Onde estão hoje os liberais que, tal como Keynes ou Beveridge, do final dos anos 1920 aos anos 1940, e perante o fascismo, compreenderam que as liberdades públicas só se salvam e aprofundam se se abandonar o liberalismo económico em todas as escalas, promovendo o pleno emprego, a provisão pública de bens e serviços fundamentais e a redução substancial da desigualdade e da insegurança sociais? Em Portugal, tais liberais não existem. Só temos mesmo direito a liberais até dizer chega. Face às iniciativas liberais de tantos partidos, é necessário organizar a mais ampla frente, tão antifascista quanto antiliberal. Em 1943, um notável economista político polaco chamado Michal Kalecki, cruzando Marx e Keynes, concluía de forma luminosa num tempo sombrio: «a luta das forças progressistas pelo emprego é, ao mesmo tempo, um meio de impedir o retorno do fascismo». Há coisas que não mudam.
Assim termina o artigo – Liberais até dizer chega – no Le monde diplomatique – edição portuguesa. Não exploro as razões para este padrão de intensificação das pressões ideológicas para a liberalização económica, tema para próximo artigo, possivelmente.
Estou convencido que a perda de instrumentos de política económica na escala onde está a democracia, a nacional, determinada pelos termos da integração europeia aceites por elites compradoras, explica uma parte muito importante da permanente viragem para a direita. Daí que a recuperação da soberania, de margem de manobra nacional, seja a ideia mais radical de que dispomos, no campo da política económica, para travar a marcha do comboio rumo ao abismo, para superar uma forma de economia política neoliberal já com mais de três décadas.
Sem comentários:
Enviar um comentário