sábado, 5 de março de 2022

Como se estivéssemos nos anos noventa do século passado


«"Está na altura de entrar em modo emergência" escreveu António Guterres numa mensagem, conhecida esta segunda-feira numa conferência organizada em Lisboa, sobre a necessidade de reduzir as emissões carbónicas. O secretário-geral das Nações Unidas sublinhou estar previsto que as emissões globais aumentem 14% durante a década e apelou a "uma avalanche de ação".
A notícia que li não refere se o presidente da autarquia da capital estava presente na conferência do Clube de Lisboa, onde a mensagem foi ouvida, mas seria interessante saber, ao fim de quatro meses em funções, que tem a dizer sobre a matéria - já que não se lhe conhece qualquer plano nesse sentido.
Aliás, minto: os planos que conhecemos, anunciados no seu programa eleitoral e dos quais não há notícia de ter desistido, vão despudoradamente no sentido de contribuir para que se use mais o transporte individual: cortar para metade o preço do estacionamento para os residentes, tornando-o inclusive grátis nos primeiros 20 minutos, e encher a cidade de silos automóveis. Tudo medidas que incentivam não só a circulação automóvel como até a aquisição dos mesmos (estacionamento fácil é um óbvio incentivo).
Para além disso, como tornou claro há meia dúzia de dias, em discurso na Câmara do Comércio Americana, um dos seus principais objetivos é, tal qual como se estivéssemos nos anos noventa do século passado, "escoar trânsito" - nomeadamente no centro da cidade e num local no qual o seu antecessor tinha planeado situar uma das fronteiras de uma zona de emissões reduzidas (ZER).
(...) Tudo ao contrário do que era suposto. E a demonstrar que a cidade dos 15 minutos de Carlos Moedas se refere afinal ao tempo que levou a pensar nela
».

Fernanda Câncio, A Câmara dos 15 minutos

Adenda: Confirma-se entretanto que Moedas vai mesmo pôr na gaveta o plano do seu antecessor, Fernando Medina, para tirar carros da Baixa de Lisboa. E como se não bastasse, o atual presidente conseguiu ainda ver aprovada a promessa eleitoral de reduzir o preço do estacionamento para os residentes na capital, suscitando fortes críticas dos especialistas em mobilidade. «Não conheço nenhuma cidade europeia que tenha uma medida deste género», declarou um urbanista ao Expresso.

6 comentários:

Anónimo disse...

A esquerda anda completamente perdida devia ser a primeira a reconhecer que é completamente ilegítimo pagar para estacionar num espaço público, mas não, defende que a utilização do carro deva ser uma questão de classe, que vergonha...É por estas e outras parecidas que a esquerda neste país é cada vez menos intelectual e mais incapaz.

jose duarte disse...

Mas, qual é mesmo o programa de Moedas para Lisboa???
Acho que nem o PSD sabe??

Anónimo disse...

A esquerda anda completamente perdida devia ser a primeira a reconhecer que é completamente ilegítimo pagar para estacionar num espaço público, mas não, defende que a utilização do carro deva ser uma questão de classe, que vergonha...É por estas e outras parecidas que a esquerda neste país é cada vez menos intelectual e mais incapaz.

Augusto disse...

Quem aprovou ? O Moedas tem 7 vereadores em 17 ...

Carlos Marques disse...

Primeiro criam-se as alternativas: mais transportes colectivos, de preferência gratuitos, não só dentro da cidade, mas acima de tudo na viagem entre a habitação na periferia e o emprego no centro. E de preferência com lugares sentados e em segurança, em vez de de em pé como sardinhas em lata onde a única "segurança" é a mão esticada no ar a agarrar-se ao que apoio que ainda estiver livre. Além disto, ciclovias seguras e bem interligadas a todos os pontos da cidade, e passeios mais largos (adorava ver ramblas em Portugal, como se vê em Espanha e na Catalunha em particular) com mais árvores, que são sombra no verão e captadores de carbono o ano todo.
Só depois se passa para a fase da exclusão dos carros, sempre com cuidado para não estragar a vida a quem precisa mesmo dele. Aí sim é altura de restringir o automóvel de maneira a que progressivamente as pessoas usem a capacidade instalada.
Se fizerem assim, o povo gostará da transição e estará ao lado dos que se dizem verdes.

Pelo contrário, se insistirem na arrogância (muito típica de €uropeístas "verdes" que só conhece a sua bolha de opinião e de estilo de vida em certos bairros da cidade), teremos mais disto: autarcas "ecologistas" como Medina a serem corridos pela população, e amigos dos carros como Moedas a serem eleitos.
A transição faz-se ao lado das pessoas, com urgência mas sem radicalismos, com soluções para as pessoas e não impedimentos contra as pessoas.
Colocar o carro à frente dos bois (proibir carros em certas zonas sem criar primeiro soluções alternativas apelativas, tem tudo para correr mal.
Portanto, menos arrogância, e toca a aprender com os erros, em vez de criticar aqueles que se aproveitam dos erros, pois, claro está, só se puderam aproveitar porque em primeiro lugar os erros foram cometidos.

Ah, e colocar as autarquias ricas (como Lisboa) a pagar essas medidas do seu próprio bolso, em vez de continuar a actual situação em que os ricos de Lisboa têm IMI reduzido, os passes sociais dos seus trabalhadores e pobres são comparticipados com impostos do país inteiro, e esse país inteiro fora das áreas metropolitanas, nem tem transportes, nem centros de saúde abertos 24h/dia, nem saneamento básico sequer! Mas tem de pagar mais impostos nos combustíveis e IMI máximo (caso contrário essas autarquias não têm dinheiro nem para mandar cantar um cego), e no final são quem paga o privilégio de quem vive na metrópole, e são quem ajuda a aliviar as contas das autarquias mais ricas, que fazem o que já disse no início: IMI mínimo nos bairros das mansões.
Caso não façam isto, para além de perderem as autarquias para os oportunistas graças aos vossos próprios erros nascidos da vossa cegueira e arrogância, perdem também os eleitores fora das cidades de forma permanente em eleições legislativas.

Abram os ouvidos, e aprendam, pois quem vos avisa, vosso amigo é.

Anónimo disse...

É evidente que em muitos casos os parquímetros são dissuasores do uso de transportes públicos.
Um casal da zona de Cascais que queira ir a Lisboa prefere pagar o parquímetro durante 6 horas em Cascais e gastar mais 10 euros de comboio para ir a Lisboa ou simplesmente pagar o parquímetro apenas em Lisboa? O que é mais barato, mais prático, e mais rápido? Como este há outros exemplos em que não compensa em nada usar os transportes públicos porque não há maneira de fazer uma boa ligação entre o uso do carro e dos transportes.