Estando à volta dos 3%, os juros que o ‘mercados’ ‘exigem’ pelo refinanciamento da dívida pública já estão injustificada e escusadamente altos.
Assim sendo, neste cenário, o Estado estava a oferecer ainda mais meio ponto percentual para obter crédito numa, agora, bem, descontinuada linha de certificados de aforro. Para quê?
Seguramente que não era para assegurar que o Estado português se endividava apenas, ou sobretudo, ou primeiramente, junto de portugueses, porque restringir emissões de dívida a compradores nacionais violaria todas as normas europeias e mais algumas.
Aqueles juros já estiveram nos 17%, em 2012, sendo a dívida pública muito semelhante, em dimensão, ao que é agora. E, ainda com dívida pública de dimensão semelhante, também já pagámos aos tais ‘mercados’ zero% ou lá perto.
Pagar mais 0,5% do que já nos é imposto pela errada política monetária do BCE para quê? Para distribuir alguma riqueza pelo sector privado nacional? Pelos portugueses? Mas que portugueses? No ano passado, 56% dos trabalhadores recebiam um salário inferior a €1000. Nos mais jovens, a percentagem era de 65%. Estes portugueses têm meios financeiros para aplicar em dívida pública?
0,5% é despiciendo? Quanto é neste momento a dívida pública em % do PIB? - 113,9%. E o PIB? – 239,3 mil milhões de euros. E, então, a dívida em valor absoluto? – 272,6 mil milhões. E quanto representaria 0,5% disso? – 1,3 mil milhões. São trocos?
Repare-se que, recuperar na íntegra a base de cálculo das pensões para 2024, e impedir que aquelas perdessem valor real num contexto inflacionário representou para a Segurança Social um custo financeiro de cerca de mil milhões de euros.
Descontinuar aquela linha de certificados de aforro e substituí-la por uma que paga juros inferiores foi uma boa opção. Melhor seria financiar a dívida pública diretamente com o dinheiro criado pelo BCE para emprestar a quem empresta ao Estado português. E pagar 0% de juros.
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3 comentários:
O IRS que os CA pagam em Portugal não devia entrar nas contas?
Mas não é só os 0,5% ... em termos temporais e de limite houve alteração significativa. É certo que não é para todos os portugueses. Mas mais uma vez é a classe média que leva com mais um desincentivo à poupança.
Talvez eu pertença a uma minoria. Há muitos anos tinha as minhas poupanças todas em certificados de aforro. Eis que chegou um governo, creio que era do PSD, e vá de baixar os juros dos certificados. Fora com estes chulos! Era evidente que o objectivo era pôr a malta a colocar a massa nos bancos. Foi o que fiz. Saí também da CGD.
Entretanto veio a crise da dívida. Os bancos, mesmo levados ao colo pelos governos, faliram todos (de facto, não de direito, pelo menos alguns) e o estado faliu com eles.
Pergunto-me se aquela coisa de a dívida ser interna e não externa não é também um factor qualitativo. O Japão está endividado até ao pescoço, mas é aos japoneses. E ninguém fala no assunto e as agências de crédito ressonam.
Da minha parte o escaldão foi tanto que nunca mais voltei aos certificados de aforro. Perdi a confiança. A malta da imprensa, paga a preceito, andou a elogiar os certificados para ter de fazer meia volta - como era de esperar. Eu é que nunca mais lá voltei.
Veremos o que fazem e o que dizem se os juros aumentarem. Esta coisa portuguesa de olhar só para hoje e esquecer as incertezas do amanhã no geral não dá grande resultado. Mas somos assim e é deixar seguir a festa.
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