do investimento» e «eutanásia do rentista».

E que tal parar de insistir no Tratado de Lisboa que proíbe qualquer avanço nesta área à escala europeia? Um Tratado que se limita a cristalizar uma arquitectura económica que levou à total erosão da social-democracia. A actual crise tornou-o totalmente obsoleto. Há hábitos intelectuais que são difíceis de abandonar nesta área. É o conservadorismo de quem aceitou o fim da história. E agora apoia um governo da esquerda moderna que continua mais interessado em expandir a Res Privata, deslocando as discussão das políticas públicas cada vez mais para a direita. Espero mesmo que o tanque não sirva só para lavar as políticas públicas dominantes no governo.

No fim, fica a pergunta do historiador Perry Anderson: «Outrora, nos anos fundadores da Segunda Internacional, [a social-democracia] tinha por objectivo o derrube do capitalismo. Depois tentou realizar reformas parciais concebidas como passos graduais para o socialismo. Finalmente, passou ser favorável ao Estado-Providência e ao pleno emprego no quadro do capitalismo. Se agora aceita a destruição do primeiro e o abandono do segundo, em que tipo de movimento se irá tornar?». Isto foi escrito em 1994. A resposta não tem sido famosa…

3 comentários:

Anónimo disse...

Nunca li tanta parvoíce

Anónimo disse...

"Nunca li tanta parvoíce"

Quanto à sua resposta: eu nunca li tão pouca ...

Pedro Sá disse...

Para vermos os erros que aqui se defendem:

1. Centralização. Seja ela para o que for.

2. Não sei o que seriam direitos e obrigações que dessem mais voz e poder aos trabalhadores. Isso é falar vazio. E não me venham com a conversa dos sindicatos que eles são cada vez menos representativos. E por culpa própria, diga-se.

3. Já está mais que provado que mesmo em monopólios naturais chega perfeitamente a regulação. A vocação do Estado não é gerir empresas.

4. O imposto sobre sucessões e doações era um anacronismo considerando a brutal evolução da distribuição da propriedade imóvel. Ah pois é, vocês no BE são contra a compra de habitação própria acham que arrendar é melhor.

5. Se taxar fortemente as mais-valias ninguém vai investir. E sabe-se no que isso dá.

6. Um novo escalão de IRS deve ser a única coisa com pés e cabeça que está aí escrita. Mas também...para quê ? Para mais meia dúzia de trocos porque seria aplicável a meia dúzia de pessoas ?

7. Coordenação de investimentos ? Vamos supor que eu seria empresário. Estaria no meu direito de não querer coordenar investimentos com seja quem for e de não ser penalizado por isso ! Ah pois é, para vocês a liberdade de iniciativa económica é algo a banir...

8. Focada nas instituições da economia ? Eu bem digo que os marxistas são como os liberais, só pensam em dinheiro e em economia DASS !

9. Essa do combate ao desemprego a todo o custo em prejuízo do desenvolvimento só causa miséria.

10. O que vocês querem é impor por via europeia o que não conseguem nem conseguirão pela via nacional.

O marxismo deve MORRER e quanto antes !