sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Contas à moda da PAF


«O problema do PSD é que tem um triplo problema. O primeiro é de credibilidade. Porque sempre que o PSD propôs um "choque fiscal" nunca o realizou e a maior parte das vezes acabou a subir impostos. O segundo, que também é de credibilidade, é o das contas que agora apresenta. O Dr. Joaquim Miranda Sarmento acaba de dizer que se baseou no cenário do Conselho de Finanças Públicas e no diagnóstico que faz dos problemas do país em termos de produtividade. Porém, o cenário macroeconómico do PSD tem uma produtividade abaixo da do Conselho de Finanças Públicas. E, portanto, o terceiro é talvez para mim o mais relevante. A sensação que dá é que o Partido Social Democrata somou todas as medidas do lado da despesa, que queria implementar, e depois pôs o país a crescer o que era preciso para fazer essas medidas. Não há nenhum organismo internacional que preveja, seja de que forma for, níveis de crescimento da economia, a nível europeu e dos nossos principais parceiros, alinhados com o que o PSD faz. Ora, se não nos baseamos nos factos, mas sim naquilo que queremos prometer, e depois martelamos o resultado para parecer verdade, temos um problema sério de credibilidade que, aliás, não é novo. E por isso, sempre que o PSD governou fez o contrário daquilo que tinha no seu programa».

Mariana Vieira da Silva (debate com Joaquim Miranda Sarmento, na CNN).

Para quem já tinha saudades dos delírios, farsas e ilusões da PAF, o cenário macroeconómico da AD para próximas legislativas é um mimo. Eis, de novo, o milagre expansionista que a «fada da confiança» fará acontecer, numa explosão de crescimento que nem queiram saber. Desta vez, e estando em campanha eleitoral, o foco está na redução dos impostos, num «choque fiscal» que não coíbe o anúncio de aumento das despesas sociais nem da redução da dívida. O melhor de todos os mundos, como Ricardo Paes Mamede oportunamente aqui assinalou, nos termos da estafada economia do pingo, com «mais uma enorme transferência garantida para o capital rentista, à espera do eventual crescimento», com efeitos mais do que duvidosos do ponto de vista empírico, como o Tiago Santos aqui bem lembrou.

Previsões económicas são o que são e valem o que valem, claro. Mas não deixa de ser espantoso, de facto, que a AD estime, com a sua fórmula mágica, uma taxa de crescimento de Portugal de 3,4% em 2028, quando o FMI, por exemplo, aponta para um crescimento de 1,9% nesse ano (2,0% no caso do cenário macroeconómico apresentado pelo PS), e de 1,7% no caso da UE27. Ou seja, apenas três países, segundo a AD, atingiriam um crescimento acima do que estimam para Portugal. É uma perspetiva super credível, não é?

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