«É preciso que se diga, com clareza e com distanciamento, que as nacionalizações de 1975, na banca como nos outros sectores, foram a saída que permitiu evitar o caos social. Não só porque muitos dos proprietários das empresas as abandonaram descapitalizadas mas, sobretudo, porque a revolução política que se viveu em 25 de Abril de 1974, para se concretizar, tinha obrigatoriamente implicações na organização económica e social do país. O que implicava o Estado assumir as responsabilidades do processo, sob pena do colapso da economia portuguesa» . Oportuno artigo de São José de Almeida no Público de Sábado.
Os trabalhos de investigação sobre as nacionalizações da banca (em 1975…), que sei que estão em curso, lançarão certamente nova luz sobre este processo. E talvez possam abrir uma agenda de investigação crítica que nos ajude a compreender melhor o predatório processo de construção de grupos privados eminentemente rentistas associado ao ininterrupto ciclo de liberalização da economia portuguesa das últimas duas décadas. Temos de ser capazes de reconstituir as decisões e os processos históricos que nos colocaram no actual buraco económico. Tarefa de historiadores com conhecimentos de economia política ou de economistas políticos com conhecimentos de história.
Algumas das pessoas em que eu estou a pensar dinamizam este congresso internacional sobre o pensamento de Karl Marx e são os principais protagonistas deste seminário internacional sobre a tradição autonomista italiana. Uma semana cheia. Estes dois promissores eventos assinalam a afirmação de um novo e sólido pensamento radical no nosso país. A conversa como aprendizagem, que começa com discordâncias teóricas de fundo e acaba em convergências no que importa, não tem fim.
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2 comentários:
"Na verdade, eu inverteria ambas as proposições: a revolução portuguesa parece-me ter sido causada pelos problemas estruturais portugueses agravados antes da revolução pela recessão económica. Problemas estruturais como a estagnação do produto agrícola, a dependência de exportação de mão-de-obra, e das respectivas remessas do turismo e dos excedentes coloniais, culminando com a estruturação de planos de desenvolvimento industrial baseados no fornecimento abundante de petróleo barato. Portanto, quem insiste nos chamados «excessos» da revolução, arrisca-se a lidar com sintomas em vez de causas, e a encorajar um saudosismo a um tempo distorcido e perigoso.
Muitos dos problemas que ocorreram após 1975 teriam aparecido como ou sem as acções dos políticos."
Maxwell, Kenneth, “A evolução contemporânea da sociedade portuguesa in "2ª Conferência Internacional sobre Economia Portuguesa", Fundação Calouste Gulbenkian/The German Marsall Fund of the United States, Lisboa, 1980
Está quase João, está quase.
E ainda, o relatório de Dornbusch, Eckaus e Taylor, economistas do MIT ao serviço da OCDE:
"For a country experiencing thorough social reform, a major change in its foreign trade position, and six revolutionary governments in nineteen months, Portugal enjoys unexpectedly good economic health. While real output clearly dropped in 1975, the decline was not precipitous; the best estimate is a 3 percent decrease in gross domestic product. By comparison with other OECD countries, the Portuguese experience does not appear to be much worse than average; in fact the economy’s performance has been quite robust when the political uncertainties of 1975 are taken into account. By comparison, GDP decline in 1975 for the United States was about 3 percent; in West Germany, close to 4 percent; and in Italy, almost 4,5 percent.”
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